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Mulheres com menos de 50 anos se matam mais na Índia, aponta estudo

G1

Um estudo divulgado recentemente aponta que o suicídio se tornou a principal causa de morte entre as mulheres abaixo dos 50 anos na Índia, um fenômeno que analistas apontam como causa a opressão sofrida por elas no casamento.

O estudo, realizado pelo Instituto de Saúde Métrica e Avaliação da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, diz que, ao contrário de outros países, mulheres casadas com idade entre 15 e 49 anos tiram a própria vida no país asiático.

Apenas em 2010, foram cerca de 78 mil casos, segundo um relatório global que trata de doenças, lesões e fatores de risco, feito pela Organização Mundial de Saúde (OMS) há quase três anos.

Ainda de acordo com o estudo norte-americano, as queimaduras são a segunda causa de óbitos. Em terceiro lugar ficam as mortes provocadas pelo parto, que historicamente já foi a principal causa de mortes em mulheres jovens indianas.

Para o psicanalista Sudhir Kakar, os dados refletem que "a causa dos suicídios de mulheres jovens é o casamento". "Quando as mulheres se casam, atravessam um período muito duro, já que se mudam para a casa dos sogros, onde têm muito pouco apoio e passam a ocupar o nicho mais baixo", explicou.


Casamento arranjado
No país, a maioria dos casamentos é arranjada pelos pais e em muitos casos se mantém a estrutura da família estendida, com várias gerações vivendo sob o mesmo teto com uma hierarquia muito rigorosa.

Ranjana Kumari, diretora do Centro de Pesquisa Social de Nova Délhi, afirmou que "as meninas se casam muito novas e não estão preparadas para o casamento nem para a violência que em muitos acontece".

Um estudo recente da Organização das Nações Unidas aponta que 47% das mulheres na Índia têm casamentos arranjados por seus pais quando ainda são menores de idade, o que representa mais de 40% dos casos de casamentos infantis mundiais.

"Além disso, não podem partilhar seus problemas com ninguém. Estão sozinhas", disse a ativista, que acredita que "há uma total falta de apoio perante os problemas mentais".

Dotes
Kumari também considerou o dote uma das causas que levam uma mulher a se suicidar, diante do assédio que sofrem por parte das famílias para que paguem mais e para evitar arruinar seus pais.

Na Índia, as mulheres são obrigadas a pagar ao namorado e a sua família um dote, uma prática proibida por lei, mas que se acentuou com a chegada da modernidade e o consumismo e cada vez se exigem quantias maiores, que podem incluir carros e apartamentos.

Uma investigação da London School of Hygiene and Tropical Medicine (Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres) publicada na revista médica "The Lancet" também aponta o casamento como uma das causas de suicídios de mulheres indianas.

O relatório afirma que as viúvas e divorciadas são menos propensas a se suicidar na Índia, ao contrário dos países ocidentais, onde as mulheres casadas se suicidam menos. Os contrastes não acabam aí, já que o estudo afirma que nos países desenvolvidos os homens se suicidam três vezes mais que as mulheres, enquanto na Índia a diferença cai para uma vez e meia a mais.

Além disso, na faixa entre 15 e 29 anos, quando acontecem 56% dos suicídios femininos, os números de indivíduos homens e mulheres são semelhantes, o que não acontece em outros países. As estimativas de suicídios femininos dos estudos internacionais dão dados superiores aos oficiais indianos, que situam em 64.607 o número de mulheres que se mataram em 2010.

A diferença se atribui a que as famílias denunciam em muitos casos os suicídios como acidentes para evitar a vergonha social e porque na Índia a tentativa de suicídio está criminalizada. A ingestão de pesticidas é o método usado em quase metade dos suicídios na Índia, que tem uma das taxas mais altas de suicídio no mundo, por ser altamente letal.
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