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No circo, pais artistas transformam brincadeiras dos filhos em trabalho

G1

Aos 13 anos, André Vitor Faria Garcia guarda a sete chaves os segredos do pai que, entre outras estripulias, faz aparecer, num passe de mágica, um helicóptero no picadeiro do circo onde trabalha e vive com a família. Assim como André, outras 19 crianças da mesma trupe têm o privilégio de assistir aos pais transformarem brincadeiras em trabalho diante de plateias do mundo inteiro. Nesse Dia dos Pais, mágicos, equilibristas e acrobatas do circo Tihany contam os prós e contras de criar os pequenos em um ambiente pouco convencional.

“Eu sei todos os truques. Meu pai me ensina e eu já treino alguns. O que eu mais gosto é o que eu faço desaparecer um dedal”, conta André que admite ser assediado pelos coleguinhas de escola, que insistem em saber como o pai mágico faz coisas tão incríveis. O garoto ainda não sabe o que quer ser quando crescer, mas o pai, orgulhoso, garante que ele leva jeito e deve seguir os passos da família tradicional de circo.

A mesma certeza tem o acrobata da Mongólia Ambra Yadamatso sobre as duas filhas, Kayla e Kelly, de 3 e 6 anos de idade. Elas se divertem nos bastidores do espetáculo enquanto o pai demonstra força, equilíbrio e concentração no número em que executa variações de parada de mão. A mais velha nasceu nos Estados Unidos, aprendeu, nas viagens com o pai, quatro idiomas e já brinca de fazer contorcionismo.

Para Henrry Junior e Angelo, a fase de infância já passou e o que antes era brincadeira, hoje é ganha-pão, garantido ao lado do pai, Henrry Ayala, com quem realizam no mesmo circo um número de equilibrismo na corda-bamba. “É um trabalho de muito perigo e risco. Então, tem que confiar na pessoa com quem você está trabalhando. E quem melhor em que se confiar que o seu pai? Ele me pede uma coisa e me faz acreditar que eu posso fazer”, explica Junior.

Convívio pais e filhos

Todos os pais são unânimes em colocar que a vantagem de se criar um filho no ambiente do circo é o convívio intenso com os pequenos. “Normalmente, o pai deixa as crianças em casa, vai trabalhar e volta à noite. Aqui, com a gente, é o contrário. É diferente. A gente trabalha aqui e estamos com as crianças 24 horas”, fala Yadamatso.

Para o palhaço e equilibrista Henrry Junior, este convívio torna mágica a vida dos garotos e garotas de circo. “Você tem um castelo de magia. Os meninos de circo estão sempre fazendo nos bastidores o que fazem seus pais no palco. As crianças imitam o que veem todos os dias. É como um jogo”, diz.

No caso do Circo Tihany nenhuma das crianças participa dos espetáculos e nem de nenhuma atividade trabalhista no circo. Todos estudam apoiados, segundo os artistas, na legislação que garante a filhos de artistas circenses vaga em escolas mesmo fora do período de matricula. Por conta da vida itinerante, elas trocam de escolas várias vezes no semestre. “É legal porque eu tenho muitos amigos. E a gente pode se comunicar na internet depois”, comemora André.

Casa na estrada

Os 140 funcionários que viajam com o circo, entre seguranças, vendedores, artistas e montadores, são divididos entre trailers e hotéis quando se fixam na cidade. As temporadas duram, em média, quatro semanas em cada munícipio.

Alguns integrantes da trupe têm privilégios e moram em trailers superequipados, estacionados ao lado da lona montada para as apresentações. O ilusionista argentino Richard Massone é dono de um deles. Dentro do trailer, sofás e poltronas reclináveis, cozinha completa e planejada e quarto com cama de casal garantem o conforto do artista.

Os mais novos moram com menos glamour, em carretas adaptadas, com até sete pequenos quartos em cada. A estrutura montada conta com restaurante para os funcionários, ateliê de costura e camarins. De um local para outro, 34 carretas transportam a estrutura, que é montada em 72 horas.
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