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Acusado de interferência, Reino Unido retira famílias de diplomatas do Irã

Folha Online

O Reino Unido, acusado pelo líder supremo do Irã, Ali Khamenei, de fomentar a agitação pós-eleitoral no país, disse que está retirando as famílias de diplomatas e outros funcionários britânicos do Irã, transformando-se no primeiro país a tomar essa decisão durante o pior conflito interno no Irã desde a Revolução Islâmica de 1979. Desde o dia 13, manifestantes tomam as ruas da cidade em protesto contra supostas irregularidades na eleição do dia 12, que deu a vitória ao presidente Mahmoud Ahmadinejad.

O governo do Reino Unido afirmou nesta segunda-feira que, salvo em casos de extrema necessidade, os britânicos não devem viajar ao Irã, que desde as eleições presidenciais do último dia 12 registra protestos e distúrbios.

Em nota, o Ministério de Relações Exteriores ressaltou que ainda não é necessário aconselhar os britânicos a deixar o Irã. Porém, o governo já decidiu repatriar os familiares dos diplomatas que o Reino Unido mantém em Teerã.

O Executivo disse ainda que, por precaução, os britânicos que se encontram no Irã devem evitar participar das manifestações e de grandes concentrações públicas.

A Chancelaria do Reino Unido reconheceu que "a violência contínua teve um grande impacto na vida cotidiana das famílias" dos diplomatas que trabalham em solo iraniano.

Na sexta-feira (19) o aiatolá Ali Khamenei, acusou os "inimigos do Islã" de serem os causadores dos distúrbios no país e culpou diretamente a imprensa estrangeira de instigá-los, citando os britânicos. O Reino Unido, que comandou a indústria petrolífera do país durante grande parte do século 20, é um dos alvos preferidos dos discursos nacionalistas das lideranças iranianas, juntamente com os Estados Unidos e Israel.

O fato de a rede britânica BBC ser pública levou o governo iraniano a declarar que qualquer colaboração a empresa seria uma traição ao país.

Nesta segunda-feira, a Itália também aconselhou empresários e turistas do país a "adiar por enquanto viagens desnecessárias ao Irã". "É desaconselhável viajar ao Irã devido às desordens que se verificam desde as eleições de 12 de junho passado. A incerteza reina em Teerã e em outras cidades", diz um comunicado publicado pelo Ministério das Relações Exteriores em sua página na internet.

Na nota, a chancelaria aconselha aqueles que decidirem viajar a "serem prudentes em seus deslocamentos e limitá-los ao mínimo necessário".

A Itália, com a Alemanha, figura entre os maiores parceiros comerciais europeus do Irã.
Protestos

Nesta segunda-feira, a polícia atacou centenas de manifestantes com gás lacrimogêneo e disparou tiros para o ar para dispersar uma manifestação no centro de Teerã. Testemunhas disseram que helicópteros pairavam sobre cerca de 200 manifestantes reunidos na praça Haft-e-Tir Square, e centenas de policias antimotim rapidamente deram fim à manifestação e impediram que qualquer grupo, mesmo pequeno, se reunisse no local.

Na estação de metrô em Haft-e-Tir, testemunhas disseram que a polícia não permitir que ninguém ficasse parado, dizendo às pessoas que continuassem andando e separando as pessoas que andavam juntas. As testemunhas pediram para não ser identificado por medo de represálias do governo.

Pouco antes do confronto, uma mulher iraniana que vive em Teerã disse que havia uma forte presença policial e de segurança em outra praça no centro de Teerã. Ela pediu para não ser identificado porque ela estava preocupada represálias. "Existe uma enorme, enorme, e maciça presença policial", disse ela. "A presença foi muito intimidante."

Prisões e mortes

A polícia iraniana afirma que 457 pessoas foram presas nos confrontos de sábado passado na capital Teerã, que deixou ainda cerca de cem feridos. Nesta segunda-feira, o governo anunciou que "cinco espiões europeus", acusados de participar dos "distúrbios" que ocorrem em Teerã, também foram detidos. A agência de notícias "Fars", que não cita fontes, diz que dois alemães, dois franceses e um britânico foram detidos por estarem "entre os principais ativistas dos distúrbios de sábado em Teerã".

As detenções aconteceram durante os confrontos entre manifestantes e forças de segurança, polícia e a milícia paramilitar Basij, nas proximidades da praça Azadi da capital do país.

De acordo com a Fars, os enfrentamentos de sábado deixaram ainda 40 policiais feridos e 34 prédios governamentais danificados.

Faezeh Hashemi, filha do ex-presidente Akbar Hashemi Rafsanjani, e outros quatro membros de sua família que haviam sido detidos no sábado pela polícia "para a própria segurança", segundo as autoridades, foram liberados.

O principal adversário do presidente Ahmadinejad, Mir Hossein Mousavi, classificou o pleito de fraude e insiste ser o verdadeiro vencedor. Seus seguidores têm participado de protestos diários, atraindo centenas de milhares de pessoas, desde que o resultado da eleição foi anunciado.

O protesto desta segunda-feira foi convocado por Mousavi em homenagem à Neda, a jovem morta a tiros nos protestos enquanto falava com seu pai. A imagem se tornou um emblema da violência com que as forças de segurança tentam conter os protestos.

O presidente do comitê judiciário do Parlamento iraniano, Ali Shahrokhi, afirmou que há motivos para perseguir legalmente Mousavi por agir contra a segurança nacional ao convocar protestos de rua.

"A convocação de protestos ilegais por Mousavi e suas declarações provocativas têm sido a fonte de recentes prisões no Irã. Tais atos criminosos devem ser confrontados firmemente", disse Shahrokhi à agência de notícias Fars.
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