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Advogados divergem sobre profissão de amante de Matsunaga

G1

O depoimento de Nathalia Vila Real Lima, amante de Marcos Matusanaga, foi marcado pela divergência entre os advogados sobre a profissão da testemunha. Os defensores de Elize Matsunaga, ré confessa do assassinato, afirmam que ela trabalhava como garota de programa e apresentaram fotos da jovem em um site de acompanhantes. O advogado que representa Nathalia diz que ela é modelo, não trabalhou como prostituta e tinha um relacionamento amoroso com o executivo da Yoki.

A defesa de Elize apresentou a reprodução de uma página de um site de acompanhantes, o mesmo através do qual Marcos conheceu Elize. Em seu primeiro depoimento, em junho de 2012, Nathalia chegou a afirmar para a Polícia Civil que trabalhava como acompanhante de executivos e que conheceu Marcos na internet. Depois, retificou a declaração e disse ter um romance com o empresário.

Nathalia foi ouvida em uma audiência de instrução do processo que apura o assassinato ocorrido em 19 de maio de 2012. Durante seu depoimento nesta quarta-feira (30), no Fórum da Barra Funda, Nathalia foi questionada pelo advogado de Elize, Luciano Santoro, sobre as supostas contradições em suas declarações. Santoro usou a reprodução do que ele afirma ser o anúncio de Nathalia no site MClass. Na época, ela utilizava o apelido "Lara", segundo o defensor.

Já o advogado Roberto Parentoni, que representa Nathália, criticou o que considerou ser uma tentativa de "desqualificar" sua cliente e afirmou que as fotos foram publicadas no site sem autorização. Ele disse que a modelo chorou ao ser confrontada com o anúncio. Segundo o defensor de Nathalia, ela não trabalhava como prostituta e mantinha um relacionamento amoroso com o executivo.

Na audiência realizada no Fórum da Barra Funda, na Zona Oeste de São Paulo, Nathalia foi a primeira a ser ouvida pelo juiz Adilson Paukoski Simoni, da 5ª Vara do Júri. Ela chegou ao fórum pouco antes das 10h e prestou depoimento até 12h30. O interrogatório de Elize começou por volta das 13h40.

Parentoni afirmou que, durante o interrogatório, a defesa tentou desqualificar sua cliente. Segundo ele, foi insinuado que ela seria uma prostituta. "A tentativa de prova foram fotos desse site (MClass), só que antes de apresentarem as fotos, nós já havíamos notificado o site para tirarem", disse. "Elas foram colocadas sem a autorização da Nathalia", disse. O advogado nega que ela tenha trabalhado como prostituta.

Para Parentoni, a defesa "deu um tiro no pé" ao tentar provar que Nathalia atuava como prostituta. "Em 22 anos de profissão, eu nunca vi isso", disse. "Infelizmente a gente vê que a mulher às vezes é malvista, mal-interpretada por situações. Se é machismo, eu não sei", disse.

"Ela chorou bastante, não só por relembrar tudo que ela passou, mas também pela forma que ela foi tratada pela defesa", disse.

Em seu depoimento, de acordo com Parentoni, Nathalia confirmou que estava como Marcos no dia anterior ao crime. Ela negou ter sido presenteada por Marcos com um carro e que somente recebeu apoio para blindar o veículo.

Depoimento longe de Elize
A pedido de Nathalia, ainda segundo o TJ-SP, Elize Matsunaga - acusada de matar e esquartejar o empresário do ramo alimentício após descobrir a traição do marido com a modelo - será mantida fora da sala de audiência. Elas deverão ser ouvidas separadamente.

A bacharel em direito Elize Araújo Kitano Matsunaga está presa preventivamente. O crime foi cometido em 19 de maio de 2012 no apartamento onde o casal morava com a filha de um ano, na Zona Oeste da capital paulista.
Advogado da família de Marcos quer que Elize só seja ouvida após exumação (Foto: Letícia Macedo/G1)Advogado da família de Marcos quer que Elize só
seja ouvida após exumação (Foto: Letícia
Macedo/G1)

O advogado Luiz Flávio D'Urso, contratado pela família de Marcos, chegou a pedir que Elize fosse ouvida apenas após a exumação do corpo da vítima, que estaria prevista para os próximos dias. Entretanto, o depoimento foi mantido para o período da tarde.

