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Soldados da Borracha querem indenização de ex-combatente e acusam Brasil de violar direitos humanos

De Brasília – Vinícius Tavares

A Segunda Guerra Mundial fez mais vítimas do que se imagina. Além de seis milhões de judeus mortos em campos de concentração nazistas e de outros 50 milhões de vidas perdidas em campos de batalha, dezenas de milhares de brasileiros morreram na selva amazônica: foram os soldados da borracha.

Mais de 55 mil deles foram recrutados pelo governo brasileiro a partir de 1943 para o esforço de guerra contra a Alemanha de Adolf Hitler e levados aos estados do Acre, Amapá, Amazonas e Rondônia, a fim de extrair o látex que seria transformado em borracha para a construção de veículos blindados, aviões, navios e todo o tipo de utensílio bélico.

Dos 55 mil recrutados, a maioria era formada por nordestinos. De Mato Grosso partiram cerca de 450 e outros dez mil já estavam na Amazônia. Estima-se que 35 mil morreram na selva por doenças como beribéri, malária e até mesmo em contato com animais da selva e em conflitos com índios.

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Atualmente existem 6.043 seringueiros vivos, com idades entre 85 e 110 anos. Só neste ano morreram 25 soldados remanescentes. Os dependentes, em torno de 12.650, pedem indenização ao governo federal.

A luta dos soldados da borracha e de seus dependentes teve um novo capítulo semana passada com a aprovação, em dois turnos, na Câmara, da Proposta de Emenda à Constituição (PEC 346/2013), que prevê indenização de R$ 25 mil para cada família que comprovar parentesco com os soldados, além e um benefício mensal vitalício de R$ 1500.

No entanto, o presidente do Sindicato dos Soldados da Borracha e Seringueiros de Rondônia, George Teles Menezes, acusa a base do governo no Congresso nacional de derrubar a PEC 556/2002, que previa o pagamento de sete salários mínimos, o que equivaleria atualmente a cerca de R$ 4,7 mil. E ao invés de indenização de R$ 25 mil, os valores seriam de cerca de R$ 800 mil por família.

“Dez dos soldados ficaram cegos por causa da queima da borracha. Fomos totalmente esquecidos pelo governo. Só estamos pedindo aquilo que é justo, que é receber a mesma equivalência concedida aos ex-combatentes da segunda guerra. Eles forma treinados para o esforço de guerra, receberam treinamento e foram esquecidos pelo governo”, argumenta Teles ao Olhar Direto.

Segundo ele, o Estado brasileiro se apropriou de dinheiro pago pelos Estados Unidos na época da guerra.
“O governo não quer nem ouvir falar de nós. O decreto 5225, de 1943, é bem claro. Ele trata da preparação militar para o esforço de guerra e dos recursos pagos pelos Estados Unidos ao Brasil. O governo Vargas ficou com o nosso dinheiro”, pontou.

O grupo denunciou o governo brasileiro de negligência e de violação dos direitos humanos à Organização dos Estados Americanos (OEA) em março deste ano, em Washington.

O abandono do governo chegou a produzir a CPI da Borracha, em 1946, quando foram denunciadas as péssimas condições de trabalho.

Na época, segundo documentos reunidos pelo sindicato, foram relatados casos em que, para pagar dívidas contraídas pelos trabalhadores com remédios, roupas, ferramentas, alimentação e até para extrair látex, os soldados da borracha tinham de trabalhar seis meses ao ano para pagar por uma espingarda. Em casos de dívidas não pagas, muitos trabalhadores deram aos patrões suas próprias esposas como garantia.
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