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Miss relata dificuldade para respirar e depressão após rinoplastia

Folha de S.Paulo

Quando a estudante de biomedicina Bruna Felisberto foi eleita miss Rio Grande do Sul, há cerca de um ano, sua intenção era vencer o concurso nacional. Na tentativa de aumentar suas chances na disputa, decidiu se submeter a algumas cirurgias. No entanto, uma delas --uma plástica no nariz-- não apenas deixou Bruna insatisfeita com o resultado, como lhe provocou dificuldades respiratórias. Além disso, a miss se tornou alvo de chacota nos fóruns de discussão sobre concursos de beleza, na internet.

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Desde que foi operada, Bruna sente falta de ar ao praticar atividades físicas e já chegou a desmaiar devido à dificuldade respiratória, conforme disse à Folha Online, por telefone. A gaúcha relata também que sua voz se tornou anasalada após a plástica, e que as novas cirurgias que realizou para tentar consertar a primeira atingiram suas finanças --ela afirma ter uma dívida de R$ 20 mil no SPC (Serviço de Proteção ao Crédito). De acordo com a gaúcha, a decisão de se submeter a plásticas foi influenciada pela coordenação do concurso estadual.

A modelo, que neste sábado (6) entregou a faixa à sua sucessora, disse que estuda processar o médico que a operou, o cirurgião Nelson Heller. Já o médico avalia como bom o resultado da cirurgia e afirma que a estudante nunca se queixou de problemas no nariz para ele (veja a resposta do cirurgião no item "Outro lado", abaixo da entrevista).

Leia os principais trechos da entrevista com Bruna Felisberto. 

Bruna Felisberto - Eu venci o concurso há um ano, num sábado, em Gramado. No dia seguinte, quando eu estava voltando para casa, para Porto Alegre, dentro do carro mesmo o Evandro [Hazzy, coordenador do Miss Rio Grande do Sul] já começou com essa história de que eu deveria fazer uma cirurgia plástica, porque seria melhor pra mim, e assim começou essa indução. Ele falou que eu trabalharia mais como modelo depois da operação, que o meu nariz não fotografava bem.

Havia coisas [plásticas] que eu realmente já queria fazer antes, como a lipoaspiração, e que eu acabei fazendo porque eu quis realmente. Mas também teve muita coisa que eu fiz porque acreditei nele, acreditei que eu teria mais trabalho [após as plásticas]. Como eu não era desse mundo de miss, eu me deixei levar. O Miss Rio Grande do Sul foi o primeiro concurso de que participei. Não conhecia direito o concurso, não era nem modelo.

Folha Online - Qual foi a sua primeira reação ao ver o resultado da cirurgia?

Bruna - Eu fiquei completamente insatisfeita. Fizeram várias coisas no meu rosto, tudo menos o que eu queria. O meu nariz ficou completamente desarmônico para o meu rosto. Fiz uma reparação com o mesmo médico mas ficou pior ainda, ele mexeu demais na cartilagem. Hoje eu não respiro direito, e quando eu corro ou faço qualquer atividade física, me sinto sufocada. Já desmaiei por causa disso. Ou seja, além dos problemas na aparência, que é a minha ferramenta de trabalho hoje em dia, a plástica me trouxe problemas funcionais.

Agora eu sou jovem, tenho vitalidade, mas imagina o que isso pode me trazer de problemas daqui para frente. Eu tenho que andar com um cotonete sempre na bolsa, porque se o meu nariz ficar sujo eu não respiro. A minha voz hoje em dia está completamente anasalada, eu não falava assim. As pessoas falam do meu caso como se eu fosse uma menina mimada preocupada com a aparência, mas não é isso. A cavidade do nariz está muito pequena, não dá para respirar direito.

Folha Online - Se você pudesse voltar ao seu primeiro dia de reinado, o que faria diferente?

Bruna - Eu fiquei com tanto trauma de cirurgia, que talvez eu não fizesse nenhuma. E eu ouviria muito mais a minha família, que sempre tentou me orientar, sempre me disse para esperar, para procurar outros especialistas. Sei que fui muito ingênua e me deixei levar por algumas pessoas. Hoje em dia eu olho as minhas fotos antigas e penso que estava melhor, tanto o corpo como o rosto. Mas só hoje eu penso assim. E não dá para voltar no tempo. 

Folha Online - Como foi para você ter que disputar um concurso de beleza e ao mesmo tempo lidar com um problema de autoestima?

Bruna - Depois da segunda cirurgia, quando eu tirei o esparadrapo e vi que o meu nariz estava menor ainda, foi um choque. Eu tinha entrado naquela nova cirurgia com toda a esperança de que fosse melhorar, consertar a primeira. Mas saí de lá com o nariz todo torto, cheio de marcas, cheio de cicatrizes, e com o problema da respiração, que eu não tinha antes. O Evandro me abandonou logo após a primeira cirurgia, não atendia os meus telefonemas. Acho que ele quis me esconder, para que as pessoas não me vissem, já que ele foi muito criticado devido às minhas cirurgias. Porque as pessoas sabem que ele sempre foi muito fã de cirurgia plástica. Ele queria me isolar, me deixar reclusa, e não me repassava alguns convites.

