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Atropelamentos de pedestres por ônibus cresceram 43% no Rio desde 2008

O Globo

Os recentes acidentes envolvendo ônibus no Rio não representam casos isolados, mas uma tendência. Nos últimos quatro anos, houve um aumento de 43% no número de seguros de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Via Terrestre (Dpvat) pagos às famílias de pedestres que morreram em acidentes com ônibus, micro-ônibus e vans no estado. Apesar de o cálculo levar em conta três modalidades de veículos, a seguradora responsável pelo pagamento do benefício estima que 90% dos casos sejam de atropelamentos por coletivos. Esta tragédia urbana é o tema da primeira reportagem da série “Máquinas Mortíferas”.

Em comparação com os dados de veículos particulares, cujos valores absolutos são maiores devido à frota em circulação, os seguros pagos às famílias dos pedestres permaneceram praticamente estáveis. Em 2008, foram 1.480 e, em 2012, 1.492, uma variação de 1%. No mesmo período, os mortos em atropelamentos por ônibus, micro-ônibus e vans passaram de 176 para 252 (crescimento de 43%), num total de 1.109 casos. Em todo o Sudeste, o Rio foi o estado com o maior aumento. O Espírito Santo registrou queda no número de seguros pagos (-5%), enquanto São Paulo e Minas Gerais tiveram alta de 16% e 20%, respectivamente.

— Nos dados do Rio, é possível verificar que vem ocorrendo uma queda no número de sinistros pagos a motoristas e passageiros mortos nos acidentes envolvendo ônibus, micro-ônibus e vans. Mas, por outro lado, um aumento no caso de pedestres vítimas de atropelamentos. Não existem tantos atropelamentos envolvendo vans. A grande maioria, cerca de 90%, envolve ônibus — explicou Marcelo Davoli, diretor jurídico da Líder Seguradora, responsável pelo pagamento do Dpvat, acrescentando que qualquer pessoa vítima de acidente pode requerer o seguro (informações pelo telefone 0800 022 1204).

Secretário: dado é preocupante

Ao saber pelo GLOBO dos dados do Dpvat, o professor do departamento de engenharia da Coppe Paulo Cezar Ribeiro defendeu que sejam investigadas as causas desses acidentes. Essa seria uma das formas de tentar explicar por que o Rio apresentou o maior crescimento de seguros pagos.

— O aumento do pagamento de Dpvat pode ter relação com os casos de acidentes envolvendo ônibus. Mas só podemos saber o que está acontecendo se analisarmos mais profundamente esses dados para tentar descobrir quais são as causas. Tentar saber por que o Rio, por exemplo, teve um crescimento maior que São Paulo — explicou Ribeiro.

O secretário municipal de Transportes, Carlos Roberto Osorio, considerou “preocupante” o aumento do Dpvat, mas buscou ponderar. Ele lembrou que há diferenças que devem ser levadas em conta na análise dos dados, como o número de ônibus que circulam na capital (cerca de 9 mil) em relação ao total do estado (34 mil, em 2012).

— A informação de que houve menos sinistros para motoristas e passageiros é um dado positivo, pois mostra que os acidentes estão apresentando menor gravidade. Esses acidentes com mortes de pedestres nos preocupam, sem dúvida. Eles podem ter relação com o próprio comportamento dos pedestres ou dos motoristas. Precisamos analisar melhor os dados. Mas é preciso ressaltar, por outro lado, que os ônibus do Rio andam 70 milhões de quilômetros por mês. São quase 60 voltas em torno da Terra todos os dias.

Em nota, o sindicato das Empresas de Ônibus da Cidade do Rio de Janeiro (Rio Ônibus), além de também ressaltar a diferença entre a frota da capital e a de todo o estado, informou desconhecer os dados do Dpvat. E acrescentou que “os recentes acidentes envolvendo ônibus não seguem um padrão, e que não é possível afirmar que foram causados por ônibus”. Para o Rio Ônibus, “fatores diversos concorreram para que eles (os acidentes) ocorressem, como carros particulares que avançaram sinal, comportamento imprudente por parte de pedestres e ciclistas e até a ação agressiva de passageiros”. Por fim, a entidade afirmou que “as sucessivas ocorrências preocupam as empresas e os órgãos de classe que as representam, mas exigem também serenidade e que não haja julgamentos precipitados. Somente os órgãos competentes podem se pronunciar sobre os motivos de cada um deles”.
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