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PEC dos Recursos pode cortar em 2 terços tempo de processos, diz Peluso

Terra

  O ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal Cezar Peluso defendeu nesta quinta-feira a proposta de emenda à Constituição (PEC) que torna mais ágil o trâmite de processos, prejudicados atualmente pela apresentação de sucessivos recursos usados para atrasar o cumprimento de decisões judiciais finais. Segundo ele, caso a PEC dos Recursos, como a proposta vem sendo chamada, seja aprovada, o tempo de um processo na Justiça brasileira pode ser reduzido "em, no mínimo, em dois terços".

Inicialmente, a proposta transformava os recursos extraordinários e especiais - interpostos, respectivamente no Supremo Tribunal Federal (STF) e ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) - em ações rescisórias. Em vez do direito aos recursos, haveria o trânsito em julgado, e à parte interessada restaria apenas uma ação rescisória (que tem o objetivo de desfazer os efeitos de sentença já transitada em julgado).

O substitutivo elaborado pelo senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) - relator da matéria na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) - mantém o direito aos recursos, mas diz que eles não impedem o trânsito em julgado da sentença. Na prática, se uma pessoa for condenada em segunda instância, só caberá recurso rescisório - de anulação da sentença - se o advogado das partes ou o Ministério Público tiver um motivo forte para pedir a anulação daquilo que foi decidido, por exemplo, um erro grave que contrarie uma lei federal ou a Constituição.

"Considero o substitutivo como está hoje perfeito e irretratável do ponto de vista técnico. Não teria nada a acrescentar e nada a retirar", disse Peluso durante audiência pública na CCJ do Senado para discutir o assunto.

Essa foi a segunda e última audiência pública para discutir a PEC. Na primeira, o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Marcus Vinicius Coêlho, disse que o texto em discussão fere o princípio da presunção da inocência e o direito à ampla defesa.

Os argumentos dos advogados foram rebatidos por Peluso. "A Constituição assegura a ampla defesa com recursos que continuarão existindo. Como esses recursos continuarão a existir, eles terão o mesmo propósito de assegurar a ampla defesa dos acusados", explicou ele, ao citar como exemplo o habeas-corpus.

Ele atribui as posições contrárias à PEC ao medo de inovações. "Do ponto de vista geral, há uma certa dificuldade de conviver tranquilamente com uma experiência que ainda não foi feita. É o receio da mudança."

A favor da PEC, o presidente da Associação de Magistrados Brasileiros (AMB), Nelson Calandra -que também participou da audiência pública de hoje -, destacou que a aprovação da proposta é a única maneira de o Brasil ter uma "Justiça viva". "Não há o menor sentido de alguém receber uma condenação por um homicídio e sair pela porta da frente porque presumidamente ele é inocente até dez anos depois, quando o Supremo julgar o último recurso", disse.

Com o fim das audiências públicas o senador Aloysio Nunes disse que o texto está pronto para ser votado na Comissão de Constituição e Justiça da Casa. A proposta ainda precisa passar por votação no plenário do Senado e pela Câmara.
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