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Ativista afegã diz que Brasil deve se livrar do "imperialismo americano"

Terra

  A ativista feminista afegã Malalai Joya, 35 anos, integrante da Associação Revolucionária das Mulheres do Afeganistão, afirmou, nesta segunda-feira, que o exército dos Estados Unidos não pode mais estar presente em seu país e alertou o Brasil para a presença americana em diversos países do mundo. Para ela, a paz nunca pode vir através de “inimigos jurados da paz”.

Ela palestrou durante o primeiro dia do 9° Encontro Internacional da Marcha Mundial das Mulheres, na tarde desta segunda-feira, no Memorial da América Latina, em São Paulo.

Malalai foi eleita deputada da Wolesi Jirga da Província Farah e suspensa, em 2007, por sua crítica ao Talibã. Em conjunto com o escritor canadense Derrick O’Keefe, publicou sua autobiografia "Raising My Voice" e foi eleita pela revista Time uma das 100 pessoas mais influentes do mundo.

"Esse tipo de paz é muito mais perigosa do que a guerra atual. Nosso povo precisa de justiça pelos suicidas que matam nossos parentes. As pessoas do mundo precisam saber que os Estados Unidos e a Otan só estão defendendo seus interesses. E tentam criar hoje nove bases militares no meu país para mudar a base de comando na Ásia", afirmou Joya.

Povos livres do imperialismo
A ativista alertou todos os países que mantêm parceria com os Estados Unidos e elogiou as nações que, segundo ela, "se livraram do imperialismo americano", como Uruguai, Bolívia e Cuba. Malalai citou ainda a crise no Egito decorrente de um golpe militar ao presidente Mohamed Mursi.

"Acho que a mesma coisa vai acontecer em outros países. É muito perigoso desviar a raiva do povo na direção errada. O Egito é um bom exemplo disso. Felizmente todos os dias nós testemunhamos o glorioso povo contra seus governos. É maravilhoso quando vemos o Uruguai, Cuba e Bolívia obtendo sua independência do imperialismo americano, e seu povo deve lutar contra as políticas erradas de seu governo. O Brasil também deve fazer isso", afirmou.

A ativista afegã disse também que falar em direitos humanos em seu país é uma “piada”. Para ela, enquanto os Estados Unidos não deixarem o território, a independência da nação não acontecerá.

“Enquanto houver presença militar americana não teremos independência. E falar em direitos humanos e justiça social é uma piada. A única solução é que os exércitos se retirem, porque sua presença torna nossa luta muito mais difícil, dando poder a forças brutais, criando obstáculos para nossa democracia. Os povos têm que lutar pela sua liberação. Nosso povo pode lutar contra o talibã medieval", disse Malalai."Mudanças cosméticas"

Em sua opinião, as afegãs e afegãos concordam com a presença americana no país e que o aparecimento de mulheres em cargos políticos são apenas "mudanças cosméticas".

“Sessenta e oito mulheres já foram eleitas, mas a maior parte delas são a favor da guerra. Sou membro eleito do parlamento, mas depois de expor a natureza fui ameaçada de ser morta dentro do próprio parlamento. Já sobrevivi a sete tentativas de assassinato e sou obrigada a trabalhar na clandestinidade. Vocês não conseguem chegar nos meios de comunicação porque matam jornalistas que mostram o que está acontecendo”, disse.

Malalai foi a primeira a falar na conferência “Acumulação por despossessão: trabalho, natureza, corpos das mulheres e desmilitarização”. Sob a coordenação da turca YildizTemurturkan, a afegã encerrou sua palestra no evento feminista com o Auditório Simon Bolívar do Memorial da América Latina lotado e mandou uma mensagem ao povo de seu país.

"Venho de uma terra de tragédia, onde o povo afegão, especialmente as mulheres, foram as primeiras vítimas. Venho de uma terra onde ainda existe uma guerra e onde os EUA ocuparam o Afeganistão em nome da paz, mas traíram o povo afegão substituindo o regime bárbaro por fundamentalistas brutais que são a mesma coisa".

A brasileira Helena Hirata, a australiana Ariel Saleh e a filipina Jean Enriquez também palestraram na conferência na capital paulista.
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