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Polícia ouve depoimento de feridos em acidente de ônibus no Rio

G1

A polícia começará a ouvir nesta quinta-feira (4) o depoimento dos feridos do acidente envolvendo o ônibus da linha 328 (Bananal/Castelo) do Viaduto Brigadeiro Trompowski, que causou a morte de sete pessoas e deixou outras 10 feridas após cair de um viaduto perto da Ilha do Governador, no Rio, na terça-feira (2). Conforme mostrou o Bom Dia Rio, o delegado José Pedro da Costa Silva, da 21ª DP (Bonsucesso), volta a percorrer os hospitais onde as vítimas estão internadas nesta quinta-feira. Ainda segundo o delegado, o motorista e o passageiro envolvidos em uma discussão serão indiciados por homicídio doloso. Para José Pedro, eles assumiram o risco de matar.

Cartão de memória
O delegado disse na tarde desta quarta (3) que o cartão de memória da câmera de segurança do coletivo foi destruída com o impacto. As imagens poderiam comprovar a briga entre o motorista e um passageiro que, segundo testemunhas, teria causado o acidente.

José Pedro confirmou que vai indiciar por homicídio doloso e tentativa de homicídio o motorista, André Luiz da Silva Oliveira, de 33 anos, e o universitário, Rodrigo Santos Freire, de 25 anos, que o teria agredido. O delegado vai pedir a prisão preventiva dos dois por não ter dúvidas de que a briga foi o motivo do acidente.

Duas testemunhas, o técnico de informática Nelson Martins e o cozinheiro identificado apenas como Marcelo, reconheceram, no Hospital Miguel Couto, Rodrigo como o agressor de André. Os dois sobreviventes desceram do ônibus momentos antes da queda, quando a discussão já havia começado.

Segundo relatos, o suposto agressor, que seria estudante de engenharia da UFRJ e morador da Cacuia, na Ilha, teria dado um chute no rosto e causado desmaio no motorista, após bate-boca iniciado porque o passageiro não conseguiu descer no ponto que desejava, estando atrasado para a aula.

Rodrigo está internado com fratura na mandíbula e no quadril, e perdeu parte dos dentes. O motorista está internado no Hospital Getúlio Vargas, aguarda uma cirurgia no fêmur.

Segundo o delegado, os dois apresentam perda de memória. "Da mesma forma que o motorista, [Rodrigo] não se recorda do que aconteceu, está em estado de choque. Ele não tem a lembrança de ter entrado no ônibus. Eu tenho depoimento de testemunhas que apontam ele como sendo o autor da agressão, por fotografia e por reconhecimento pessoal. As testemunhas o reconheceram sem sombra de dúvida. Eles serão indiciados por homícidio doloso, esse é o primeiro passo. Hoje [quarta] ou [amanhã] entrarei com uma representação pedindo a prisão preventiva dos dois, já que foram os causadores do acidente", explicou José Pedro.

O motorista, segundo o delegado, também tem culpa por não ter parado no ponto, ter estimulado a briga verbalmente e não ter chamado a polícia quando começou a confusão, assumindo o risco do acidente.

Rodrigo, com uma fratura na mandíbula, não falou muito, segundo José Pedro. "Ele tem conhecimento do que aconteceu porque tem uma televisão no quarto, mas não assume a culpa pelo acidente. "Ainda segundo o delegado, o susposto agressor tinha uma anotação na polícia, de 2012, devido a uma briga com vizinhos.

O delegado afirmou ainda que há informações de que o motorista estava em alta velocidade. No entanto, ele ainda espera o resultado da perícia no tacógrafo, que já está com a polícia. O cartão de memória da câmera interna do ônibus foi destruído e não será possível recuperar as imagens, segundo o delegado.

Testemunha dá detalhes
A cabeleireira Conceição Rodrigues Santana, mãe de Amanda Santana Silva, de 19 anos, estudante de farmácia da UFRJ que também está internada no Hospital Getúlio Vargas, contou, pela manhã, ter ouvido da filha que um passageiro teria chutado o rosto do motorista.

A agressão, de acordo com a jovem, ocorreu durante uma discussão e fez com que o motorista perdesse a direção. Outras testemunhas já haviam relatado a briga.

