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Lula volta a defender eleição de Ahmadinejad e lamenta mortes no Irã

Folha Online

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva lamentou nesta terça-feira as mortes provocadas no Irã pela repressão aos manifestantes que protestam contra uma suposta fraude na eleição que reelegeu o presidente Mahmoud Ahmadinejad no último dia 12. O presidente brasileiro, que anteriormente havia dito que não acreditava que o resultado da eleição iraniana tivesse sido adulterado, afirmou que o povo iraniano não pode se transformar em vítima da irresponsabilidade de agentes políticos.

"Há uma oposição que não se conforma [com o resultado das eleições]. O resultado desse conflito são inocentes morrendo, o que é lamentável e inaceitável por parte de qualquer democrata do mundo", afirmou o governante em declarações a jornalistas no Rio de Janeiro.

"Agora, ou a Justiça iraniana [intervém], ou o governo e a oposição se sentam e param o conflito, ou há novas eleições, ou se deixa como está, mas o povo não pode continuar sendo vítima da irresponsabilidade dos agentes políticos do Irã", acrescentou.

Até agora, os protestos e confrontos no Irã deixaram pelo menos 20 mortos, segundo os números oficiais.

Lula recebeu críticas de setores da oposição no Brasil devido à rapidez com que, na semana passada, saiu em defesa da vitória eleitoral de Ahmadinejad e atribuiu as manifestações contra os resultados a "protestos de quem perdeu", fazendo uma comparação com torcidas de futebol, assim como fizera o presidente iraniano.

Diante das críticas, o governo brasileiro tentou reinterpretar as declarações do presidente, afirmando que o país não tem uma posição definida sobre a eleição iraniana

Nesta terça-feira, Lula reiterou as declarações que tinha concedido na semana passada.

"Nas eleições brasileiras, as suspeitas de fraude geralmente ocorrem quando a diferença de votos entre os candidatos é de 1% ou 2%, e não quando há uma diferença tão expressiva", afirmou.

"Existem coisas quase inexplicáveis no Irã. Há uma eleição na qual um cidadão obteve 62% dos votos. É muito difícil que alguém com 62% dos votos...", acrescentou o presidente, ao dar a entender que, em sua opinião, a possibilidade de fraude é pequena.

O argumento é semelhante ao utilizado pelo líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, que disse em sermão na última sexta-feira que as eleições haviam sido justas e questionou: "Como alguém pode fraudar 11 milhões de votos?".

Posteriormente, o Conselho dos Guardiães --misto de Senado e tribunal superior, responsável por ratificar a eleição-- reconheceu que houve mais votos que eleitores em 50 cidades. Apesar de admitir erro em cerca de três milhões de votos, a instituição endossou a vitória do presidente, e descartou anular a eleição.

A reação internacional tem variado. O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, tem se manifestado em favor do diálogo e do direito de manifestação, com cautela para não ser acusado de interferência pelo governo do Irã, país com o qual os EUA não têm relações diplomáticas há três décadas. Mas a oposição republicana reclama um apoio mais firme aos protestos. Nesta terça-feira, Obama disse estar "escandalizado" com a violência no Irã.

Mesmo com esses cuidados, o governo iraniano disse que os EUA têm se intrometido em seus assuntos internos, assim como o Reino Unido --dois diplomatas britânicos foram expulsos do país. França e Alemanha fizeram manifestações mais firmes sobre as possíveis fraudes, enquanto Rússia e China afirmaram que se trata de um "assunto interno" do Irã.

Os presidentes da Rússia, Dmitri Medvedev, da China, Hu Jintao, e dos demais membros da Organização de Cooperação de Xangai cumprimentaram Ahmadinejad pela vitória em uma cúpula da Organização de Cooperação de Xangai, realizada na Rússia na semana passada.

Nesta segunda-feira, o secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), Ban Ki-moon apelou para que houvesse uma interrupção imediata das "detenções, ameaças e do uso da força" contra civis no Irã.
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