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Novo coronavírus Mers atinge mais homens, idosos e doentes, diz estudo

G1

 O maior estudo já feito sobre o novo coronavírus Mers (sigla para Síndrome Respiratória Coronavírus do Oriente Médio), identificado na Arábia Saudita no ano passado e responsável por matar pelo menos 40 pessoas em todo o mundo, foi publicado nesta sexta-feira (26) na revista científica "The Lancet Infectious Diseases".

Os pesquisadores – do University College de Londres, da Universidade de Bonn, na Alemanha, e do Ministério da Saúde da Arábia Saudita – identificaram as principais diferenças entre o Mers e a Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars), que surgiu na China em 2002 e matou mais de 800 pessoas em todo o mundo até 2003.
Os autores analisaram aspectos epidemiológicos, demográficos, clínicos e laboratoriais de 47 casos do Mers-CoV, incluindo 46 adultos e uma criança sauditas que foram contaminados entre setembro de 2012 e junho de 2013.
A doença se concentra principalmente na Arábia Saudita, embora tenha atingido outros países, como Jordânia, Qatar, Tunísia, Emirados Árabes Unidos, Grã-Bretanha, França, Alemanha e Itália. Apesar disso, quase todas as vítimas eram sauditas ou estavam ligados a pessoas que contraíram o vírus por lá.
Homens, idosos e doentes
Segundo os cientistas, a maioria dos pacientes infectados eram homens, idosos ou indivíduos com alguma outra doença associada. Entre os sintomas mais reportados, estavam febre (98%), calafrios ou rigidez no corpo (87%), tosse (83%), falta de ar (72%) e dores musculares (32%). Um quarto das vítimas também apresentou sinais gastrointestinais, como diarreia e vômitos.

Apesar disso, ao contrário da Sars, a maioria dos casos foi registrada em pessoas com doenças crônicas subjacentes, como diabetes (68%), pressão alta (34%), doença cardíaca crônica (28%) e doença renal crônica (49%).
"Apesar de compartilhar algumas semelhanças clínicas com a Sars (como febre, tosse e um período de incubação), há também algumas diferenças importantes, como a rápida progressão para insuficiência respiratória, até cinco dias antes da Sars", explica o professor Ziad Memish, vice-ministro da Saúde da Arábia Saudita, que liderou o estudo.
"Em contraste com a Sars, que era muito mais infecciosa, especialmente nos serviços de saúde, e afetou um grupo saudável e uma faixa etária mais jovem, o Mers parece mais letal, com óbito de 60% dos pacientes com doenças crônicas coexistentes, em comparação com 1% na Sars. Embora essa alta taxa de mortalidade do Mers provavelmente seja falsa, devido ao fato de que estamos apenas pegando casos graves, além de faltar um número significativo de casos mais leves ou assintomáticos, até agora há pouco para indicar que o Mers seguirá um caminho semelhante ao da Sars", completa Memish.

há também algumas diferenças importantes (do Mers em relação à Sars), como a rápida progressão para insuficiência respiratória, até cinco dias antes da Sars"
Ziad Memish,
vice-ministro da Saúde da Arábia Saudita
'Ponta do iceberg'
Segundo o coautor Ali Zumla, professor do University College de Londres, "a recente identificação de casos mais leves ou assintomáticos do Mers em profissionais de saúde, crianças e familiares que tiveram contato com o coronavírus indica que estamos apenas relatando a ponta do iceberg, dos casos graves, e há um espectro de doença clínica mais branda que exige definição urgente".
Para o professor, será preciso identificar a fonte de infecção da doença, fatores que predispõem à contaminação e outros indícios que podem levar a uma evolução ruim dos casos. Enquanto isso, as medidas de controle nos hospitais parecem estar funcionando, acredita Zumla.
Outro coautor da pesquisa, o professor Christian Drosten, da Universidade de Bonn, reforça que é necessário desenvolver urgentemente testes precisos de diagnóstico – como exames de sorologia, com anticorpos específicos – para complementar os esforços de controle da doença.
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