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Mais de 30% dizem já ter sido vítimas de crimes, indica pesquisa

G1

  Três em cada dez moradores de cidades com mais de 15 mil habitantes (32,6%, mais precisamente) dizem ter sido vítimas ao longo da vida de crimes como roubos, furtos, agressões ou ofensa sexual, segundo a primeira edição da Pesquisa Nacional de Vitimização, divulgada nesta quinta-feira (5) pela Secretaria Nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça.

O levantamento foi realizado em parceria com o Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), o Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública, da Universidade Federal de Minas Gerais, e o instituto Datafolha.

A pesquisa englobou 12 tipos de ocorrências em que pode ser feito o registro policial: furto e roubo de automóveis, furto e roubo de motocicletas, furto e roubo de objetos ou bens, sequestro, fraude, acidente de trânsito, agressão, ofensa sexual e discriminação.

Ao todo, 21% dos entrevistados também afirmaram ter sido vítimas de algum desses crimes nos últimos 12 meses que antecederam ao questionário, aplicado em 346 municípios, de junho de 2010 a maio de 2011 e em junho de 2012. Foram ouvidas 78 mil pessoas com 16 anos ou mais.

O levantamento mostra, no entanto, que somente 19,9% das vítimas procuraram a polícia para registrar as ocorrências. Destas, 54,6% afirmaram que ficaram satisfeitas com a atuação da polícia no episódio.

De acordo com a pesquisa, mais da metade (53,5%) dos entrevistados disseram sentir segurança ao andar pelas ruas da cidade onde moram, enquanto 45,7% dos entrevistados afirmaram se sentir inseguros. Em relação ao bairro onde moram, 48,3% relataram se sentir muito seguros durante o dia, mas à noite esse número cai para 22,5%.

'Preocupante', mas não 'surpresa'
A secretária nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça, Regina Miki, disse que considera "preocupantes" os resultados da pesquisa, embora não os classifique como “surpresa”.

“Para a gente que está no dia a dia trabalhando com segurança pública, (isso) pode não traduzir uma surpresa, mesmo porque temos outras pesquisas ligadas a essa divulgada hoje, de vitimização. O que nos traz surpresa é que as pessoas não fazem uso de alguns serviços que estão à disposição. Mas, sim, os números são preocupantes”, afirmou a secretária.

Regina Miki disse que “falta confiança” da população nas polícias e que "há dificuldade" no acesso das pessoas a delegacias em diversas cidades.

Segundo ela, as polícias precisam ter “independência política”. “Primeiro de tudo, sobre o que pode ser feito, é a formação e a capacitação continuada, para atender no dia a dia às demandas e aos interesses da sociedade e depois fazer com que a polícia entenda que ela faz a defesa da sociedade, e não do estado. A independência política das polícias é primordial”, disse.

Classe social e escolaridade
Conforme a pesquisa, a maior parte das vítimas está nas classes mais ricas, mais escolarizadas e entre os mais jovens.

Na classe A, segundo o critério Brasil de estratificação econômica, a taxa de vitimização é de 33,45%. Entre os que têm nível superior de escolaridade, é de 28,8%, e entre os que têm idade de 16 a 24 anos, de 25,3%.

Entre as vítimas com idade de 16 a 24 anos, 79,3% deixaram de reportar à polícia os crimes ou as ofensas que sofreram.

Crimes mais comuns
As agressões e ameaças são os crimes mais comuns, atingindo 14,3% dos brasileiros. Em seguida, aparece a discriminação, com 10,7%. Furtos de objetos e fraudes foram declarados por 9,8% e 9,2% dos entrevistados, respectivamente.

Entre os proprietários de carros, caminhões ou caminhonetes, 2,2% declararam terem sido vítimas de furto pelo menos uma vez na vida e 1%, de roubo. Entre os que possuíam motocicletas ou lambretas, 2% disseram ter sido vítimas de furto e 1,1%, de roubo.

