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Presidente de clube campeão do AP manipulou resultados, afirma MP

Rede Amazônica

 O presidente do Santos Futebol Clube do Amapá, atual campeão estadual, está sendo acusado de manipular resultados de jogos do Campeonato Amapaense deste ano e na competição sub-20. A intervenção de Luciano Marba, que também é empresário, foi pedida pelo Ministério Público do Estado do Amapá (MP/AP), que apresentou denúncia baseada em escutas telefônicas autorizadas pela Justiça. Marba foi flagrado em conversas suspeitas com árbitros, jogadores supostamente rivais e um diretor da Federação Amapaense de Futebol (FAF). Em um dos diálogos, ele pede “punição” a um clube adversário. Em outros, conduz uma suposta negociação para atletas rivais não entraram em campo: “Eles dizem que caíram do moto-táxi, inventam uma história que se machucaram”.

- Há uma clara interferência [do presidente] no esquema do futebol de modo geral no Amapá, e pelo Estatuto do Torcedor é crime interferir em resultado de jogos - disse o promotor de Justiça Afonso Guimarães em entrevista coletiva no dia 13 deste mês.
As provas colhidas pelo Ministério Público foram encaminhadas ao Núcleo de Operações em Inteligência (NOI). O Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) também será acionado pelo órgão.
edes, a manipulação no futebol favorecia o Santos Futebol Clube no resultado das partidas disputadas pela equipe. A interferência ocorria diretamente com árbitros e jogadores de futebol. O MP não apontou ligações entre Marba e dirigentes da Federação.
- Existem ligações do Marba conversando com árbitros para facilitar o jogo e com jogadores de outros times para eles não se esforçarem. Ou seja, é um histórico que aponta manipulação nas partidas - relata a promotora.
O Ministério Público também investiga a ligação do Santos Futebol Clube com demais empresas de Luciano Marba. O empresário possui empreendimentos no ramo de vigilância e um motel.
Escutas telefônicas

Em uma das gravações, Luciano Marba aparece supostamente conversando com o árbitro que iria apitar o jogo entre Santos e Oratório pelo Campeonato Sub-20. Na ligação não surge o nome da pessoa com quem o empresário troca informações, mas de acordo com o diretor de arbitragem da FAF, o árbitro em questão seria Jorge Antônio Pinheiro Lobato. [ouça o áudio ao lado]

- É agora que eu preciso de ti. (...) Tu sabes que o meu time é bom. [Marba]
- Pode deixar, um abraço. [árbitro]
Em outra ligação, o presidente do Santos fala com Vicente Cruz, diretor do departamento técnico da FAF. Na escuta, Marba cobra de Vicente uma punição ao clube Oratório, deixando o time de fora do campeonato estadual por dois anos. [ouça o áudio]
- Tem que punir o Oratório. Pune o Oratório. Se não punir, nós vamos deixar o cara no nosso meio. Tem que tirar o Oratório dois anos do campeonato - falou o presidente do Santos.
Na mesma ligação, o diretor técnico da FAF diz que o Ypiranga é quem ficaria fora da competição.
- Eu ia tirar o Ypiranga, mas o Ypiranga é um time de massa. [Vicente Cruz]

Um terceiro áudio revela a possível compra de jogadores do São José para que eles não entrem em campo contra o Santos. [ouça o áudio]
- Eu 'tô' aqui no CT [do Santos]. Pega eles e vem com eles aqui. Eu não vou fechar nada, eu vou dar logo 'pra' eles o negócio e aí vou dizer 'pra' eles não 'jogar'. Só isso. (...) Eles dizem que caíram do moto-táxi. Inventa história que se machucaram. [Marba].
Questionado sobre as escutas telefônicas, Vicente Cruz, diretor técnico da FAF, disse que jamais teria participado de uma máfia no futebol amapaense profissional e que tudo não teria passado de um grande equívoco do Ministério Público Estadual.

- Os juízes são sorteados, não há como indicar. Eu acho que o Ministério Público se precipitou. Fizeram juízos precipitados, maldosos e criminosos a respeito dessas práticas. Foi uma grande farsa do Ministério Público - comentou o diretor técnico da FAF.
O diretor esclareceu ainda que o departamento que ele dirige não tem o poder de interferir no setor de arbitragem.
- O departamento técnico não tem gerência sob arbitragem. O departamento não interfere nos jogos, em si - comentou Vicente Cruz.
Já a Associação de Árbitros do Amapá disse que só tomará alguma medida administrativa após a conclusão do inquérito.
Inquérito Civil
O Núcleo de Operações e Inteligência da Polícia Civil (NOI) abriu um inquérito para investigar a suposta máfia de manipulação de jogos durante a temporada 2013. Segundo o delegado do NOI, Leandro Totino, durante as ligações é citada a direção de arbitragem da Federação Amapaense de Futebol (FAF), comandada na época por Carlos Guilherme, responsável pela escalação dos juízes para as partidas. Preliminarmente, foi comprovado que cinco árbitros que apitaram jogos do Santos no Amapazão 2013 são funcionários da LMS, empresa da propriedade de Marba.

- Em vários momentos o suspeito pede aos dirigentes dos times que poupem os jogadores ou que os atletas inventassem que estão lesionados ou impossibilitados de entrar em campo para desfalcar a equipe em que jogam. Estamos investigando também a manipulação de relatórios de partidas do Campeonato Amapaense que também é citado nas conversas - explica.
O inquérito tentará descobrir em quais jogos das duas competições houve interferência do empresário. As pessoas citadas nas ligações começarão a prestar depoimento a partir da próxima semana.
- Nos áudios, os suspeitos falam da semifinal do Sub-20 e de alguns jogos do estadual, mas só vamos saber a dimensão da máfia após a conclusão do inquérito - explicou.
Se condenado, o empresário será enquadrado nos artigos 41 C, 41 D e 41 E do Estatuto do Torcedor, que configuram crime qualquer tipo de fraude em competição esportiva, falsear jogos, ou atuar direta ou indiretamente em ação fraudulenta. A pena vai de dois até seis anos de reclusão.
Marba se defende
Esta semana, em entrevista coletiva, Luciano Marba negou o suposto esquema para manipular os jogos do Campeonato Amapaense. O dirigente diz que as gravações não datam da época do Campeonato Amapaense.
- As gravações datam do período do campeonato sub-20. Não ganhamos o torneio. Não faríamos esquema para perder.

Marba ainda declarou que as conversas que teve com árbitros e atletas não tiveram nada de anormal. Alega que a conversa nada teve a ver com futebol, mas sim com sua empresa de vigilância da qual é dono.
- Converso com todo mundo do futebol, desde o presidente da federação até o gandula. Tive conversas com alguns árbitros, mas pelo fato de trabalharem na LMS [empresa de vigilância da propriedade de Marba] - alegou.
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