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Ex-funcionários relatam maus tratos da médica suspeita de matar em UTI

Agência Brasil

Um enfermeiro que trabalhou no Hospital Evangélico de Curitiba entre 2004 e 2006 afirmou em entrevista à RPC TV, nesta quarta-feira (20), que presenciou a médica Virgínia Soares de Souza desligando aparelho e provocando a morte de pacientes na UTI (Unidade de Terapia Intensiva). Ela foi presa na terça em operação da Polícia Civil que investiga mortes nesse setor do segundo maior hospital da capital paranaense.

O ex-funcionário, que não quis se identificar, informou ao G1 no início da tarde desta quarta que ainda não havia decidido se iria procurar a polícia para relatar o caso. A delegada que cuida do caso, Paula Brisola, afirmou que outras testemunhas relataram situações semelhantes nesta quarta, mas não divulgou detalhes sobre os depoimentos, devido ao inquérito correr em segredo de justiça.

Ainda segundo a Polícia Civil, depois da prisão e repercussão do caso, várias pessoas procuraram o órgão para denunciar atitudes de Virgínia. A ação policial também apreendeu prontuários médicos e outros documentos relativos a internações e mortes de pacientes.

"O paciente da UTI tem dois pontos críticos, que são a ventilação mecânica e as medicações que servem para manter a pessoa viva. Ela interrompia um dos dois ou os dois". O enfermeiro declarou ter visto a médica desligar o aparelho de um paciente do SUS (Sistema Único de Saúde).

O advogado de Virgínia Soares de Souza, Elias Mattar Assad, foi procurado pelo G1. "O hospital Evangélico está em uma fase de transição, não tem como provar isso. As pessoas falam mal porque todos aqueles que tiveram parentes que ficaram UTI estão achando que mataram os parentes, e na verdade não foi isso que aconteceu", afirmou.

O Conselho Regional de Medicina (CRM) informou que investigará a conduta da médica. O Hospital Evangélico abriu uma sindicância para apurar o caso.

A médica atua no hospital desde 1988 e é chefe da UTI desde 2006. De acordo com o Núcleo de Repressão aos Crimes Contra a Saúde (Nucrisa), ela é suspeita da prática de eutanásia, que é a indução à morte com consentimento do paciente, além de maus tratos aos internados. O caso corre em segredo de justiça. A médica está detida no Complexo Médico-Penal, em Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba.

Maus tratos
Uma ex-enfermeira, que também não quis se identificar, disse ao G1 que a médica foi suspensa por um mês em 2011 por maltratar uma funcionária.

"Eu trabalhei no hospital em 2005 e presenciei muitas cenas de maus tratos contra funcionários. Tanto que não tinha quem não soubesse da frieza e grosseria dela. Essa suspensão eu soube por um colega. Eu não gostava de trabalhar com ela, como a maior parte dos outros. Eu nunca presenciei, mas o que 'rolava' nos corredores é que ela fazia isso com os pacientes também, relata.

Procurado pelo G1, o Hospital Evangélico informou que se pronunciaria a respeito da suspensão da da médica ocorrida em 2011 ainda nesta quarta-feira. O advogado da médica também nega essas acusações.

'Fria e calculista'
Depois de saber da prisão da médica a dona de casa Morgani Garcia Alves disse que se sentiu 'aliviada'. "Eu perdi uma irmã com câncer em setembro de 2012. "Na primeira semana que ela estava internada na UTI, eu cheguei a conversar com essa médica. Foi horrível", relata.

"Ela [a médica] disse que a minha irmã estava com um tumor malígno, que já tinha tomado conta da cabeça dela e que, se continuasse viva, iria viver com sequelas. Disse também que era para a gente esperar o pior, ou seja, a morte. Depois disso, ela virou as costas e saiu. Apesar de saber da gravidade do caso da minha irmã, eu achei que ela foi muito fria e calculista. Como chefe do hospital, deveria ter mais coração ao conversar com as pessoas", desabafa Morgani.

"Ela era muito estranha. Sempre usava umas roupas esquisitas para um hospital. O dia que mais achei estranho foi quando ela apareceu de casaco de pele", conta Morgani.

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