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Brasil está em posição favorável para atrair investimentos, dizem especialistas

Folha Online

O Brasil está em posição mais favorável que outros países emergentes para atrair investimentos estrangeiros, devido a seus fundamentos econômicos e instituições mais sólidas, mas a recuperação desses investimentos segue mais lenta que o esperado, segundo especialistas ouvidos pela Folha Online.

O professor de finanças José Cezar Castanhar, da FGV (Fundação Getulio Vargas) no Rio de Janeiro, diz que a queda no fluxo de capital privado no Brasil será proporcionalmente menor que em outros dos países emergentes. O comentário vem no dia em que o Banco Mundial previu que o fluxo de capital privado para os países em desenvolvimento cairá 48% neste ano, para US$ 363 bilhões, contra os US$ 707 bilhões registrados no ano passado (a queda é pior que a vista entre 2007 e 2008, de 41% --em 2007 o fluxo foi de US$ 1,2 trilhão).

Em um relatório divulgado no mês passado, a Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe) informou que o Brasil recebeu ao todo US$ 89,862 bilhões em investimento estrangeiro direto (IED), um aumento de 30% em relação ao ano anterior.

Segundo Castanhar, o papel desses investimentos no Brasil é suplementar, diferentemente de outros países emergentes, onde esses capitais têm um papel mais forte.

"Os investidores estrangeiros já entenderam que o Brasil é atrativo para o capital, seja por que passou um bom tempo cuidando de seus fundamentos, seja porque tem fundamentos econômicos consistentes, seja porque tem instituições consolidadas, como eleições previsíveis e um mercado financeiro bem regulamentado", afirmou.

Já Fabio Kanczuk, professor associado do Departamento de Economia da FEA-USP (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade), destaca que o ritmo da economia global já começou a se recuperar, e "o que é de se estranhar é a lentidão dessa recuperação".

"É natural que aconteça isso [queda no fluxo de investimentos estrangeiros]. Com a queda na economia no mundo todo, com o aumento de aversão ao risco, o pânico e tudo mais que aconteceu, o nível de investimentos se enxuga mesmo. Ninguém se sente animado a investir fora", afirmou.

Ritmo lento


Kanczuk disse que o Brasil tem uma boa posição em relação aos demais emergentes, devido por exemplo à solvência fiscal do país. Ele destacou também a decisão do governo da China de continuar a investir para manter o ritmo da economia chinesa, o que beneficia as exportações brasileiras de commodities.

Ele ainda lembrou que os dados do estudo do Banco Mundial são mais um reflexo do que já passou na economia, e que as perspectivas são de melhora. Segundo ele, no entanto, o ritmo da melhora da economia brasileira ainda é lento. "O que surpreende não é que estejamos já vendo um ritmo de melhora, mas que essa melhora esteja em ritmo tão lento", disse.

Com uma queda acentuada, cria-se uma capacidade ociosa, mas quando surge a ocasião para voltar a crescer, a capacidade produtiva já existente só precisa ser colocada de volta em operação, segundo ele. "essa retomada, no entanto, está sendo lenta", afirmou.

Banco Mundial


Devido à crise que afetou a economia mundial no ano passado, praticamente todas as grandes empresas sofreram quedas de lucros, ao mesmo tempo em que as condições estritas da oferta de crédito e a fraca demanda global limitam a capacidade e a disposição das empresas para investir, diz o documento.

De acordo com o Banco Mundial, o nível e a duração da contração nos fluxos de capital privado para os países em desenvolvimento, bem como seu impacto em geral, vão depender da rapidez com que a confiança dos investidores for restaurada, do grau em que os mercados internacionais voltarem ao normal e do grau em que a cooperação internacional conseguir reduzir os danos.

OCDE

No estudo divulgado hoje, o Banco Mundial previu que a economia global neste ano terá uma queda de 2,9%, muito acima do 1,7% previsto anteriormente.

No último dia 8, o presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, afirmou que, no médio prazo, países como Brasil, China e Índia "terão um papel importante" e advertiu do risco sobre as nações europeias centrais se a integração com o resto da Europa for interrompida. Ele disse ainda que a China não é um país em desenvolvimento normal e que "provavelmente surpreenderá de forma positiva".

Já o secretário-geral da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), Ángel Gurría, disse no último dia 16 que as economias de Estados Unidos, China e Japão evoluíram melhor que o previsto nos últimos meses. Inicialmente, a OCDE previu para 2009 uma queda média de 0,3%, e uma contração econômica de 0,9% nos EUA e de 0,1% no Japão, assim como uma expansão de 8% na China.

O responsável da OCDE anunciou que o organismo revisará suas projeções no próximo dia 24 (próxima quarta-feira) e explicou que a melhora das perspectivas é atribuível aos "enormes pacotes de estímulo econômico".

Para Gurría, o que está acontecendo na economia mundial permite pensar que entre "fins de 2009 e princípios de 2010" haverá uma recuperação na situação do mercado de trabalho, embora tenha especificado que este não será "um ano histórico".
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