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Depois de largar o crime e virar modelo, ex-traficante dá os primeiros passos no futebol americano pelo Botafogo

Extra

Após anos dedicados a proteger o chefe do tráfico, o submundo foi deixado de lado. As armas e a proteção agora são outras. Desde novembro de 2012, Diego Raimundo da Silva Santos busca no futebol americano o sonho de ser, um dia, jogador na NFL, a milionária liga dos Estados Unidos. O carioca poderia ser só mais um atleta nascido e criado no Complexo do Alemão, e que teve a chance de entrar na modalidade pouco praticada no Brasil. Seria... Se não fosse o Mister M, famoso ex-traficante que se entregou após apelos da mãe na invasão da favela, em 2010.

Hoje, a vida bandida é um passado apagado, e o esporte, o presente de um futuro melhor. Foi no Botafogo que o jovem encontrou a oportunidade de continuar a mudar mais ainda a sua vida. Diego caiu de paraquedas no esporte, por sugestão de um amigo que trabalha com ele na ONG AfroReggae.

— Sempre via jogo da NFL, mas nunca imaginava que ia saber jogar. Nem sabia que tinha no Brasil. Fiz um teste no time de praia do Botafogo, o Mamute, e passei. Entrei em novembro. Há um mês estou no time de grama — disse ele, que é “linebacker”, o defensor que ataca o armador das jogadas de ataque.

Antes, a expressão carrancuda prevalecia quando ainda era chamado de Mister M. Hoje, o ar calmo e feliz se mantém, até porque o apelido não é mais usado. Os companheiros sabem da sua história, mas nunca falaram nada. E criaram novas brincadeiras com ele.

— Eles me chamam de “Blade”, o caça vampiros. Ou “Fifty”, por causa do 50 Cent. Os apelidos são bons porque esquecem o Mister M. Passou, era outra vida. Nem penso mais. O que passei serve de exemplo — afirmou.

Se andar na rua era um problema e ele era visto como mau exemplo, a situação mudou e crianças sonham chegar onde ele está.

— Passo na rua e eles me falam: “Quero ser que nem ‘tu’ quando crescer”. Isso não tem preço. Sou mais feliz agora. Não gosto nem pensar nisso de tráfico. É passado.

Vida dupla de modelo e jogador

O futebol americano só entrou na vida de Diego agora, e o carioca concilia o esporte com um trabalho que ele tem orgulho de falar sempre: modelo fotográfico. As duas novas profissões eram impensáveis para o jovem criado na favela e no meio da desigualdade. A oportunidade surgiu quando ele deixou a prisão. O trabalho de posar para fotos e desfilar na passarela virou uma grande emoção.

— Tinha umas meninas que falavam que eu era bonito (risos), mas nunca imaginava que seria modelo. Muito menos jogador. Quando a pessoa quer uma coisa, mudar de vida, ninguém atrapalha. Foi o que aconteceu comigo — explicou.

Assim como na sua primeira vez como modelo, a estreia como jogador no futebol americano foi de luxo. No dia 15 de junho, quando completou 28 anos, Diego estava em campo com o Botafogo diante do Ipatinga Tigres. O time venceu por 27 e 0. Modesto, ele se autoelogia.

— Foi uma estreia boa. Até porque, na minha posição, tem que ter força, rapidez e inteligência. E isso é comigo mesmo — disse o atleta, que deu vários “tackles” (derrubar o adversário).

Com o Alvinegro, Diego disputa o Torneio Touchdown, o Campeonato Brasileiro da modalidade. O objetivo é brigar pelo título.

— Aqui, quero ser campeão. É um sonho — falou o jovem, que quer jogar na NFL. — Tomara que um time de lá (EUA) venha aqui e leve uns dez para jogar lá. Penso nisso em todo o jogo. Sempre dar meu 100%, sempre ser o melhor e assim chegar longe.

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