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Enade 2013: alunos criticam prova por falta de conexão com curso e mercado

Terra

 No dia 24 de novembro, a partir das 13h (horário de Brasília), o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) vai avaliar mais uma vez as instituições de ensino superior a partir do desempenho dos seus alunos. Enquanto o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) cresce em inscrições de alunos com o atrativo de garantir ingresso em um número cada vez maior de universidades, o Enade tem pouquíssima popularidade com os estudantes.

A prova, promovida pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), é criticada por alunos que duvidam do potencial avaliativo do teste e veem pouco impacto em suas vidas. "Uma nota alta interessa muito mais à instituição do que ao aluno", afirma o jornalista recém-formado Gerson Raugust, que realizou a prova no ano passado. Para ele, a relação dos estudantes com a prova é de obrigação, já que há o risco de perder o diploma caso o aluno não compareça ao exame. "A prova é feita no final do ano, com alunos que estão concluindo o curso. A maioria está envolvida com monografia, banca e projetos experimentais", justifica.

Também recém-graduado, o publicitário Gianlucca Favarini, 23 anos, acredita que o exame é muito teórico para um curso muito prático como o de Publicidade e Propaganda. Para ele, a prova foca muito mais no conhecimento das teorias do que no raciocínio, no planejar, pensar e agir. "Me senti desconfortável fazendo uma prova que jamais poderia responder se vou ser um bom profissional ou não. Ou mesmo se o ensino que a faculdade me deu foi de qualidade", afirma.

O jovem relata a má impressão também por parte dos colegas: "Não lembro de ter ouvido alguém falar bem da prova. Muita gente foi só para fazer, sem empenho mesmo. Eu fui querendo fazer uma boa prova, mas quando comecei a ler certas questões, peguei um pouco de raiva dela e só queria me livrar logo", conta o ex-aluno da PUCRS. Para estudantes como ele, a prova também tem pouca relevância para o mercado de trabalho.

A professora da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) Maria Antonieta Albuquerque de Oliveira acredita que, muitas vezes, os alunos não percebem o impacto de um curso mal avaliado. "Prejudicando a instituição, o estudante prejudica a si mesmo. Os alunos podem ser ótimos, mas serão refletidos por um curso mal conceituado", explica. Para a doutora em Educação e consultora em avaliação institucional do Inep, a resistência promovida pelos alunos é um ato político contra uma avaliação obrigatória do governo e "é próprio da juventude". Ela acredita ser importante ver o exame de forma crítica, mas também levar em conta que ele vai acompanhar o futuro profissional.

Ela mesma aponta erros na avaliação. Após uma pesquisa realizada por docentes vinculados à rede Universitas/Br, ela percebeu que existe pouca relação entre as políticas de avaliação do ensino superior – não apenas o Enade – com a expansão das instituições. "Percebemos a falta de um maior controle dos cursos que não vão tão bem nas avaliações", afirma.

Estímulo
Algumas universidades realizam trabalho de incentivo aos alunos para realização da prova com seriedade. É o caso da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), que oferece uma bolsa MBA ou especialização aos primeiros colocados de cada curso da instituição.

A gerente de desenvolvimento de ensino da Unisinos, Silvia Dutra, acredita que a mobilização é necessária para que fique clara a importância da prova aos alunos. "O exame ocorre no final do semestre, num domingo, é preciso dar um estímulo", explica. A universidade realiza um trabalho de motivação por meio dos professores e coordenadores e ainda mantém um site com informações sobre a prova.

Sobre esse tipo de incentivo, a professora Maria Antonieta acredita que algumas universidades particulares enxergam os indicadores como forma de marketing. "É uma estratégia de sobrevivência em meio à competição", opina. Para ela, é uma prática de "outdoor", muitas instituições têm problemas no ensino, mas fazem esse tipo de prática para se destacar na mídia.

Desempenho
Em 2012, o exame testou os cursos da área de "humanidades", 30% dos quais tiveram desempenho insatisfatório na prova – 2,7% alcançaram o conceito 1; e 27,3% alcançaram o conceito 2, em uma escala que vai de 1 a 5. Segundo dados do Ministério da Educação (MEC), os cursos de instituições públicas tiveram um desempenho melhor que os das privadas.

Neste ano, o Enade testa alunos da área de saúde e ciências agrárias. Os cursos avaliados são bacharelados em Agronomia, Biomedicina, Educação Física, Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Medicina, Medicina Veterinária, Nutrição, Odontologia, Serviço Social e Zootecnia. Além disso, os tecnólogos em Agronegócio, Gestão Hospitalar, Gestão Ambiental e Radiologia. A prova é obrigatória a alunos concluintes, que tenham expectativa de conclusão até julho de 2014 ou que já tiverem concluído 80% do curso.

Entenda o conceito
A prova é composta de 40 questões, 10 de formação geral e 30 de formação específica da área, contendo questões discursivas e de múltipla escolha. O cálculo do Conceito Preliminar de Curso (CPC) de desempenho de uma Unidade de Observação, que consiste no conjunto de cursos que compõe uma área de avaliação específica do Enade de uma Instituição de Educação Superior (IES) em um dado município, resulta em uma nota de 1 a 5 – sendo satisfatórias notas acima de 3.

A avaliação é composta por três índices: pela nota dos alunos concluintes (NC) – resultado da prova que será feita no dia 25 –; pela nota do Indicador de Diferença entre os Desempenhos (IDD) – o observado e o esperado –; e um questionário, no qual os alunos opinam sobre a infraestrutura (NF), a Organização Didático-Pedagógica (NO), Professores Doutores (NPD), Professores Mestres (NPM), Professores com Regime de Dedicação (NPR) integral ou parcial.

A partir de 2011, a nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) passou a dispensar os estudantes ingressantes de fazer a prova do Enade. Isso porque o resultado do Enem é utilizado para o cálculo do CPC.

É interessante lembrar que o Enade não avalia o desempenho do aluno, mas da instituição de ensino. A média dos CPCs dos cursos avaliados no ciclo avaliativo compõe o Índice Geral de Cursos (IGC), indicador de qualidade da educação superior.
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