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'Estou fortalecido', diz pai de 'herói' que morreu após salvar 14 na Kiss

G1

Ogier Rosado, de 51 anos, pai do estudante de educação física Vinicius Montardo Rosado, de 26 anos, que foi um dos jovens que morreu no incêndio na boate Kiss, em Santa Maria no Rio Grande do Sul, esteve nesta semana na Baixada Santista. Segundo testemunhas, Vinicius salvou pelo menos 14 pessoas antes de morrer. Após a tragédia, o pai do jovem quer levar a mensagem que o filho transmitiu em um momento de desespero, muita solidariedade e carinho ao próximo, sem deixar de lutar por Justiça.

Ogier e outros pais, amigos das vítimas e familiares dos sobreviventes estão com grande expectativa nesta sexta-feira (22). Após 54 dias de investigações, a Polícia Civil de Santa Maria vai entregar à Justiça o inquérito sobre o incêndio na boate Kiss. O documento vai apresentar o resultado das investigações e apontar os possíveis responsáveis pela morte de 241 pessoas e de mais de uma centena de feridos. “Existem pais que ainda estão demolidos. Existem pais que ainda lutam por vingança. Eu, na primeira semana, fiquei muito revoltado. Eu não estou forte, eu estou fortalecido. Eu tinha dois filhos naquela boate”, conta. A irmã de Vinicius, a auxiliar de escritório Jéssica Montardo Rosado, de 24 anos, também estava no local no dia do incêndio, mas conseguiu se salvar. ”Lutando por Justiça sempre, mas não por vingança, essa é a nossa palavra de ordem”, disse.

Ogier conta que o filho Vinicius voltou três ou quatro vezes para dentro da boate, e depois que saiu com duas pessoas debaixo do braço desmaiou, foi socorrido e não conseguiu sobreviver. Ele confessa que até tentou culpar o filho naquela noite e pensou que ele que poderia estar vivo se não fosse tentar salvar outras pessoas. “Mas eu criei um jovem assim, que agia simples, que agia com coisas básicas, com um sorriso, um abraço e um auxílio”, falou. Se o filho fez isso, ele acredita que o ato deve ser passado adiante. “A mensagem que eles (jovens mortos) querem para gente é essa: que o Brasil mude, que Santa Maria, mude que o Rio Grande mude e que São Paulo mude. E para mudar tem que mudar em cada um de nós”, disse.

O pai de Vinicius passou pela cidade de Santos e São Vicente para conhecer ações que são realizadas na Baixada Santista. Ele quer levar uma delas para Santa Maria e divulgar cada vez mais atividades positivas de fraternidade. “A gente, quando criou a Associação em Santa Maria, definiu três coisas. Queremos acompanhamento jurídico do processo, para que seja julgado de maneira isenta. Também queremos apoio social para as pessoas que foram atingidas, famílias e pais. O foco é divulgar essa história de Santa Maria. Divulgar na construção de algo melhor”, explica.

Vinicius era um jovem muito brincalhão que adorava festas e sempre tinha pensamentos positivos. Quando ele sentia que as coisas não estavam bem e as pessoas estavam tristes, o pai conta que ele sempre falava “Ah muleke. O show não pode parar!”. Ele ficou conhecido por esse jargão. Agora, essa é a frase de incentivo e que motiva a família a seguir em frente, mesmo com saudade do jovem que deixou uma mensagem de solidariedade quando sacrificou a própria vida em amor ao próximo. “Eu tenho uma certeza hoje. Jamais eu vou conseguir dar um abraço no Vinicius, isso eu não consigo, mas o que fica é a história dele. E é isso que eu tenho que passar. Ele não gostaria de outra coisa de mim. Mesmo com o coração apertado, eu não me acho com direito de não fazer nada que não fale de amor e carinho”, finaliza o pai do jovem.

Entenda
O incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, região central do Rio Grande do Sul, deixou 241 mortos na madrugada de domingo, dia 27 de janeiro. O fogo teve início durante a apresentação da banda Gurizada Fandangueira, que fez uso de artefatos pirotécnicos no palco. De acordo com relatos de sobreviventes e testemunhas, e das informações divulgadas por investigadores:

- O vocalista segurou um artefato pirotécnico aceso.
- Era comum a utilização de fogos pelo grupo.
- A banda comprou um sinalizador proibido.
- O extintor de incêndio não funcionou.
- Havia mais público do que a capacidade.
- A boate tinha apenas um acesso para a rua.
- O alvará fornecido pelos Bombeiros estava vencido.
- Mais de 180 corpos foram retirados dos banheiros.
- 90% das vítimas fatais tiveram asfixia mecânica.
- Equipamentos de gravação estavam no conserto.
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