Locais dos crimes
A maior parte das ocorrências se deu dentro da casa do entrevistado (38,3%) ou em suas proximidades, como a rua onde mora (33,3%), o bairro (14,9%) ou a garagem da residência (11,1%). Já roubo de objetos (49,5%), sequestro (32,1%) e ofensa sexual (23,7%) acontecem com maior frequência em lugares abertos.

No local de trabalho, a maioria das vítimas relatou discriminação (20,5%), agressão (15,3%) e furto de objetos (12,6%) e, na maior parte das vezes, por um conhecido.

O medo de ser vítima de agressão sexual é maior entre as mulheres (52,4%) que entre os homens (21,8%). Os mais jovens (43%) também temem mais esse tipo de violência.

Na vizinhança, metade dos entrevistados receia ser vítima de bala perdida (52,0%) e estar no meio de um tiroteio (50,7%). Outros 34,3% têm medo de ser confundidos com um bandido pela polícia e 33,2%, de ser vítimas de extorsão por parte da polícia.

Em Teresina, Belém e Fortaleza, estão os maiores percentuais dos que temem ser assaltados (74,2%, 68,3% e 63%, respectivamente). Em Teresina, João Pessoa e Belém, também estão os indivíduos que mais receiam ter a casa invadida (75,8%, 67,5%, 63,1%).

Nos roubos de carros, de motos e sequestro, a maioria relatou ter sido ameaçada com arma de fogo – 78,5%, 79,1% e 75,2%, respectivamente. Do total de entrevistados, 2,7% declararam possuir arma de fogo em casa.

Regiões
Por região, os percentuais de vitimização são maiores na Região Norte (30,5%), que também reúne os estados com as maiores taxas individuais: 46% no Amapá e 35,5% no Pará. A Região Sul possui os estados com os menores índices: Santa Catarina (17%), Rio Grande do Sul (17,2%) e Paraná (17,4%).

“As distâncias no Norte entre algumas cidades são uma dificuldade, até porque você leva dias para registar a ocorrência, tem que ir de barco. (...) Falta efetivo, faltam delegacias em municípios em que não há polícia judiciária, só tem a PM [Polícia Militar], então o registro é feito em outras cidades. Às vezes, também há dificuldade na mediação de conflitos”, afirmou Regina Miki.

Segundo o Datafolha, na Região Nordeste a taxa chega a 22%, mas é maior no Rio Grande do Norte, com 31,3%, e no Ceará, com 26,6%. Também apresentam percentuais acima da média os estados do Acre (29,9%), Amazonas (25,2%), Roraima (24,8%), Mato Grosso e Tocantins (23% em ambos).

Estados
Os estados com percentuais abaixo da média nacional são Rondônia (18,1%), Minas Gerais (19,1%), e Sergipe (19,4%). Na Região Sudeste, 19,9% disseram ter sido vítimas de algum dos crimes por pelo menos uma vez nos 12 meses que antecederam à pesquisa.

Nos demais estados, a taxa se aproxima da média nacional, pela ordem: Pernambuco (22,2%), Goiás (21,9%), Espírito Santo (21%), Bahia (20,9%), Piauí (20,6%), Alagoas (20,5%), Maranhão (20,5%), Distrito Federal (20,3%), Mato Grosso do Sul (20,6%), São Paulo (20,1%), Paraíba (20,1%) e Rio de Janeiro (20%).

Capitais
Nas capitais, as maiores taxas de vitimização estão em Macapá (47,1%), Belém (41,1%), Rio Branco (31,9%), Fortaleza (31,5%), Natal (31%), São Luís (28,6%), Porto Alegre (27,6%), Cuiabá (26,7%) e Manaus (26,4%).

As menores estão em Teresina (24,9%), Boa Vista (24,8%), Goiânia, Belo Horizonte e São Paulo (as três com 24,2%), Recife (24,1%), Florianópolis (23,9%), Salvador (23,4%), Maceió (23,2%), Porto Velho (22,2%) e Vitória (22,1%).

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