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Hospital nega ter feito diagnóstico de morte cerebral após cirurgia de lipo

G1

O diretor superintendente da Casa de Saúde de São Carlos (SP), Fernando de Lucca, afirmou em entrevista coletiva, nesta sexta-feira (18), que em momento algum foi constatado por nenhum médico do hospital que a manicure Nayara Patracão teve morte cerebral. A jovem de 24 anos teve uma parada cardíaca seguida de complicações durante uma lipoaspiração no último dia 7, em Descalvado e permanece em coma. Esta foi a primeira vez em mais de 10 dias que o hospital se manifestou e os dois neurocirurgiões envolvidos no caso se recusam a comentar o assunto.

A família afirma que o neurocirurgião Francisco Márcio de Carvalho foi quem diagnosticou a morte cerebral na jovem, mas ele não se pronuncia à imprensa por questão de ética médica. Contratado pela mãe da manicure para uma segunda avaliação, o neurocirurgião Admilson Delgado avaliou o estado da jovem na quarta-feira e descartou a morte cerebral. Mas ele também não comenta o caso.

Lucimara Francischini, mãe da paciente, conta que foi angustiante receber a notícia. “No domingo (14), eu estava aqui e me chamaram na UTI. O médico me disse que ela estava caminhando para a morte cerebral. O doutor Francisco Márcio de Carvalho ligou na minha casa no domingo à noite e falou que eles estariam fazendo todos os exames, como tomografia, e que o edema dela aumentou muito em vez de regredir. Perguntei se era caso de uma cirurgia, e ele falou que estudariam o caso. Ele falou que ela estava em morte cerebral e que não tinha mais o que fazer”, relata a mãe.

A Casa de Saúde se defende com a explicação de que chamou o neurologista que estava de plantão para dar suporte ao quadro e fazer uma avaliação. “Se por acaso alguém deu uma informação, pode ter sido um médico de fora do quadro, a Casa não emitiu esse parecer”, garante Lucca.

Nayara realizou uma cirurgia para a retirada de gordura na região das costas e, segundo o cirurgião plástico responsável pela operação, Vicente de Paula Ciarrochi Júnior, ela teve uma parada cardíaca após quatro horas e meia na maca. O estado da jovem ainda é considerado bastante grave. Ela permanece ligada a aparelhos, o que mantém sua respiração e batimentos cardíacos.
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Protocolo
Segundo o professor do curso de medicina da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) Francisco Vale, o procedimento para diagnóstico de morte cerebral é normatizado e não pode ser feito por um único médico. “Normalmente, são exigidos três médicos para fazer avaliação. E tem que haver uma concordância desses médicos”, afirma.

Além dos critérios clínicos neurológicos, Vale explica que há dois exames obrigatórios que devem ser feitos antes que o diagnóstico de morte cerebral seja fechado. “Um deles é o eletroencefalograma e o outro é o de angiografia cerebral, para medir a circulação no cérebro”. No caso de Nayara, o hospital não confirmou se esses exames foram feitos.

Responsabilidade
O professor da UFSCar diz que a morte cerebral é o diagnóstico de maior responsabilidade que se pode ter em medicina. “Ele é irreversível, por isso é tão criterioso e tem que ter um tempo de observância de pelo menos 24 horas nessa condição”, explica.

Segundo ele, o ideal é que a família já saiba desde o princípio, que a junta médica avalia o quadro nesse sentido. “Mas é preciso salientar que será feita uma investigação para o diagnóstico de morte cerebral e que ele só é fechado com a opinião de todos os médicos”, finaliza.
A manicure Nayara Patracão teve parada cardíaca durante lipoaspiração em Descalvado (Foto: Arquivo Pessoal)Nayara Patracão teve parada cardíaca durante
lipoaspiração (Foto: Arquivo Pessoal)

Nova avaliação
Segundo o diretor superintendente da Casa de Saúde, Nayara Patracão vai passar por outra avaliação, agora por uma nova junta médica formada por quatro neurocirurgiões. “O resultado deve sair em até 24 horas, mas só será divulgado se a família autorizar”, afirma Lucca.

Choro
Na quinta-feira (16), a mãe de Nayara ficou meia hora com a filha na UTI. Foi a primeira visita depois que a junta médica contratada pela família descartou a morte cerebral. “Quando eu falei que ela precisava acordar para a gente batizar o Kauê, ela reagiu e chorou”, comemora Lucimara.

Entretanto, durante a coletiva o diretor do hospital disse que esse tipo de reação no paciente em coma é comum. “Pacientes da UTI, todos eles em algum momento choram. O correr dessa lágrima é decorrente de um produto usado naqueles pacientes que não têm movimento de pálpebras. Resta saber se isso é uma reação emocional ou se é uma melhora”, afirma.
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