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Em escuta, Marcola diz que facção fez diminuir homicídios em São Paulo

G1

 Marco Willians Camacho, o Marcola, apontado como chefe de uma facção criminosa comandada de dentro dos presídios de São Paulo, disse em uma ligação telefônica gravada pela polícia que ele é o responsável pela queda de homicídios no estado. A escuta em que Marcola conversa com outro integrante da facção faz parte de uma investigação de três anos feita pelo Ministério Público de São Paulo, divulgada nesta sexta-feira (11) pelo jornal "O Estado de S. Paulo".
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A megainvestigação aponta que a cúpula da facção criminosa comanda das prisões o tráfico de drogas e armas, além de ordenar a morte de autoridades, inimigos e policiais. Promotores responsáveis pela apuração pediram a prisão preventiva de 175 integrantes do grupo, além da transferência de 35 presos para o Regime Disciplina Diferenciado (RDD). O trabalho do MP também mostrou a estrutura da facção, que estaria presente em 22 estados brasileiros e nos países vizinhos Paraguai e Bolívia.

O irmão, sabe o pior que é? E que há dez anos todo mundo matava todo mundo por nada... Hoje pra matar alguém é a maior burocracia, então quer dizer, os homicídios caíram não sei quantos por cento, aí eu vejo o governador chegar lá e falar que foi ele"
Marcola, apontado pelo MP como chefe da facção que age nos presídios paulistas
Na conversa telefônica registrada em 2 de março de 2011, Marcola fala com um subordinado do grupo, identificado como Magrelo, sobre os efeitos do chamado tribunal do crime instituído pela facção criminosa. "O irmão, sabe o pior que é? E que há dez anos todo mundo matava todo mundo por nada... Hoje pra matar alguém é a maior burocracia, então quer dizer, os homicídios caíram não sei quantos por cento, aí eu vejo o governador chegar lá e falar que foi ele", diz Marcola, em referência as regras criadas para autorizar integrantes do grupo a matar alguém.
Na mesma gravação, Marcola e o outro integrante do grupo falam sobre a proibição do uso de crack nas cadeias de São Paulo. "Nós paramos, na prisão ninguém usa", afirma o líder, segundo a reportagem de "O Estado de S. Paulo".
Em outra escuta do mesmo dia, Marcola, que é conhecido por não gostar de falar ao telefone, conversa com outro companheiro sobre a contratação de um advogado por R$ 100 mil para defender a facção, conforme o jornal. As conversas por telefone foram feitas da Penitenciária 2 de Presidente Venceslau. Marcola está preso há sete anos.

Em nota, o governo do estado de São Paulo informou que a afirmação sobre a queda na taxa de homicídios é "uma fanfarronice típica de marginais. Dar crédito a elas beira o absurdo".
Ataque contra Alckmin
Segundo o Ministério Público Estadual, uma das escutas revelou que a facção criminosa considerava estar na mira das autoridades. Na escuta, dois integrantes da facção, LH e Tiquinho, conversam e chegam a falar que "decretaram" o governador.

“Depois que esse governador entrou aí o bagulho ficou doido mesmo. Você sabe de tudo o que aconteceu, cara, na época que nois (SIC) decretou ele (governador), então, hoje em dia, secretário de segurança pública, secretário de administração, comandante dos vermes (PM), estão todos contra nois", afirmou LH. A gravação foi feita há dois anos.

O Palácio dos Bandeirantes informou ao G1 que não vai se pronunciar sobre o trecho e não detalha se considera a expressão usada pelos interceptados como uma ameaça contra Alckmin.

Controle dos presídios
Na investigação, os promotores também descobriram que 169 mil presos estão sob controle da facção; que o grupo criminoso atua em 90% dos presídios paulistas e que fora dos presídios, a facção vende drogas e negocia compra de armas, e mata quem atrapalha os planos da facção.
As gravações comprovam que bandidos perigosos comandam, por telefone, uma facção criminosa de dentro da Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, a 600 km da capital paulista. Segundo a promotoria, os criminosos negociam drogas, financiam o crime organizado e matam quem atrapalha as atividades do grupo.
As polícias militar e civil já vinham se preparando para fazer prisões e transferir os chefes da facção criminosa. Entretanto, a Justiça negou todos os pedidos da promotoria, o que deixou promotores e a cúpula da segurança pública indignados. A denúncia causou mal estar entre o Ministério Público e a Justiça, de acordo com o SPTV.
Durante as investigações, o MP descobriu também que 106 PMs mortos no ano passado no estado, foram vítimas das ações do grupo. A ordem para os assassinatos partiu também de dentro do presídio.
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