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'O mercado erótico nasceu em SP', afirma dono de sex shop no Centro

G1

"Agora dá licença que o Ayrton Senna chegou”, diz Daniel Ribeiro aos funcionários quando decide atender aos clientes. Fã do piloto, a comparação é usada como sinônimo de excelência. Administrador de dois sex shops em São Paulo, hoje ele exerce pouco a função de balconista. Um dos encarregados da venda e indicação dos produtos eróticos é seu filho primogênito, Danilo.“Esse aqui é filho do Darme”, revela, orgulhoso, apontando para o rapaz de 25 anos.

(A trajetória de Daniel Ribeiro é parte da cidade que chega aos 459 anos nesta sexta (25). Para celebrar o aniversário de São Paulo, o G1 conta a história de 25 paulistanos de origem ou "adotados" pela metrópole.)

Daniel começou no segmento por acaso. Em 1984, aos 22 anos, após deixar o cargo de supervisor de caixa em um supermercado paulista, soube por um amigo que uma rede de produtos eróticos estava contratando vendedores. Começou a trabalhar na Complemet, a pioneira do Brasil no segmento, lavando banheiros. “No primeiro dia fizeram um teste comigo e me mandaram lavar o banheiro. Depois fui balconista e supervisor de vendas. Fiz carreira e cresci rápido, era quem mais vendia das 32 lojas”, gaba-se.

Quando o dono da rede resolveu encerrar o negócio, ofereceu a Daniel o ponto comercial do Centro de São Paulo. Propôs que ele pagasse US$ 10 mil, parcelado informalmente em dez vezes. Localizada no cruzamento da Avenida Ipiranga com a Avenida São João - local alçado à poesia na música de Caetano Veloso - a loja é apontada por ele como o mais antigo sex shop do país. "O mercado erótico nasceu em São Paulo. O mercado do Brasil nasceu aqui."

A herança o faz propagar o título de “mestrado em produtos eróticos”. Logo após assumir a loja, o empresário rebatizou o comércio. Abreviou seu nome e viu que funcionava como trocadilho. “Daniel Aparecido Ribeiro Micro Empresa: Darme. Dar-me prazer, Dar-me produtos”, explica.

Nascido em Nova Granada, no interior de São Paulo, ele não sabe dizer se completou o ensino fundamental. Sem muito estudo, mas com talento para os negócios, chegou a ser dono de oito lojas da Darme. Problemas administrativos o levaram a reduzir o patrimônio, agora restrito a dois pontos: um no Centro, considerada por ele como “Clube do Bolinha” por conta da demanda masculina, e outro na Penha, Zona Leste da cidade, que atende ao público feminino, além da loja virtual.

Para o empresário, São Paulo foi o berço do mercado erótico. Ele acredita que em outra cidade não teria conseguido vingar no ramo. “Fui alvo de muito preconceito, mas isso seria infinitamente pior em qualquer outro local. Tenho amor e gratidão por essa cidade. Aqui é coração de mãe, tem espaço pra todo mundo. Vendo muito bem no dia dos namorados, Natal, Dia das Mães - muitos maridos presenteiam suas esposas nessa data com presentes de sex shop - e na época da Parada Gay.”

Além de sustento, as lojas lhe rendem boas histórias. Para viver no balcão de um sex shop é preciso desprendimento. Mais fundamental, porém, é saber controlar a risada. “O assunto único aqui é sexo. As pessoas não conseguem comprar um produto sem dar uma justificativa ao vendedor. Tem gente que conta a vida, usa a velha história do amigo, ou acha até que a gente é médico. Já passei por situações constrangedoras”, diverte-se.

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