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Desaceleração do emprego pode virar dor de cabeça política

Terra

  Se confirmada, a desaceleração do mercado de trabalho brasileiro poderia virar uma dor de cabeça política em um momento em que o Brasil se prepara para o início da campanha para as eleições presidenciais, em 2014.

A avaliação é de analistas ouvidos pela BBC Brasil, como Lauro Ramos, do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea).

"Qualquer governo se sente muito melhor se o mercado de trabalho vai bem. Mas isso é particularmente verdade para um governo como o que temos agora, que fez da melhoria do emprego e da renda uma de suas plataformas declaradas", diz Ramos.

"O governo do PT ganhou legitimidade com suas realizações econômicas. A sociedade foi estimulada a acreditar que as melhorias alcançadas nos últimos anos continuariam e, com a desaceleração econômica e alta da inflação, muitas dessas expectativas foram frustradas. Isso poderia se agravar com problemas na área de emprego e renda", completa Milton Lahuerta, cientista político da Unesp de Araraquara.

Indícios de mudanças

No ano passado, mesmo com a desaceleração do PIB, a taxa de desemprego no Brasil atingiu a média de 5,5% - menos da metade dos cerca de 12% registrados há uma década. Foi a taxa anual mais baixa da série histórica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que teve início em 2002.

A renda média do trabalhador brasileiro também aumentou acima da inflação nos últimos dez anos - o que ajudou a reduzir os níveis de desigualdade de renda e a expandir a chamada classe C.

Recentemente, porém, alguns analistas veem indícios do que pode ser um desaquecimento no mercado de trabalho - ou seja, um crescimento menor ou retração do emprego e da renda do trabalhador -, embora muitos economistas acreditem que um retorno aos níveis de desemprego do início da década seja improvável.

"Apesar de a economia há algum tempo apresentar problemas, o aquecimento do mercado de trabalho é o que vinha ajudando até agora a evitar um sentimento de frustração entre a população", diz Fernando de Holanda Barbosa, da Escola de Pós-Graduação em Economia da FGV.

Protestos

"A economia determina o bem-estar da população, que é um dos principais fatores de aprovação do governo", diz Marco Antonio Teixeira, cientista político da Fundação Getulio Vargas.

"Se a economia vai bem e o emprego e a renda crescem, como ocorreu nos últimos anos, a repercussão de crises políticas e escândalos como o do mensalão tendem a ser menores. Mas se há estagnação ou deterioração do mercado de trabalho e o poder de compra do trabalhador começa a ser corroído, tais crises tendem a se complicar. O risco para o governo é maior."

Pedro Arruda, cientista político da PUC lembra que, apesar das oscilações, o Brasil "ainda se encontra próximo do que economistas definem como pleno emprego".

"Mas se a desaceleração do mercado de trabalho se confirmar e a tivermos mesmo um aumento do patamar do desemprego, certamente teremos impactos importantes no processo político", diz Lahuerta.

"Até porque uma coisa é ter um nível de desemprego em ascenção em uma sociedade que está estabilizada. Outra é uma deterioração do mercado de trabalho em um momento em que a população está mobilizada e muitos estão saíndo às ruas para protestar."

Para o professor da Unesp, além de uma desaceleração nessa área ser fonte de preocupação para o governo nas eleições do ano que vem, também poderia gerar mais instabilidade, protestos e paralisações.

"Uma das possibildiades é que as centrais sindicais - que ficaram relativamente afastadas do processo de mobilização dos últimos meses - adquiram um papel mais central se o emprego e a renda se tornarem tema de reivindicações nas ruas", diz.
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