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Sequência de tragédias familiares intriga polícia em São Paulo

R7

Desde o último dia 5 de agosto, São Paulo registrou quatro grandes casos de assassinatos em família, que resultaram em 16 pessoas mortas. A polícia ainda busca respostas para as tragédias, que envolvem - todas elas - pais e filhos. O primeiro caso, e mais polêmico, foi o da família Pesseghini, encontrada morta em casa, na Vila Brasilândia, zona norte da capital. O principal suspeito é o filho do casal de PMs, que também teria se matado. Em Cotia, na Grande SP, um casal e os dois filhos pequenos foram encontrados mortos onde moravam. O pai é suspeito de ter se suicidado após envenenar os familiares. No Butantã, zona oeste da capital, uma mãe é suspeita de ter matado as duas filhas adolescentes. Em um condomínio na cidade de Ferraz de Vasconcelos, na região metropolitana, a mãe e os quatro filhos foram assassinados, provavelmente por envenenamento. Veja a seguir os mistérios que rondam cada uma das histórias.

O Departamento de Homicídios investiga a morte de uma auxiliar de enfermagem, de 42 anos, e dos quatro filhos dela, com idades entre 7 e 17 anos. Os corpos foram encontrados na madrugada desta terça-feira (17), no apartamento onde eles moravam, em um condomínio de classe média, em Ferraz de Vasconcelos, na Grande SP. A principal suspeita é de que a família tenha morrido envenenada.

A mulher havia se mudado para o condomínio há poucos dias. O namorado dela, um rapaz boliviano, foi quem encontrou os corpos. Ele chamou a polícia e disse que foi até o local depois de tentar falar com a companheira por telefone. O casal tem uma filha, que mora com ele, na capital. O homem foi levado ao DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa) para prestar depoimento. A vítima já havia registrado boletins de ocorrência contra ele por agressão.

A principal hipótese é de que algo que a família comeu estivesse envenenado. Não se sabe ainda se a suposta substância foi colocada por uma das vítimas ou por alguém de fora. O namorado está sendo investigado, mas, segundo o delegado Itagiba Vieira Franco, ele ainda não é considerado suspeito. A perícia recolheu restos de bolo, de sopa e de suco, além de outros alimentos, que vão passar por análise.

Quando chegou ao prédio, o namorado da auxiliar de enfermagem foi até a sacada do apartamento, que fica no térreo. Ao ver o corpo de uma das vítimas caído na sala, ele pediu ajuda e conseguiu arrombar a porta. A polícia investiga a informação de que o rapaz boliviano passou o fim de semana com a família e que teria tomado apenas refrigerante enquanto todos tomavam suco.

Emilson Dias, 36 anos, mora em um condomínio ao lado do que morava a família. Segundo ele, a movimentação na rua por volta da 1h de terça-feira era intensa.
— Vi o carro dos bombeiros e ouvi gritos e choro na rua.

Outro vizinho, que se identificou apenas como Daniel, diz que ajudou a entrar na casa da família. Segundo ele, junto com o namorado da vítima estavam o subsíndico do prédio e vigilantes do condomínio. Daniel arrombou a porta e relatou a cena que viu no apartamento.
— Foi a pior cena que eu já vi. Tinha um cheiro forte de gás misturado com fezes. A menorzinha estava só com a parte de cima da roupa, molhada, e a outra menina na sala também.

No sábado (14), os corpos de duas adolescentes, de 13 e 14 anos, foram encontrados na casa onde elas moravam com a mãe, no bairro do Butantã, zona oeste de São Paulo. A principal suspeita é a mãe, Mary Vieira Knorr, de 53 anos. A mulher teria confessado, informalmente, o crime e foi submetida a exames psicológicos. Mary está internada no Hospital Universitário da USP e deve ser ouvida pela polícia ainda nesta semana. Os investigadores acreditam que ela possa ter dopado as filhas antes de matá-las.

A suspeita de que a mãe possa ter matado as duas filhas surpreende a ex-diarista da família, Ivete Alves. Ela descreveu Mary Knorr como “uma mãe perfeita”. A funcionária também acrescentou que nunca viu mãe e filhas discutirem.

