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Cursos e até vídeos na internet ajudam na qualificação de domésticas

G1

Com novos direitos garantidos pela PEC das Domésticas, aprovada na terça-feira (26), as empregadas domésticas agora têm um incentivo a mais para se qualificar e valorizar seu trabalho. Especialistas de agências de recrutamento afirmam que o aumento dos encargos para os empregadores também levará a um aumento nas exigências no perfil das trabalhadoras. Em vários casos, porém, elas mesmas tomam a iniciativa de fazer cursos e desenvolver novas habilidades para ganhar mais ou serem promovidas a cozinheiras, babás e até governantas.

Hoje em dia, é possível participar de cursos presenciais com poucas horas de duração e baixo valor de inscrição ou até buscar na internet por tutoriais em vídeos sobre as mais diversas tarefas domésticas.

"A candidata vai custar mais para o empregador, então vão exigir um pouquinho mais em relação ao serviço. A mão-de-obra tem que ser um pouco mais qualificada", afirma Camila Aragão Pansica, dona da agência Gentil, da capital paulista.

Camila explica que a procura por cursos é grande até por parte dos patrões, que muitas vezes preferem subsidiar os cursos para não perder a trabalhadora para outra residência que pague mais, explica a empresária. "Geralmente é a própria empregada doméstica que paga", diz ela. Os cursos em geral têm um valor simbólico de inscrição de cerca de R$ 30 ou R$ 40. Há alternativas gratuitas em institutos, alguns com parcerias com o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac)

O Grupo Credencial, de Sorocaba, no interior de São Paulo, que auxilia empregadores a contratar domésticas, há cerca de seis anos notou a procura por cursos de capacitação tanto dos patrões quanto das trabalhadoras e começou a oferecer módulos mensais que incluem, por exemplo, dicas para lavar e passar roupas, além de nutrição, ética, condutas apropriadas, cuidados com crianças e idosos e primeiros socorros.

CURSOS E TUTORIAIS DE CAPACITAÇÃO

Limpeza: lavar e passar roupas, organização de armários e guarda-roupas

Cozinha: culinária de baixa caloria ou mais elaborada, receitas para famílias de alguma religião com regras específicas de alimentação, como o judaísmo, como servir uma mesa em eventos especiais

Conduta: como se portar com visitas, postura e condutas profissionais durante o trabalho e a entrevista de emprego

Saúde: primeiros socorros, higiene pessoal, cuidados com idosos e com crianças

Fonte: Grupo Credencial e agência Gentil

Segundo Leonardo Cuófano, diretor do grupo, no início houve pouca procura, mas hoje os cursos, que duram cerca de seis horas e são realizados aos sábados, têm sempre entre 30 e 60 participantes em Sorocaba.

O curso é 100% gratuito para domésticas contratadas por meio da agência, mas quem quer participar e não preenche esse requisito paga apenas o material didático – a apostila com o material de todos os módulos do curso sai por R$ 70.

Webaulas
A empresa também lançou o site Domésticas Brasil, para unir trabalhadores e empregadores domésticos de outras partes do Brasil – a diferença é que as domésticas indicadas pela sede em Sorocaba têm a ficha checada pelo grupo.

Como atualmente a maior parte das contratações do grupo acontece por meio do site, Cuófano diz que já iniciou a produção de webaulas para os clientes da empresa em todas as regiões do país, principalmente no estado do Rio de Janeiro, onde foi detectada a maior demanda.

Camila, da agência Gentil, afirma que o YouTube também pode virar uma fonte de aprendizado para as domésticas. Usando palavras-chave como, por exemplo, "receitas de comidas saudáveis", "como organizar o guarda-roupa", "como servir a mesa" ou "como passar roupa com ferro a vapor", é possível encontrar tutoriais em vídeo que ensinam novos truques úteis nas tarefas de casa. "Elas aprendem pela internet com indicação dos próprios filhos", diz.

Segundo ela, em geral a doméstica entra na residência trabalhando com serviços de limpeza, mas pode ascender na carreira. Dependendo de suas habilidades e qualificações, pode virar apenas cozinheira ou, no caso das trabalhadoras com mais afinidades com crianças e formadas em curso técnico ou superior de enfermagem, babá ou cuidadora de idosos.

Diaristas
Os módulos de treinamento do Grupo Credencial também podem ser feitos por diaristas, explica Cuófano. Segundo ele, atualmente elas representam a maior procura dos empregadores, que começam a aceitar o "padrão europeu" de não ter mais a doméstica trabalhando na residência de segunda a sábado. "Hoje o brasileiro já está aceitando que duas vezes por semana basta", diz.

As diaristas não se encaixam na PEC das Domésticas, mas, em agências de recrutamento, podem ser contratadas pelo regime CLT como horistas e alocadas em residências.

"Os clientes acabam pagando mais [pela horista]. No final do mês a gente cobra R$ 150 por uma diária, um tanto fica com a agência, um tanto vai para o vale-transporte e outro tanto é repassado à doméstica. Agora, os clientes buscam diarista duas vezes na semana no máximo. No fim, eles gastam menos [que uma doméstica fixa] e não têm vínculo."

Educação formal
A escolaridade das domésticas, porém, ainda não é abordada formalmente pelos cursos oferecidos. Cuófano conta que a grande maioria de suas funcionárias não terminou o ensino básico, mas que as estimula a estudar porque, apesar de não ser requisito obrigatório para o serviço, a educação favorece as domésticas na hora da entrevista do trabalho e, por isso, aumenta as chances de contratação.

"Logicamente nós não exigimos [escolaridade mínima], mas que isso ajuda, ajuda. Tentamos oferecer treinamento, explicar como se portar na entrevista, por exemplo."

Segundo Camila, apenas uma minoria das candidatas registradas na agência Gentil como domésticas possui ensino médio ou superior. Mas as governantas, que gerenciam a casa e cuidam também do pagamento de contas e até fazem reservas de passagens áreas, precisam ter no mínimo o ensino médio completo.
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