Terceira pessoa
Pela manhã, ao chegar ao fórum, o promotor José Carlos Cosenzo reafirmou ainda a tese da existência de uma terceira pessoa na cena do crime. "A certeza material nós temos, agora cabe ao Ministério Público e à polícia identificar essa pessoa.Temos um rol grande de suspeição, mas ele está se afunilando”, afirmou. De acordo com o promotor, o prédio que que moravam Marcos e Elize permite a saída de pessoas sem o registro pelas câmeras de segurança.

Também na entrada do Fórum da Barra Funda, o advogado de Elize, Luciano Santoro, afirmou, antes de entrar na sala de audiência, que a sua cliente foi orientada a falar a verdade. “Ela está ansiosa para falar”, disse.
Arte caso Elize Matsunaga (Foto: Arte G1)

Audiência de instrução
A etapa do processo realizada nesta quarta, chamada de audiência de instrução, servirá para o magistrado determinar nos próximos dias se há indícios suficientes para a acusada ser submetida a julgamento popular pelo crime. Nathalia prestará depoimento como testemunha e deverá contar como era a relação extraconjugal com Marcos.

Depois será a vez de a bacharel Elize ser interrogada na condição de ré para dizer como matou e cortou o corpo do marido em pedaços. Também estão previstas perguntas do defensor dela, o advogado Luciano Santoro, e do promotor José Carlos Cosenzo, representante do Ministério Público, e responsável por acusá-la.

Nathalia
Antes de se casar com Marcos, Elize trabalhou como prostituta. O empresário foi um de seus clientes e a conheceu por meio do site MClass. Em entrevista ao Fantástico, Nathalia afirmou que é modelo e negou ter conhecido Marcos na condição de garota de programa.

Em um depoimento ao Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), em junho, tinha falado que trabalhava como acompanhante de executivos e que conheceu Marcos na internet.

Em seu depoimento nesta quarta, Nathalia deverá confirmar ao juiz o que disse na entrevista: que Marcos tinha receio de Elize fazer algo contra ele, que o casamento do empresário estava em crise e que tinha uma amizade colorida com a vítima, desde quando a conheceu em 2011, em um evento de negócios.

Elize
Procurado, Santoro não comentou as declarações de Nathalia, que será questionada pela defesa nesta quarta. Para o defensor de Elize o crime foi passional. Segundo ele, sua cliente manterá na Justiça o que já havia dito à Polícia Civil: que agiu sozinha ao reagir a uma agressão de Marcos.

Na versão de Elize, ela revelou ao marido que pagou um detetive particular para flagrar a infidelidade dele com uma prostituta. Depois, Marcos a xingou, ameaçou tirar a guarda da criança dela, e matá-la caso fugisse com a menina. Pela primeira vez no relacionamento, ele deu um tapa no seu rosto. Em seguida, a bacharel pegou uma arma e atirou na cabeça do executivo, depois usou uma faca para cortar seu corpo, colocando as partes em sacos plásticos dentro de malas, jogando-as na Grande São Paulo. Os pedaços foram encontrados no dia 27 de maio.

A viúva, que inicialmente negava a autoria do crime, confessou o assassinato e está presa desde 5 de junho. Atualmente está detida preventivamente em Tremembé, interior de São Paulo. Segundo a defesa, Elize dirá ao magistrado que 25 dias antes do crime ligou para a Polícia Militar relatando que foi ameaçada por Marcos, e já estava pensando em separação. A conversa para o serviço 190 da PM foi gravada e faz parte do processo.

O Ministério Público discorda da defesa: diz que a mulher matou o empresário para ficar com o dinheiro da herança e do seguro de vida dele e que o crime foi premeditado. A Promotoria chegou inclusive a pedir a instauração de um novo inquérito policial para investigar a suspeita de que outra pessoa teria ajudado a bacharel no assassinato.

Para Cosenzo, Elize tem de ser condenada a 30 anos de prisão por homicídio triplamente qualificado – motivo torpe (vingança movida por dinheiro), utilização de recurso que impossibilitou a defesa da vítima e meio cruel (esquartejamento).

Marcos tinha 41 anos quando foi morto. A filha do casal ainda não viu Elize desde que ela foi presa. Apesar de não ter perdido a guarda da criança, não pode ver a menina na cadeia. A Justiça concedeu aos avós paternos a guarda provisória.
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