Folha Online - E o que comentaram sobre a sua nova aparência?

Bruna - Na internet, me chamavam de porquinha, de Michael Jackson. Era uma coisa horrível. Eu lia os comentários [nos fóruns de discussão sobre concursos de beleza], sempre que colocavam uma foto minha, nunca faziam um comentário a meu favor. Acabei deixando que ir a eventos de amigos, porque eu sabia que alguém tiraria fotos, e que as fotos iriam parar na internet, e que alguém acabaria me xingando.

Folha Online - Financeiramente, quais foram os prejuízos?

Bruna - Eu tive que bancar as cirurgias de reparação com outro cirurgião [Denis Valente] no nariz e nos seios também, pois tive que trocar a prótese de silicone por outra, bem menor. Tive que comprar sandálias de salto 12, maquiagem. O meu reinado, que era para ser um sonho, virou um pesadelo. Tenho no SPC uma dívida de R$ 20 mil. Mas também teve o dinheiro que a minha família gastou, então nem faço ideia. 

Folha Online - Como foi o seu período de concentração para o Miss Brasil, em São Paulo?

Bruna - Para mim foi muito bom, porque eu via meninas no mesmo barco, algumas eleitas em cima da hora, como as de São Paulo e Rio de Janeiro. A paulista estava sem ajuda de ninguém lá. Conversei com muitas que foram criticadas também, e fiz amizade com algumas. A miss Rondônia, com quem eu dividi o quarto, me ensinou muitas coisas, foi uma lição de vida. Mantenho contato com várias misses, como a Distrito Federal também. Quero levar essas amizades para a vida inteira.

Folha Online - Qual é o seu conselho para as garotas que têm vontade de se tornar misses?

Bruna - Eu já tive a oportunidade de conversar com a Bruna [Jaroceski, vencedora do Miss Rio Grande do Sul 2010], falei para ela que tome muito cuidado, que pense muito. Porque uma coisa boa aqui no Rio Grande do Sul é que a miss é eleita com um ano de antecedência, então você tem tempo de pensar, de se preparar. Eu expus o meu caso porque quis mostrar às outras meninas que é preciso tomar muito cuidado. 

Folha - Você vai mesmo processar o cirurgião?

Bruna - Estou conversando com advogados sobre isso e ainda estou vendo o que vou fazer daqui para frente. Mas a gente está pensando seriamente em processá-lo.

Folha Online - Quais são os seus planos, agora que entregou a faixa?

Bruna - Quero voltar aos meus estudos, à faculdade de biomedicina. Quero começar a cursar jornalismo, e quem sabe fazer algum trabalho artístico na TV, ou ser apresentadora.

Folha Online - Você vê como positivo ou negativo o saldo do seu reinado?

Bruna - Se foi bom ou ruim eu não sei te dizer. Foi um pouco de cada. Sinceramente, se eu pudesse voltar no tempo, eu não sei se eu me candidataria [a miss Rio Grande do Sul]. Por outro lado, para mim foi uma honra poder representar o meu Estado, porque eu fiz tudo dentro do que eu podia fazer. Ter ficado em sexto lugar [no concurso Miss Brasil] foi muito bom, porque a minha autoestima estava baixíssima. Foi uma superação.

Outro lado

Evandro Hazzy nega ter deixado Bruna Felisberto de lado após a rinoplastia. Ele afirma que assumiu a direção do curso de design numa universidade e que por isso passou a ter menos tempo para se dedicar ao mundo das misses.

Para o "missólogo", as queixas da modelo podem ter sido influenciadas pela derrota no Miss Brasil. "Você tem que trabalhar na mente a derrota, é uma coisa que eu falo para essas moças", disse à Folha Online. Mas geralmente elas [as derrotadas] gritam, se atiram no chão."

"Continuo adorando ela. Eu só tenho elogios à Bruna [Felisberto]", afirmou o missólogo. Ele assume ter se submetido a oito cirurgias plásticas. "Todas as vezes, eu sabia que poderiam dar certo e que poderiam dar errado", disse. "Mas se ela não está feliz, tem que processar mesmo."

Em entrevista à Folha Online, o cirurgião Nelson Heller afirmou que avalia como bom o resultado da cirurgia de Bruna Felisberto. "Ela quis um narizinho menor", disse, por telefone. "E eu diminuí o mínimo --dois milímetros, ou três milímetros no máximo."

De acordo com Heller, Bruna se submeteu a vários procedimentos com ele, além da rinoplastia: lipoescutura --com o enxerto de 300 mL de gordura em cada nádega--, enxerto de gordura na região mandibular, mamoplastia redutora de pele, inclusão de prótese de silicone e lixamento das faces.

Heller afirma que a modelo nunca se queixou do nariz para ele. Relata que uma semana antes de Bruna viajar para São Paulo --onde ocorre o concurso nacional--, ela foi com a mãe à clínica dele, para se despedir, porque tinha certeza de que ganharia o Miss Brasil. Na ocasião, de acordo com o médico, ela ainda se submeteu a uma aplicação de botox. Ainda segundo o cirurgião, todos os procedimentos foram realizados com o consentimento da modelo e do missólogo Hazzy.
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