A mãe fazia uma tabela de tarefas domésticas a serem realizadas pelas garotas e listava castigos para as meninas. A tabela ficava na geladeira da casa da família. Em um dos dias, por exemplo, é possível ver que Giovanna e Paola tinham que arrumar o quarto e limpar a casa. Caso contrário, elas ficariam sem sair de casa, sem entrar no Facebook e sem usar o celular.

Mary foi indiciada por homicídio, mas ainda não foi interrogada. Ela já tem quatro passagens por estelionato, mas nunca chegou a ficar presa. Os laudos dos exames toxicológicos, que vão mostrar se as jovens foram dopadas, deve ficar pronto em 30 dias.

Na casa, moravam apenas as três. Vizinhos relataram que a família nunca demonstrou problemas. A ex-diarista deles também falou que as meninas tinham uma boa relação com o pai.

No domingo (8), os corpos de Claudinei Pedrotti Júnior, de 39 anos, da mulher dele, Suelen Cristina da Silva, de 26 anos, e dos dois filhos, um menino de sete anos e uma menina de dois anos, foram encontrados na casa onde moravam, em Cotia, na Grande São Paulo.

Vizinhos chamaram a polícia depois que sentiram um cheiro forte vindo da casa. Ao entrar no imóvel, os policiais encontraram em uma cama de casal o pai abraçado à filha pequena e, ao lado, o corpo do menino. Na cama de baixo de um beliche estava o corpo da mãe. Nenhuma marca de violência foi encontrada nas vítimas, o que reforça a suspeita de que elas tenham sido envenenadas.

O delegado Andreas Schiffmann diz acreditar que o pai tenha matado a família e se suicidado. Uma frase, com uma grafia que o policial disse que pode ser de Claudinei, foi encontrada escrita em uma parede. "Tentei cuidar dos meus filhos, mas não consegui", diz.

Assim como no caso de Ferraz de Vasconcelos, a polícia apreendeu todos os alimentos que podem ter sido envenenados. Mesmo com essa susepita, não foram encontradas substâncias desse tipo na casa. O que se sabe até agora é que o casal de cabeleireiros passava por dificuldades financeiras: o aluguel estava atrasado e a energia elétrica havia sido cortada por falta de pagamento.

No dia 5 de agosto deste ano, a família Pesseghini foi encontrada morta com marcas de tiro. A investigação do DHPP rapidamente apontou o filho do casal de PMs, Marcelo Pesseghini, de 13 anos, como o autor do crime. Na versão da investigação, ele se matou cerca de 12 horas após os assassinatos. A linha de investigação causou polêmica, inclusive entre parentes das vítimas.

Ao longo das investigações, a polícia encontrou provas e testemunhas que confirmavam a versão de que Marcelo havia atirado primeiro no pai, o sargento da Rota Luis Marcelo Pesseghini; em seguida na mãe, a cabo Andreia Bovo Pesseghini; foi até outra casa no mesmo terreno, onde atirou na avó, Benedita Bovo e na tia-avó Bernadete Oliveira da Silva, que não morava no imóvel e tinha ido dormir com a irmã.

O inquérito ainda está aberto, mas a polícia diz ter convicção de que foi o adolescente. Alguns fatos foram determinantes na análise dos investigadores, como o fato de o menino gostar muito de um jogo de videogame em que o personagem principal era um assassino de aluguel. Testemunhas contaram que ele havia dito que mataria os pais para se tornar um matador de aluguel.

De acordo com a polícia, após os crimes, Marcelo foi filmado chegando à escola com o carro da mãe. Ele aguardou algumas horas no veículo e foi à aula. Quando voltou, pegou carona com o pai de um amigo. Teria entrado em casa, já com a família morta, e atirado na própria cabeça. A arma dos crimes, uma pistola .40, da cabo Andreia, foi encontrada na mão esquerda do menino, que era canhoto.

Para ajudar a entender a motivação do crime, a polícia convidou o psiquiatra forense Guido Palomba para fazer uma perícia e buscar sinais de doença mental. Segundo Guido, essa seria a única explicação para um crime desse tipo ter sido cometido por um menino de 13 anos.
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