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Marina Silva: corrupção é um problema 'nosso', de todos os brasileiros

AFP

'O problema da corrupção precisa ser enfrentado de outra maneira'; quando há 'escândalo, todos se queixam do governo' e 'não vemos que se trata de um problema nosso', afirma Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente que acaba de lançar um novo partido para defender os 'ideais do desenvolvimento sustentável'.

Marina Silva concluiu nesta segunda-feira uma visita de três dias a Paris, durante a qual participou de um colóquio organizado pela La Revue Insistance sobre arte e política e se reuniu com a ministra francesa de Habitação, a ecologista Cécile Duflot.

Membro do Partido dos Trabalhadores (PT) e posteriormente do Partido Verde (PV), pelo qual foi candidata à Presidência, Marina Silva fundou em fevereiro um novo partido, o Rede Sustentabilidade (REDE), cuja oficialização depende de 500 mil assinaturas, segundo a legislação brasileira.

'Criei um novo partido porque os ideais de desenvolvimento sustentável não foram integrados à realidade do Brasil pelos partidos no poder, incluindo o PT', explica Marina Silva em entrevista à AFP.

O Partido Verde, que ela deixou para fundar o novo, 'não foi capaz de se atualizar para ser um partido mais democrático', acrescenta, ressaltando que 'a luta pela sustentabilidade só terá êxito se os agentes políticos, humanos e institucionais forem capazes de criar um novo tipo de estrutura, mais democrática, mais horizontal'.

A respeito de uma candidatura com a nova formação às eleições de 2014, Marina responde: 'Não vamos nos antecipar; 2014 será em 2014. É necessário uma etapa para amadurecer ideias, pensar propostas e preparar programas', uma etapa de reflexão que ela considera como o que falta para a política brasileira, que sofre da 'síndrome do imediatismo'.

A criação do novo partido é um 'desafio', mas 'sempre cito uma frase de Victor Hugo: 'Não há nada mais poderoso do que uma ideia cujo tempo já alcançou'.

Lula deu uma 'grande contribuição à democracia'

Sobre os escândalos de corrupção que atingem o país, Marina Silva não atira pedras nem aponta culpados, muito menos o ex-presidente Luiz Inacio Lula da Silva.

'O problema da corrupção precisa ser enfrentado de outra maneira. Geralmente quando há uma denúncia, escândalo, todos se queixam, mas esta é uma forma de abordar o problema que não leva a lugar algum. Nos queixamos do governo, mas não vemos que se trata de um problema nosso', insiste.

'No Brasil, quando decidimos que a escravidão era um problema nosso, acabamos com a escravidão, quando decidimos que a ditadura era um problema nosso, reconquistamos a democracia; quando decidimos que a injustiça social era um problema nosso, começamos, com o governo do presidente Lula, a reduzir as desigualdades', argumenta.

'Enquanto pensarmos que a corrupção é um problema de um partido ou de um governo, ela persistirá, só será resolvida quando for encarada por todos', insiste.

E ao ser perguntada se ainda confia em Lula, de quem foi ministra e que é alvo de acusações de corrupção, responde: 'Não sei se existem pessoas que confiam plenamente, nem sei se existem pessoas que aceitam uma confiança plena. Mas, para mim, Lula deu uma grande contribuição para a democratização do Brasil, uma grande contribuição ao processo de inclusão social'.

'Infelizmente, não conseguiu quebrar o círculo vicioso de estagnação das instituições políticas', acrescenta.
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