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Notícias / Brasil

Lula chega à Casa Branca para encontro com Obama

AE-AFP-AP-Reuters

O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, chegou à Casa Branca às 11h de hoje (12h no horário de Brasília), sendo o primeiro presidente latino-americano a ser recebido pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, em Washingon. Os presidentes vão tentar começar com bom pé uma relação que prometem estreitar. Eles devem fazer uma declaração à imprensa em poucos momentos e depois deverão almoçar na embaixada brasileira.

De acordo com analistas, mais que buscar acordos específicos, os dois chefes de Estado tentarão estabelecer uma afinidade que facilite a relação entre Brasil e Estados Unidos. "Acho ótimo que se conheçam desde o princípio, nos primeiros 50 dias de Obama no cargo", disse Carla Hills, que foi representante de Comércio Exterior dos EUA durante o governo Bush.

Hills destacou que os interesses comuns são enormes. "Os dois países sofrem com a crise econômica e não podem se isolar do resto do mundo. Podemos falar abertamente a respeito do que podemos fazer para fomentar o progresso em nível global e sobre o que, particularmente, nos beneficiará."

O multilateralismo abraçado por Obama é algo que o aproxima de Lula, que tentou tirar o Brasil de seu tradicional retraimento e colocá-lo no centro dos debates internacionais. Os EUA colaboraram com o Brasil principalmente na promoção do etanol e na luta contra a malária e a Aids na África.

Esse vínculo "é um reconhecimento do emergir do Brasil no mundo e achamos que estamos num ponto no qual será possível tornar realidade todo o potencial dessa relação nos próximos meses e anos", disse o secretário de Estado adjunto para a América Latina, Thomas Shannon.

Os líderes também vão conversar comparar as anotações sobre dois fóruns internacionais que estão nas agendas no próximo mês, do G20 (grupo dos países ricos e os principais emergentes).

Tensão

Embora ambas as nações tenham interesses muito parecidos, entre elas também há alguns pontos menores de tensão. Um deles é o comércio. O Brasil protestou abertamente contra a cláusula Buy American (compre produtos americanos, em tradução livre), do pacote de estímulo econômico dos EUA, que privilegia a indústria nacional.

Depois que os principais parceiros comerciais do país reclamaram, o artigo foi modificado e agora especifica que o governo respeitará o tempo todo as obrigações contraídas nos tratados comerciais internacionais.

Outro tema delicado é a tarifa de US$ 0,54 (cerca de R$ 1,24) por galão (3,8 litros) com a qual os EUA taxam o etanol exportado pelo Brasil para proteger os produtores americanos. O governo brasileiro, cujo etanol de cana-de-açúcar é mais barato que o produzido a partir de milho nas destilarias americanas, já pediu várias vezes à Casa Branca que essa barreira alfandegária seja eliminada.

Além disso, um caso familiar surgiu nas relações entre ambos os países. O protagonista dele é Sean Goldman, cuja mãe, Bruna Carneiro Ribeiro, o trouxe para o Brasil há quatro anos, sem nunca mais voltar para os EUA. O pai do menino, David Goldman, luta para recuperar a guarda da criança, que encontra-se com o segundo marido de Bruna, morta há seis meses enquanto dava à luz uma menina.

Segundo Shannon, o polêmico caso chegou ao conhecimento de Obama. E a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, telefonou para Goldman, que está no Rio de Janeiro, para destacar a "importância que o caso" tem para os EUA, acrescentou o secretário de Estado adjunto. A previsão é de que o tema seja abordado no encontro deste sábado entre Lula e Obama.

Um tratado ratificado entre os dois países obriga o retorno de Sean aos EUA, onde as tribunais deverão decidir quem terá a guarda da criança. Porém, o governo brasileiro não quis se envolver no caso. "É um assunto que está na Justiça, que é do direito da família", declarou há algumas semanas em Washington o chanceler Celso Amorim, após uma reunião com Hillary sobre o encontro de amanhã entre os presidentes.

Ambos os governos, no entanto, acham que essas diferenças não amargarão uma relação que promete se desenvolver ainda mais.
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