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Manifestantes são passíveis de execução, diz clérigo do Irã em sermão

Folha Online

O clérigo Ahmed Khatami disse nesta sexta-feira, em um sermão transmitido pela TV, que os líderes dos protestos que geram caos político no país há quase duas semanas serão punidos com rigor e que alguns são "passíveis de execução", de acordo com tradução da agência de notícias Associated Press.

Conforme a agência Reuters, o que o clérigo disse foi que os manifestantes são "mohareb", pessoas que entram em guerra a Deus, e que devem ser punidos "com rigor e selvageria". Pela lei islâmica, a punição para os "mohareb" é a execução.

"Qualquer um que luta contra o sistema islâmico ou o líder da sociedade islâmica o fazem até a destruição completa", disse o clérigo Khatami, em discurso pronunciado na Universidade de Teerã. "Pedimos que o Judiciário confronte os líderes dos protestos, das violações, e aqueles que apoiam os Estados Unidos e Israel fortemente e, sem piedade, dê uma lição a todos."

O clérigo, além de acusar os manifestantes de estarem em "guerra com Deus", também criticou a mídia estrangeira de divulgar falsas notícias, principalmente a britânica BBC. "Em sua inquietação, os britânicos têm se comportado de forma obscura e é certo acrescentar o slogan "abaixo o Reino Unido' ao slogan "abaixo os EUA'", disse o clérigo que, na sequência, foi interrompido pela plateia, que gritava "morte a Israel".

O governo iraniano acusa a mídia ocidental de incentivar os protestos e já cassou as licenças de trabalho dos jornalistas estrangeiros e expulsou dois diplomatas britânicos --o Reino Unido reagiu, expulsando dois diplomatas iranianos.

No seu sermão, Khatami ressaltou que a jovem Neda Agha Soltan, 27, morta com um tiro durante um protesto em Teerã, foi assassinada pelos próprios manifestantes, e não pelas forças iranianas. "A prova de que eles [manifestantes] fizeram isso é a propaganda que foi levantada contra o sistema", disse.

O vídeo com a morte de Neda rodou o mundo e virou símbolo dos protestos contra a reeleição de Ahmadinejad.

Suspeitas

Mais cedo, o Conselho de Guardiães, a máxima instância constitucional do país e responsável pela fiscalização da eleição, negou haver traços de fraude no pleito e constituiu uma comissão de personalidades políticas e representantes dos três candidatos derrotados por Ahmadinejad --entre eles, o principal líder da oposição, Mir Hossein Mousavi-- e afirmou que todos farão a recontagem dos votos de 10% das urnas, para provar a "sanidade" do processo.

"Na presença da comissão, 10% das urnas serão analisadas e as suas conclusões serão divulgadas", explicou o porta-voz. Entre os integrantes da comissão estão o chanceler Ali Akbar Velayati e o ex-presidente do Parlamento Gholam Ali Hadad Adel.

O resultado oficial da eleição, que deu vitória para o presidente Mahmoud Ahmadinejad, com 62,63% dos votos contra 33,75% do principal adversário, reformista Mis Hossein Mousavi, é duramente contestado pela oposição. As manifestações, concentradas em Teerã, configuram a maior crise política do Irã desde a Revolução Islâmica de 1979 e têm sido reprimidos com grande violência por parte do governo e pela milícia islâmica, conhecida como basij.

Nesta segunda-feira (22), o próprio Conselho de Guardiães admitiu que houve fraude em ao menos 50 cidades do país, nas quais o número de votos superou o de eleitores registrados. No entanto, o órgão entendeu que isso afetou apenas 3 milhões de votos e, por isso, não é suficiente para questionar a vitória de Ahmadinejad.

O conselho recebeu até agora dos três candidatos derrotados --Mousavi, Mehdi Karubi e Mohsen Rezai-- 646 queixas de irregularidades na votação.
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