Amanda disse à mãe que um estudante fez sinal para que o motorista parasse em um determinado ponto. Como ele não parou, o jovem teria pulado a catraca e iniciado uma discussão com o condutor. A jovem estava na frente do ônibus e não conhecia o estudante que iniciou a briga.

A garota também contou para a mãe que as pessoas gritaram muito na hora da queda, mas quando o ônibus caiu houve silêncio.

A briga
Em entrevista por telefone nesta manhã ao programa "Encontro com Fátima Bernardes", da TV Globo, Amanda lembrou dos momentos de pânico na linha 328. "O motorista era bastante grosseiro. Passou vários pontos sem parar. Ele parou no ponto para o rapaz descer, mas não deu tempo. Aí o rapaz se alterou, pulou a catraca e começou a discutir. Quando chegou no ponto seguinte, o motorista não quis abrir a porta da frenter. O rapaz também não quis pular a catraca de volta e começou a discussão", contou.

No programa, ela lembrou ainda de como foi ajudada. "Começou a vazar muita gasolina do ônibus, passou um rapaz e eu pedi ajuda. Ele me ajudou a sair. Aí olhei para trás e vi o rapaz que agrediu o motorista em pé com muito sangue, e o motorista caído. Não vi mais nada."

Amanda voltava do segundo dia de trote na UFRJ, na Ilha do Governador, para casa, que fica em Irajá, no Subúrbio do Rio.

Segundo Conceição, a filha tem o quadro estável, mas está com uma fratura no cóccix. "Ela chora, ela sente dor".

Motorista não lembra do acidente
A mulher do motorista André Luiz da Silva Oliveira, de 33 anos, que dirigia o ônibus da empresa Paranapuã que caiu do viaduto, afirmou nesta manhã que o marido não se lembra de nada. “Ele não lembra de nada, nem do acidente nem da filha de 2 anos”, disse, Francilene dos Santos.

Francilene esteve nesta manhã no Hospital Getúlio Vargas, na Penha, Zona Norte, para visitar o marido, que continua internado. Ao chegar no hospital, ela também reclamou da empresa de ônibus Paranapuã, que, segundo ela, não prestou qualquer auxílio ao motorista.

A advogada do Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Onibus, Marcia Dias, que vai representar André, confirmou a ausência de memória. "Ele disse que não se lembra de nada e eu não contei a ele detalhes do caso, em razão do estado de saude dele."

Segundo Marcia, a empresa Paranapuan, responsável pelo ônibus, não procurou o motorista nem a familia dele para prestar assistência.

Quatro feridos ainda em estado grave
Na manhã desta quarta, seis corpos das sete vítimas da queda do ônibus já tinham sido liberados pelo Instituto Médico Legal (IML). Dos 10 feridos, quatro pessoas estão em estado grave. O motorista do ônibus está internado com fratura no fêmur e traumatismo craniano.

Há ainda pessoas internadas nos hospitais Adão Pereira Nunes, em Saracuruna, no Miguel Couto, na Zona Sul, no Souza Aguiar, no Centro e no HGB, em Bonsucesso. Um jovem de 18 anos está em estado gravíssimo com traumatismo craniano no Hospital Getúlio Vargas. Na mesma unidade, um senhor de 80 anos, também com traumatismo craniano, passa bem. Ainda no Getúlio Vargas, uma jovem de 18 anos, que teve um trauma leve no tórax, passa bem.

Mortos
As pessoas que morreram foram Marcos do Nascimento, de 42 anos, José de Jesus, de 42 anos, Ângela Maria Reis da Silva, 62 anos, luiz antônio do Amaral, de 41 anos, Francisco Batista de Souza, de 40 anos, Oséas da Silva Cardoso, 39 anos e Luciana Chagas da Silva.

O delegado José Pedro Costa da Silva, da 21ª DP (Bonsucesso), que investiga a queda de ônibus, confirmou que a agressão pode ter causado o acidente. José Pedro ouviu sobreviventes e o próprio motorista, e contou que os primeiros relatos confirmam a discussão entre os dois e que o veículo estava em alta velocidade. O delegado destacou que pretende ouvir o motorista novamente nesta quarta, pois na terça ele não estava em condições.
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