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Comissão concede anistia a mulheres perseguidas durante o regime militar

Folha Online

Em sessão de homenagem ao Dia Internacional da Mulher, a Comissão de Anistia do Ministério da Justiça concedeu ontem anistia e reparação financeira a mulheres que combateram e foram perseguidas pela ditadura militar (1964-85). Nos 17 processos analisados foram contemplados também, postumamente, ex-maridos, pais e irmãos das mulheres.

Entre as anistiadas, duas estão entre as personagens mais emblemáticas do período de resistência e que, por consequência, tiveram suas famílias quase dizimadas pelas forças de repressão: Iara Xavier e Denise Crispim.

Desde cedo envolvida com a política, por influência dos pais, Iara conviveu em casa com Carlos Marighela --quem, segundo ela, a "inspirou a ser a pessoa que é'.

Ex-integrante da ALN (Ação Libertadora Nacional), Iara pegou em armas, treinou guerrilha em Cuba e participou de diversas expropriações. Nunca foi presa, mas perdeu os dois irmãos em menos de seis meses. Alex foi morto em janeiro de 72 e Iuri, em junho. A mãe foi presa e torturada.

O marido, Arnaldo Cardoso Rocha, também da ALN, foi morto em 1973, quando Iara estava grávida de três meses. Ela receberá de indenização R$ 100 mil.

Denise, que vive na Itália desde que deixou o país, nos anos 70, perdeu o companheiro, Eduardo Leite (conhecido como "Bacuri") quando estava grávida dele, de seis meses. Disse tê-lo visto pela última vez na prisão, "desfigurado'.

Seus pais também foram perseguidos e o irmão foi assassinado em 1970. Denise, muito emocionada na sessão, reclamou do valor da pensão, de R$ 1.236 mensais --mais indenização de R$ 110 mil. "Me senti humilhada. Uma avaliação de uma vida baseada em forte conotação burocrática."

A ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), outra perseguida pela ditadura, foi convidada a participar da sessão, mas não pôde comparecer por falta de agenda. Em carta, ela se referiu à "perigosa travessia" e exaltou o papel das mulheres.

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