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"Caminho das Índias" põe atores para dançar

Folha de S.Paulo

A matriarca da família indiana está sentada na sala. Séria, conversa com nora e cunhado. Há uma criança que a olha também, quando outra, sua neta, entra na casa, beija sua mão e diz: "Me ensina a dançar bonito?". E lá se vai mais um bailinho em "Caminho das Índias".

As crianças dançam, os outros personagens observam, sorridentes. A cena não é rara na novela. A Folha acompanhou o tempo de dança da trama de Glória Perez por uma semana (de 24 de junho a 1º de julho) e por apenas dois capítulos a autora não botou o elenco para dançar.

O tempo de uma cena de "bhangra", a dança popular indiana que os atores mesclam com elementos do clássico "kathak", pode ir de 20 segundos a dois minutos, mas não é preciso motivo para terminar a conversa com uns passinhos.

Exemplos: um garoto lê uma história para duas meninas e, no final, os três se levantam e dançam; ou ainda, dentro do cinema, no meio da sessão de um filme, os protagonistas da novela não resistem e... dançam.

Para a autora, não há exageros --nem falta de assunto. Com "várias tramas, todas correndo com muita agilidade", diz, a dança não serve para protelar acontecimentos mais fortes do roteiro. "Os números de dança só aumentam o tamanho normal do capítulo que escrevo."

Segundo ela, "os filmes de Bollywood, tanto os dramas quanto as comédias, são sempre interrompidos por coreografias". "Não são musicais no sentido como os compreendemos aqui no Ocidente. A presença cotidiana da dança na novela é uma maneira de trazer esse sabor", afirma.

"A dança é expressão de uma cultura. Assim como o samba é uma janela para a compreensão da brasilidade, o tango ajuda a entender a alma portenha e por aí vai", diz ela.

Para o pesquisador Carlos Gohn, do Centro de Estudos sobre a Índia da Universidade Federal de Minas Gerais, Glória Perez "carrega um pouco na mão". "A frequência com que os personagens da novela caem na dança tem servido, com razão, de motivo de piadas em programas humorísticos", diz.

Não que a dança não seja popular na Índia, mas, diz o pesquisador, "reuniões familiares em lares de classe média e alta não teriam normalmente momentos de dança". Em festas, é mais comum.

E há ainda a possibilidade de se dançar no cinema, mas apenas nas salas populares --os protagonistas de "Caminho das Índias" são executivos e de boa casta.

"Como os cinemas populares, não as salas Multiplex, são locais de diversão de massa, muito concorridos, os ingressos são diferenciados por preço. Nos setores mais populares, é comum que a plateia pule das cadeiras aos primeiros compassos de um sucesso de Bollywood", diz ele.

Já a coreógrafa e pesquisadora Sandra Regina Ferreira, que ajuda Glória nas novelas, afirma que "nas ruas, o público pede mais dança". "E, para os indianos, isso é muito verdadeiro", diz Sandra. Como nunca foi à Índia, ela usou vídeos e consultores para treinar o elenco da novela.
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