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Notícias / Cultura

Bulixos: a tradicional cultura dos armazéns “com tudo para todos”

Da Redação/Thalita Araújo e Lucas Bólico

Com um pequeno espanador que, rápido e constantemente, percorre a superfície de muitos produtos, Alberto Zaque, cuiabano filho de libanês, passa grande parte do dia na calçada de seu comércio, o Armazém Abraão, localizado na Rua 24 de Outubro. E, assim, à moda antiga, ele mantém a cultura do “bulixo” em Cuiabá, sendo seu armazém um dos últimos que ainda se encontra por aqui. E que, em breve, pode fechar.

Os bulixos, tradicionais na cultura cuiabana, eram casas comerciais que tinham de tudo, desde produtos que qualquer dona de casa precisaria até variados utensílios para trabalhadores rurais. E, “seo” Zaque, nos seus 78 anos de idade, tem quase 60 neste ramo de comércio.

Sem importar-se com as tendências modernas e com a maneira como os empreendimentos vizinhos trabalham, Alberto organiza os produtos que vende da mesma maneira que os via quando era criança: estrategicamente posicionados nas calçadas, pendurado pelas paredes, portas, empilhados em grandes alturas. Ele faz questão que seja assim, pois é a primeira imagem que teve de um armazém.

E, por ali, entre as histórias de Zaques e o espanador ligeiro, figuram diversas peças de alumínio batido, como panelas, canecas, bacias de variados tamanhos e lamparinas (daquelas que você, se muito novo, nunca deve ter visto...). De outro lado surgem balaios e mais balaios de bambu, cestos, chapéus de palha, produtos diversos de artesanato.

Há baldes daqueles de alumínio, raladores diversos para fazer pamonha, ralar mandioca, fazer o tradicional doce furrundú... Pelas paredes, intercalados, há conchas, escumadeiras e colheres enormes, de alumínio também, muito procuradas por donos de restaurantes da região. De grampos de cabelo, passando por sacos de café e chegando às tradicionais ratoeiras, muito se acha ali. Até o antigo “sucuri”, um utensílio de palha para escorrer massa de mandioca para fazer farinha.

E para comer? Não tem marmelada, não senhor (mas se fizer encomenda, pode até ter). Tem rapadura de leite, tradicional, de banana, doce de leite, furrundú, queijo fresco. Tudo deliciosamente vindo de Nossa Senhora do Livramento.

Zaques, há 53 anos, tem uma esposa e companheira, Cecília Monteiro da Silva Zaque, nascida em Livramento e de personalidade doce, muito doce – mais até que as encomendas de Livramento. Ela ajuda a tocar o comércio e conta as histórias do marido. “Ele sabe exatamente onde está cada coisa”.

O Bulixo com os dias contados

Apesar da infinidade de mercadorias, memórias e histórias que o “Armazém Abraão” abriga, seus dias estão contados. É com tristeza no olhar que “seo” Alberto conta que até o fim do ano pretende fechar o estabelecimento. A companheira dor nas costas já não lhe permite que continue a tocar o negócio. As rendas advindas do estabelecimento também já não são suficientes. Ele e dona Cecília Monteiro, sua senhora, se sustentam graças ao aluguel de uma casa e a uma aposentadoria que não é lá essas coisas.

Fechando um dos últimos bulixos ainda existentes na capital, Cuiabá vira mais uma página de sua história, cultura e tradição.
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