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Novo ciclo de Medicina pode ser inócuo e causar aumento da fila do SUS, diz médico da família

Da Redação - Jardel P. Arruda

O novo ciclo de Medicina proposto pelo Governo Federal, em que os acadêmicos deverão prestar dois anos obrigatórios de serviços no Sistema Único de Saúde, pode ser inócuo no sentido de ampliar o atendimento do Sistema Único de Saúde (SUS) na atenção básica e, até mesmo, causar um efeito contrário, aumentado as filas de esperas por médicos especialistas.

Estudantes de medicina terão que trabalhar 2 anos no SUS

Essa é a opinião de Werley Peres, que há oito anos trabalha com exclusividade para o SUS como médico da família. Para ele, os estudantes de Medicina estão sendo treinados para serem especialistas e por isso estão despreparados para lidar com o dia-a-dia da saúde familiar, podendo se tornar meros “encaminhadores” de pacientes.

Duração do curso de medicina subirá de 6 para 8 anos a partir de 2015

“Hoje todos estão preocupados em formar especialistas. E para trabalhar na atenção básica é preciso ser mais generalista. Então, ou mudam a base nas faculdades, ou então vamos ter médicos nos PSF que só vão encaminhar os pacientes para outros especialistas. Por exemplo, chega alguém com dor de cabeça e aí ele encaminha para um neurologista”, opinou.

Para Peres, é preciso mudar as bases da faculdade a fim de evitar que o aumento de médicos na atenção básica reflita de maneira inversamente proporcional na qualidade do atendimento ao paciente.

O lado bom

Contudo, a medida é vista com bons olhos pelo médico por colocar o estudante em contato com a realidade da saúde no Brasil. Para tanto, ele acredita que o Governo Federal precisa pensar em um amplo sistema de preceptoria e tutoria para dar capacitação aos acadêmicos.

“Na verdade, inserir o profissional da saúde na atenção básica não é má ideia. Contudo, o aluno precisa ser estimulado a ficar lá e ter as condições para isso. Quanto mais contato com gente, quanto mais contato com patologias, mais prática e mais efetividade ganha o médico. E isso é muito bom”, disse o médico da família, em entrevista por telefone ao Olhar Direto.

“Mais Médicos”

O ministro da Educação, Aloízio Mercadante, anunciou durante o lançamento do programa “Mais Médicos” que o curso de Medicina aumentará em dois anos de duração. Nos anos adicionais o Governo quer que o estudante cumpra mais dois anos de curso trabalhando para o SUS recebendo uma bolsa de estudos.

No primeiro ano o acadêmico atuaria atenção básica, como o Programa da Saúde da Família, e no segundo ano nos setores de urgência e emergência. Esses dois anos não excluem a necessidade do universitário passar pelo internato, no qual o estudante do quinto e sexto ano trabalha em várias unidades da rede publica sendo tutorado.
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