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Notícias / Educação

Crônica: as peripécias de uma candidata do Enem 2013

Terra

 Confesso que não me preparei para o Enem. Digo, não estudei nem nada ao longo da semana. Apenas estudei ao longo do meu último ano letivo, mas na escola mesmo – o que, de fato, não foi suficiente. O Enem desse ano pareceu ser bem mais complicado do que nos anos anteriores. Assim, confesso que estava mal-acostumada: via todos os exercícios propostos do Enem nos meus simulados e tinha a certeza que iria arrasar na prova! Coisa fácil, sabe como é. Pois bem... Não foi bem assim. Principalmente no primeiro dia! Química e Física, desisto de vocês.

Cheguei na sala, todas as Marianas já se encontravam no recinto. Sento, meio encabulada, e a água comprada anteriormente não era água mineral, como pensei que fosse... Logo ao abri-la, saiu um turbilhão desvairado de água vindo daquela explosão por conta do gás e me molhou inteira – inclusive o cartão de resposta. Dou uma xingada meio cabisbaixa, respiro fundo e vejo que não param de me olhar – agora mais do que nunca –, mas logo resolvo a situação: me secando, secando o entorno e assoprando o cartãozinho de resposta – sagrado, muito sagrado. Vocês sabiam que se por algum acaso você erra alguma questão, marcando a "c" ao invés da "d", por exemplo, por pura desatenção, não há nada que possam fazer por você? Pois é. Tenso. Tem que tomar cuidado até na hora de passar a alternativa pro cartão da resposta. Ninguém está a salvo!!!

A prova começa. Certa hora, o corretor passa pela minha mesa pedindo a minha assinatura. Comento ser engraçado o fato de só existirem "Marianas" ali. Só me diferenciava daquelas meninas pelo sobrenome. Eram todas Marianas. Uns cinco minutos depois, quando uma menina poderia finalmente ser liberada para ir ao banheiro – tinha recorrido ao corretor minutos antes – ele a chama: "Mariana". Todas da sala olharam imediatamente. E todas "racharam o bico"! É bom ter um momento de descontração... Mas de nada adianta, porque logo se volta à tensão da prova. (Numa dessas saídas pro banheiro vi que tinha uma sala só de Judiths – achei interessante!).

Percebi como sou inquieta durante a prova. E descobri diversas maneiras de sentar o meu corpo em uma carteira minúscula; e diversas maneiras de organizar tudo o que eu precisava fora da bolsa – isto é, no chão, ao meu entorno, de maneira que eu pudesse recorrer a estes quando precisasse, sem abrir a mala, pois isto te desqualifica. E me apercebi o quão irritante pode ser o som de um saco de salgadinhos, e do mastigar destes, durante uma prova (quase) silenciosa; de como o lanche da sua colega ao lado parece interessante; de como o fato de ser uma prova extensa fez com que eu perdesse o foco recorrentemente; de como me iludia, pois logo via quanto tempo faltava: três horas e meia, e ainda estava na questão 40. "É bom eu me apressar". E logo voltava à prova.

No primeiro dia, principalmente nas questões de exatas, me frustrei, pois todos os resultados a que chegava – sim, eu conseguia chegar a algum resultado – não condiziam e nem passavam perto das cinco alternativas que eu poderia escolher! Como não possuo táticas para o chute – e invejo, por sinal, quem as possui, e gostaria que me explicassem, se possível, tamanho dom – simplesmente ia por livre intuição em alguma alternativa. Chegando em casa e vendo o gabarito, percebi que, de fato, minha intuição não anda muito boa... Fazer o quê.

Frustrei-me também pelo número enorme de questões que considerei altamente relativas; isto é, sempre ficava em dúvida entre duas alternativas e, no fim, escolhia a errada. Teve até questão que eu achava que as cinco opções "a", "b", "c", "d" e "e" eram válidas – pena que só podia escolher uma! Frustrei-me também com o tema da redação do segundo dia, Lei Seca. É importante falar dessa questão, é claro, mas não venham me dizer que não aconteceram coisas, se não mais importantes, pelo menos mais interessantes ao redor do mundo neste ano? Principalmente no nosso país. Vai entender...

Tenho muitas questões quanto ao meu desempenho e quanto à prova em si; mas vejo que meu caso chega a ser até desinteressante se analisarmos outras vivências de pessoas de todo o Brasil nesses dois dias de Enem. Teve gente que nem entrou; teve gente que foi desclassificado porque postou foto da prova na internet – ingenuidade, cara de pau ou ignorância? –; gente que não fez a prova porque não trouxe o RG...

​​É errado rir da desgraça alheia, mas confesso que dei boas gargalhadas vendo a foto de uma mãe que segurou a porta E os seguranças para deixar o caminho livre para sua filha entrar – depois da uma da tarde (horário em que os portões são fechados e a prova inicia). Isso que é mãe! Pena que a filha dela não conseguiu fazer o Enem desse ano...

Ao mesmo tempo em que mandei muito mal em exatas no primeiro dia, me senti confiante com matemática no segundo. Chutei um bocado, é claro, mas muitas que eu tentei fazer tinham os resultados em alguma das alternativas – o que já é um avanço. Assim, sinto que fui melhor no segundo dia. Mas não adianta nada se apoiar nos gabaritos, ao passo que o Enem tem toda uma maneira diferente de pontuar cada aluno – e que eu não tenho uma opinião formada quanto a isso.

Para finalizar, ainda peguei uma chuvinha antes de chegar na prova nesse domingo. Só me resta saber o que virá depois de toda essa peripécia. Pelo menos uma fase já passou. E que venha a Fuvest!
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