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''Estou rezando mais por ele do que por mim'', diz Lula sobre Obama

Folha Online

Em encontro hoje com a presença da imprensa na Casa Branca, em Washington (EUA), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse a Barack Obama que reza mais pelo presidente americano do que por ele próprio.

"Com apenas 40 dias de mandato, ter um pepino como esse [a crise financeira]... Eu não queria estar na pele dele", disse Lula. "Ele está parecendo minha mulher falando comigo", brincou Obama, em resposta.

Lula é o primeiro presidente latino-americano a ser recebido na Casa Branca. Ele ressaltou o papel do presidente americano na região. "Obama tem a oportunidade histórica de melhorar as relações com a América Latina e a África", afirmou o presidente brasileiro. O democrata afirmou que espera visitar o Brasil em breve.

À imprensa, ao lado de Obama, Lula destacou ainda pontos que considera importantes para superar a crise econômica mundial, deflagrada nos Estados Unidos.

"O presidente Obama e eu estamos convencidos de que essa crise econômica pode ser resolvida com decisões políticas no próximo G20", disse Lula. "Precisamos restabelecer a credibilidade e a confiança da sociedade no sistema financeiro. Precisamos restabelecer a credibilidade e a confiança da sociedade nos governos. Para isso, precisamos fazer com que o crédito volte a fluir dentro dos países e também facilitar o comércio entre os países."

Relação

Os presidentes vão tentar iniciar uma relação que deve se estreitar futuramente. De acordo com analistas, mais que buscar acordos específicos, ambos tentarão estabelecer uma afinidade que facilite de um modo geral a relação entre Brasil e Estados Unidos. "Acho ótimo que se conheçam desde o princípio, nos primeiros 50 dias de Obama no cargo", disse à agência Efe Carla Hills, que foi representante de Comércio Exterior dos EUA durante o governo Bush.

Hills destacou que os interesses comuns são grandes. "Os dois países sofrem com a crise econômica e não podem se isolar do resto do mundo. Podemos falar abertamente a respeito do que podemos fazer para fomentar o progresso em nível global e sobre o que, particularmente, nos beneficiará."

O multilateralismo abraçado por Obama é algo que o aproxima de Lula, que tentou tirar o Brasil de seu tradicional retraimento e colocá-lo no centro dos debates internacionais. Os EUA colaboraram com o Brasil principalmente na promoção do etanol e na luta contra a malária e a Aids na África.

Esse vínculo "é um reconhecimento do emergir do Brasil no mundo e achamos que estamos num ponto no qual será possível tornar realidade todo o potencial dessa relação nos próximos meses e anos", disse o secretário de Estado adjunto para a América Latina, Thomas Shannon.

Tensão
Embora ambas as nações tenham interesses muito parecidos, entre elas também há alguns pontos menores de tensão. Um deles é o comércio. O Brasil protestou abertamente contra a cláusula Buy American (compre produtos americanos, em tradução livre), do pacote de estímulo econômico dos EUA, que privilegia a indústria nacional.

Depois que os principais parceiros comerciais do país reclamaram, o artigo foi modificado e agora especifica que o governo respeitará o tempo todo as obrigações contraídas nos tratados comerciais internacionais.

Outro tema delicado é a tarifa de US$ 0,54 (cerca de R$ 1,24) por galão (3,8 litros) com a qual os EUA taxam o etanol exportado pelo Brasil para proteger os produtores americanos. O governo brasileiro, cujo etanol de cana-de-açúcar é mais barato que o produzido a partir de milho nas destilarias americanas, já pediu várias vezes à Casa Branca que essa barreira alfandegária seja eliminada.

Além disso, um caso familiar surgiu nas relações entre ambos os países. O protagonista dele é Sean Goldman, cuja mãe, Bruna Carneiro Ribeiro, o trouxe para o Brasil há quatro anos, sem nunca mais voltar para os EUA. O pai do menino, David Goldman, luta para recuperar a guarda da criança, que encontra-se com o segundo marido de Bruna, morta há seis meses enquanto dava à luz uma menina.

Segundo Shannon, o polêmico caso chegou ao conhecimento de Obama. E a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, telefonou para Goldman, que está no Rio de Janeiro, para destacar a "importância que o caso" tem para os EUA, acrescentou o secretário de Estado adjunto.
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