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Luto ainda é recente na estação brasileira destruída na Antártica

G1

Com velocidade de 24 km/h, percorrendo o mar escuro da Antártica, repleto de icebergs e montanhas brancas de neve, a uma temperatura de 1º C, o navio oceanográfico Ary Rongel, em sua 19ª viagem para o continente gelado, se aproximou da Baía do Almirantado nesta quinta-feira (7).

Ao pé da montanha da Ilha Rei George, as luzes receptivas da Estação Científica Comandante Ferraz já não estão lá mais. O céu nublado e o vento incessante, que chega a cortar de tanto frio, dão as boas vindas aos militares, jornalistas e pesquisadores que chegavam ao local, que atualmente é sinônimo de perda e de esperança.

Perda porque ainda está vivo o sentimento decorrente da destruição da infraestrutura construída há quase 30 anos, que integrava cientistas e militares.

Luto também pela morte de duas pessoas em 25 de fevereiro de 2012: o suboficial Carlos Alberto Vieira Figueiredo e o primeiro-sargento Roberto Lopes dos Santos, que serão lembrados para sempre na ilha graças a duas cruzes colocadas no alto de um morro – um memorial que ainda lembra outros quatro ingleses e mais dois brasileiros que também morreram na região em anos diferentes.

Lama e maquinário
Um semicírculo rodeado de montanhas e geleiras protege a região dos ventos intensos provenientes do Mar Antártico. Tratores, contêineres, cabos e muita lama recepcionam os visitantes.

Caixotes brancos deram lugar ao ferro retorcido da antiga estação, retirados aos montes com a força de mais de cem homens e depositados no navio alemão Germânia, que está ancorado próximo à costa.

Ele será responsável por levar o material para o Rio de Janeiro, já que nada contaminante pode ficar na Antártica, por força do Tratado de Madri, acordo internacional de ocupação e preservação do continente.

O heliponto da estação já dá lugar aos primeiros contêineres que formarão os módulos emergenciais. Eles serão agrupados até o fim de março para abrigar um grupo de militares que fica durante o ano todo na Antártica – durante o rigoroso inverno polar.

Clima de Ferraz
Nem mesmo a promessa de uma nova casa tecnológica, com infraestrutura melhor trouxe de volta o “clima de Ferraz”, como definiu o técnico do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Heber Reis Passos, o HB, que já tem mais de 150 meses de experiência na Antártica.

“A estação tinha vida 24 horas. Qualquer bote que chegasse a qualquer hora, tinha gente pronta para recebe-los, além dos animais na praia, pinguins, pássaros. Depois do incêndio, a região passou a ter zero vida [de animais]. Quem viveu Ferraz, espera voltar a viver o mesmo clima de integração e solidariedade entre as pessoas”, explica.

Ajuda distante
O comandante do navio Ary Rongel, Marcelo Luis Seabra Pinto, não esquece cada momento da tragédia de fevereiro de 2012. Ele lembra que durante o acidente, sua embarcação e o navio Polar Almirante Maximiano estavam em Punta Arenas para manutenção e reabastecimento.

Ele foi informado por militares de Brasília do acidente e, do porto da cidade chilena, mobilizou forças para auxiliar no resgate das pessoas que estavam na estação. “Ter 28 anos de estação e perder tudo... é duro. Antes não tivéssemos perdido as duas vidas”, conta.

Mesmo a atual operação para levantar no local um Módulo Antártico Emergencial, que abrigará os brasileiros até que a nova estação seja erguida, não anima o comandante. “Se eu já estivesse vendo a estrutura nova... mas o que vi até agora são só destroços. Saber da estrutura toda destruída, que eu vivi e convivi, é muito triste. Tinha 60 pessoas [no interior da estação durante o incêndio]”.

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