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Notícias / Educação

Professor cria moeda para estimular alunos a aprender matemática no RS

G1

 Dia do pagamento, negociação e valorização de uma moeda fictícia viraram aliados de um professor do Colégio Marista Rosário, em Porto Alegre. É na sala de aula que Paulo Ricardo Scolari, de 51 anos, aplica a brincadeira que ajudou a aumentar a participação em aula e a disposição de aprender matemática de estudantes da oitava série do ensino fundamental.

Durante a aula, em tom de brincadeira, o professora pergunta aos alunos qual é a moeda corrente de países aleatórios. A última pergunta é: “E qual é a moeda da turma 81?”. “Paullo”, alguns alunos respondem. Outros levantam as notas de “paullo” que têm em mãos, semelhantes ao dólar, mas com uma bem-humorada foto do professor. O G1 acompanhou uma aula do professor em que a "moeda" foi usada.

Há 15 anos, Scolari usa o método que batizou de “Paullo’s Money” para estimular os alunos a participar das aulas. Fazendo o dever de casa ou indo até o quadro-negro para realizar um exercício, o aluno acumula pontos que no “pay day” (dia do pagamento em inglês) são trocados pelo “dinheiro”. Os alunos usam a quantia para acrescentar pontos na nota da prova que escolherem.

“O dia em que eu distribuo o dinheiro eu chamo de ‘pay day’. Chego na aula e grito ‘pay day’, e todos respondem ‘pay day, pay day...’ É o lado lúdico. A matemática é tida como uma matéria de mal-humorados, de CDF, mas em contrapartida aqui eles se divertem. A ideia é mudar um pouco a percepção”, conta o professor.
Durante a aula de geometria, o professor perguntou qual aluno queria fazer exercícios no quadro. Ao contrário do que costumava acontecer antes do Paullo's Money, boa parte levantou a mão. “Eles têm retração, de não querer se expor, e este método rompe barreiras. Eu já dou o resultado, e só quem chegou ao resultado pode ir até o quadro. Assim ninguém paga mico errando a questão”, destacou.

O primeiro aluno a realizar o exercício foi Ítalo Trois Maestri, de 14 anos. Ele chegou ao terceiro ponto no “paulômetro”, lista do professor que mede a situação de cada aluno. Cada três pontos valem um paullo. No dia do pagamento, Ítalo ganhará seu terceiro.

“Isso me ajuda, estimula a fazer os temas (deveres de casa) e os cálculos da aula no quadro”, comentou o jovem que já precisou usar um dos paullos que recebeu em aula para ficar acima da média em uma prova.
O professor toma todas as medidas contra a falsificação. Além de controlar o saldo de todos os alunos no “paullômetro”, ele assina e escreve um código em cada nota. A cada ano, muda o desenho. “A falsificação é zero, os alunos nem tentam”, diz.

Scolari se orgulha em afirmar que muitos alunos guardam notas após passarem de ano. “Às vezes vejo nas redes sociais alguns ex-alunos compartilhando o paullo de 2005, 2006...”, conta o professor.

Scolari trabalha no Colégio Rosário desde 1990. A ideia surgiu em uma conversa com alunos, que diziam que era necessário um estímulo para participar das aulas. “O aluno ir até o quadro era lenda. O aluno é muito utilitarista, ele sempre pergunta ‘vou ganhar o que com isso?’, explica.

“Às vezes a gente tem vergonha de ir até o quadro, mas quando vamos ganhamos um paullo. É uma recompensa”, confirma a estudante Jhade de Lima, de 14 anos, que já ganhou quatro notas e gastou uma.
Além do incentivo, o aluno aprende também o valor de uma “moeda” que provavelmente será a primeira que ele ganhará com seu próprio esforço. Scolari percebeu como o estudante valoriza os paullos que ganha quando, em uma das muitas aulas dadas ao longo de 24 anos, recebeu das mãos de um adolescente um boletim de ocorrência com o registro de um roubo.

“O aluno foi assaltado, levaram o material escolar dele. Aí ele chegou aqui e me mostrou o BO, que dizia que roubaram ‘uma mochila, um celular e três paullos’. Estava escrito no boletim da polícia! Aí o ressarci, pois é um bem”, conta o professor, que acredita que o papel do educador vai além de simplesmente ensinar. "Temos de dar uma pitada nossa no conteúdo. A matéria tem domínio público, está tudo na internet, mas nós temos de dar o detalhe que será o diferencial no aprendizado."
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