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Notícias / Picante

Boca do Inferno

Da Redação

Verdade e Vergonha – o poema escrito por Gregório de Matos Guerra, o “Boca do Inferno”, no século XVII é um texto que continua atualíssimo e foi utilizado pelos promotores de Justiça do Gaeco para iniciar a Ação Penal proposta contra o vereador e ex-presidente da Câmara Legislativa de Cuiabá, João Emanuel.

O texto referia-se à Bahia daquela época, mas cabe perfeitamente no nosso contexto atual. Com a palavra, o poeta:

VERDADE E VERGONHA

“Que falta nesta cidade? .............................. Verdade
Que mais por sua desonra? ........................ Honra
Falta mais que se lhe ponha? ..................... Vergonha

O demo a viver se exponha,
Por mais que a fama a exalta,
Numa cidade, onde falta
Verdade, Honra, Vergonha.

Quem a pôs neste socrócio? ....................... Negócio
Quem causa tal perdição? .......................... Ambição
E o maior desta loucura? ............................Usura

Notável desaventura
De um povo néscio, e sandeu,
Quem não sabe, que o perdeu
Negócio, Ambição, Usura.

E que Justiça a resguarda? ....................... Bastarda
É grátis distribuída? .................................. Vendida
Que tem, que a todos assusta? ................... Injusta

Valha-nos Deus, o que custa,
O que El-Rei nos dá de graça,
Que anda a Justiça na praça
Bastarda, Vendida, Injusta.

A Câmara não acode? ................................ Não pode
Pois não tem todo poder? ........................... Não quer
É que o governo a convence? ..................... Não Vence.

Quem haverá que tal pense,
Que uma Câmara tão nobre,
Por ver-se mísera, e pobre
Não pode, Não quer, Não vence.

[Gregório de Matos, “ Epílogos” (C. 1690)]


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