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RS: moradores preferem ficar debaixo da ponte do que ir para abrigos

Terra

  “Se precisar sair, arrumo uma lona e vou para debaixo da ponte”, diz a aposentada Eva Faleiro, 70 anos, quando perguntada sobre a possibilidade de deixar sua casa por causa da água que ameaça subir na região das ilhas de Porto Alegre. Ao menos uma família tem passado as tardes debaixo da ponte da BR-290, mesmo com o frio de 10ºC e as chuvas que assolam o Sul do País desde o final da semana passada.

A onda de frio e chuva intensa aliados com o vento sul têm assustado os moradores. Muitos se recusam a sair de suas casas com medo de saques. “Vou para debaixo da ponte, mas não saio de perto de casa porque podem roubar tudo”, diz Eva. “Estamos com muito medo por aqui por causa das crianças, e a água começou a subir de novo hoje pela tarde”, diz ao mostrar seu terreno prestes e ficar inteiramente tomado pela água.

A cerca de 500 metros da estrada, na Ilha dos Marinheiros, a água já subiu alguns metros e impossibilita a circulação. Apenas cavalos e caminhões arriscam passar para as áreas mais alagadas.

“A gente tem medo das cobras, das doenças, de animais... uma menina aqui contou que viu um filhote de jacaré”, diz a dona de casa Claudete da Rosa Gomes, 42 anos, ao observar a água a poucos metros da porta de sua casa. “Já vi coisa pior (enchentes de anos anteriores), mas hoje de noite não vamos dormir, vamos ter que ficar acordados olhando para a água vendo se vai subir ou não”.

Debaixo da ponte, com três filhos, sendo dois deficientes, três cachorros e dois cavalos, a recicladora Josiane Machado de Castro, 30 anos, passa as tardes com a família, aquecida apenas por uma pequena fogueira. “A água já tomou conta do quintal da minha casa. A gente fica aqui porque meu filho é autista, e é muito difícil de ficar com ele em um abrigo. Passamos a tarde aqui também por causa dos animais, é maldade ficar com eles em casa por causa do terreno alagado”, explica.

A Defesa Civil tem percorrido diversas áreas mais afetadas para resgatar pessoas isoladas, e ao menos três igrejas estão sendo usadas como abrigos para cerca de 150 famílias que moram nas ilhas do Pavão, dos Marinheiros e das Flores.

“A ilha do Pavão sempre é a pior pela vulnerabilidade e vulnerabilidade”, conta a articuladora regional Carmen Tabajara ao falar sobre o trabalho que tem sido feito pela prefeitura. Segundo ela, a situação pode mudar “de uma hora para outra, porque é a questão do vento sul”.

De acordo com a prefeitura, apesar da chuva ter cessado e o nível da água ter baixado nesta terça-feira, a preocupação é com o volume de águas remanescentes. A partir de quarta-feira deve ocorrer uma grande vasão dos rios Jacuí, Taquari, Sinos, Caí e Gravataí, que alimentam o lago Guaíba, onde estão localizadas as ilhas.

A cota de cheia nas ilhas é atingida quando o nível no cais chega a valores de 2,1 a 2,2 metros. Ontem, o pico foi de 2,18 metros, mas hoje pela manhã era de 2,08. As previsões para os próximos dias são de que o Guaíba chegue a 2,5 metros.

Doações
A Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc) informa que foram montados pontos de recolhimento de donativos, que devem ser preferencialmente encaminhados para a sede da fundação, na avenida Ipiranga, 310, ou para o Mercado Público, no centro da cidade, onde foi montado um ponto de arrecadação. Mais informações pelos telefones (51) 3289-4933 ou 9380-5414.

Os itens de maior necessidade são:
- colchões
- cobertores
- roupas / calçados (para crianças, principalmente)
- toalhas de banho
- material de higiene (papel, fralda, absorvente, sabonete, escova e creme dental, aparelho de barba, etc.)
- alimentos para consumo imediato (pão, manteiga, café, carnes, frios, leite, molho pronto, etc.)
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