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Notícias / Brasil

Menina baleada ao defender o pai morre por falência múltipla de órgãos

G1

A menina Kerolly Alves Lopes, de 11 anos, baleada ao tentar defender o pai durante uma briga em uma pizzaria de Aparecida de Goiânia, sofreu uma parada cardíaca, que ocasionou a falência múltipla de órgãos às 18h30 de terça-feira (7) no Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo). A morte foi anunciada na manhã desta quarta-feira (8) porque os pais da garota só chegaram à unidade de saúde no começo da madrugada.

Aparelhos mantinham a menina viva desde domingo (5), quando a morte cerebral dela foi constatada. Os pais optaram por deixar a garota morrer naturalmente, ao invés de desligar os aparelhos. Os órgãosda garota não poderão ser doados. Kerolly estava internada na Unidade de Tratamento Intensiva (UTI) desde o dia 27 de abril, após ser atingida por dois disparos.

O corpo da menina foi encaminhado para o Instituto Médico Legal de Goiânia e até as 10h30 ainda não tinha sido liberado. O velório será na Igreja Assembleia de Deus da Vila Maria, em Aparecida de Goiânia, na Região Metropolitana.

O caso
O crime teria acontecido após uma discussão por causa de uma pizza entre o dono de uma pizzaria, George Araújo, e o pai da menina, o serralheiro Sinomar Lopes, que era cliente do estabelecimento. A vítima e a irmã Pérola Alves Lopes, de 14 anos, abraçaram o pai quando viram a arma apontada para ele. O suspeito então atirou três vezes. Dois disparos atingiram a adolescente, na perna e na cabeça. Os médicos tinham explicado que a bala atravessou a cabeça dela e, por isso, o estado de saúde da garota sempre foi considerado gravíssimo.

George Araújo se entregou à polícia na noite de segunda-feira (6) e está preso na Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) de Aparecida de Goiânia.

Vídeo
A câmera de segurança do estabelecimento registrou o momento em que o serralheiro entra na pizzaria. Do lado de trás do balcão está o proprietário. Há dois meses, os dois tinham discutido porque Sinomar não quis pagar por uma pizza que havia demorado muito. Armado, George manda Sinomar sair. Do lado de fora, as duas filhas de Sinomar tentam tirá-lo dali.

"Eu cruzei os braços e falei pra ele, sabe: Você quer atirar? Você atira, pode atirar. Virei as costas ainda pra ele atirar, ele não atirou em mim, você entendeu?", relata o serralheiro.

Pérola Lopes relata os minutos de tensão: "Quando eu vi o homem já tava apontando a arma pra ele. Eu falei assim: 'Solta a arma, por favor'. Nisso minha irmã já saiu do carro correndo, aí abraçou meu pai e eu também, puxando ele pra ir pro carro. Aí o homem falou: 'Vocês saem da frente, saem da frente'. Aí a Kerolly falou: 'Moço, por favor, abaixa essa arma'".
Pai de menina baleada se sente culpado por filha ter sido atingida, em Aparecida de Goiânia, Goiás (Foto: Reprodução/ TV Anhanguera)Pai de Kerolly, Sinomar Lopes: 'Me sinto culpado'
(Foto: Reprodução/ TV Anhanguera)

O vídeo mostra quando as meninas cercam o pai, puxam, mas Sinomar insiste em ficar. Uma delas pede ajuda para um homem que passa pela rua, mas ele foge.

Pelas imagens do vídeo, é possível ver quando Kerolly deixou o pai e a irmã mais velha na calçada e correu em direção a uma farmácia, em busca de ajuda. Nesse momento, George se aproxima de Sinomar e de Pérola e faz o primeiro disparo. Pai e filha recuam. Ao ouvir o tiro, Kerolly volta. A partir desse momento, o vídeo não mostra mais o que acontece, mas o suspeito acerta um tiro na cabeça de Kerolly.

Dernorteado, o atirador corre, mas antes de entrar no carro e fugir ele volta até a esquina com o revólver na mão. A fuga de George foi filmada por pessoas que passavam pelo local. As testemunhas se revoltam, mas ele aponta a arma contra elas.

Culpa e dor
Em entrevista ao Fantástico, o pai de Kerolly, Sinomar Lopes declarou se sentir culpado pelo que aconteceu. “Eu me sinto culpado. O que eu estou sentindo é dor demais, é sofrimento pra caramba e mágoa, culpa demais da conta”, declarou.

Ele se emocionou e falou da angústia ao ver a filha hospitalizada. "Hoje eu queria estar no lugar dela. Queria! Eu queria ser naquela hora lá. Porque o pai mesmo é pai e herói do filho, né? Eu estou sentindo no meu coração que, naquela hora, eu não fui ninguém. Uma culpa imensa vendo aquela menina lá", desabafou o pai.

Prisão preventiva
Quinze horas depois da confusão o suspeito de atirar em Kerolly se apresentou em uma delegacia. Ele prestou depoimento alegando ter disparado em legítima defesa, mas não foi preso. A lei determina que alguém seja preso em flagrante apenas se for detido no momento do crime, depois de uma perseguição ou se ainda estiver com a arma usada. Como não havia pedido de prisão, ele acabou liberado.

O suspeito teve a prisão temporária decretada pela Justiça na noite de terça-feira (30). Depois de uma semana, ele se entregou na Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), em Aparecida de Goiânia. Ao ser apresentado, na terça-feira (7), George Araújo chorou o tempo todo e não conseguiu se manifestar diante da imprensa.

O advogado de defesa afirma que o suspeito está arrependido. “Ele me disse que perdeu a cabeça, errou e está preparado para responder civilmente e criminalmente. Houve todo calor da situação e, infelizmente, desencadeou na morte da criança. Porém, ele não está se furtando da responsabilidade”, enfatiza o advogado Roberto Rodrigues. George Araújo deve ficar preso por 30 dias.
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