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Paciente passa dois dias sentada no corredor de UPA em Juiz de Fora

G1

  Uma mulher de 55 anos foi levada para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Bairro Santa Luzia, em Juiz de Fora, com suspeita de acidente vascular cerebral (AVC). Segundo familiares, ela passou dois dias sentada em uma cadeira, no corredor da unidade de saúde, aguardando uma vaga para a Unidade de Tratamento Intensivo (UTI). Os parentes reclamaram do atendimento e ficaram revoltados com a situação, que inclui diagnósticos variados. Eles tiraram fotos para divulgar o caso ao MGTV 1ª edição. O secretário de Saúde disse que há um déficit no número de leitos de UTI em Juiz de Fora e região por falta de credenciamento do Ministério da Saúde.

A costureira Dulcineia Oliveira contou que a paciente, que é irmã dela, teve que dormir duas noites em uma cadeira de madeira enquanto aguardava vaga, mesmo com a suspeita de AVC. “Conforme ela, vários pacientes estão sendo atendidos no corredor, sem as mínimas condições humanas. A saúde está cada vez pior. Não tem médico em Juiz de Fora,” criticou.

O estado de saúde da paciente é outra preocupação dos familiares. A supervisora de Telemarketing, Paola Magalhães, afirmou que a mulher recebeu diagnósticos diferentes. “No primeiro hospital que fomos, o Regional Leste, o diagnóstico foi de nervosismo, estado emocional alterado. Ela foi medicada e foi para casa. Aí o estado dela piorou e ela passou mal. Então a trouxemos para a Unidade de Pronto Atendimento do Bairro Santa Luzia. Aqui ela foi diagnosticada pelo médico com AVC e está sendo tratada,” contou.

“Agora, pela confusão que nós estamos arrumando, eles simplesmente deram outro diagnóstico de estado de nervos e já deram alta, e nem sequer viram o resultado da tomografia,” disse.

A irmã da paciente gravou o momento em que a médica deu alta alegando que a mulher tinha apenas crises nervosas. Os parentes ficaram revoltados com a situação, não assinaram a alta e chamaram a polícia. Policiais estiveram no local e a família registrou um boletim de ocorrência (BO). Em seguida, a paciente saiu do hospital. A irmã dela afirmou ainda que os outros pacientes que estavam no corredor foram retirados das cadeiras. A paciente de 55 anos foi para o Hospital Doutor João Penido aguardar transferência para a Santa Casa de Misericórdia.

O secretário de Saúde de Juiz de Fora, José Laerte, disse que em casos como este, a secretaria tem como procedimento abrir uma auditoria para poder averiguar todos os fatos e emitir um relatório conclusivo sobre a situação. Sobre a espera da paciente, o secretário informou que há um nível emergencial a ser seguido. “Todos os nossos pontos de atenção de urgência e emergência trabalham com a classificação de riscos, feita por um enfermeiro graduado. De acordo com o risco, o paciente é atendido imediatamente. Outros pacientes podem esperar até seis horas porque o caso não é emergencial. Por isso, pode ser que tenha pacientes aguardando em cadeiras devido a essa classificação de risco,” alegou.

José Laerte atribuiu a superlotação das UPA’s à dificuldade das pessoas de procurarem os postos de saúde em seus próprios bairros. “Na maioria dos casos, a pessoa acha que é urgência, mas deveria procurar as unidades de atenção primária mais próximas, antes de ir para a UPA,” aconselhou.

Quanto à divergência de diagnósticos, o secretário respondeu que não há como discutir sobre isso, já que a responsabilidade é pessoal do médico.

A doméstica Ana Paula Abdalla revelou que o pai dela também passou pela mesma situação da paciente com AVC. “Ele ficou dois dias sentado em uma cadeira, sendo que está com um problema grave de coração. O médico falou que nós temos que conseguir arrumar uma vaga para o meu pai. Ele disse que, se tivermos um padrinho, dá para arrumar uma transferência para um CTI. Se não, ele será mandado embora para casa. Meu pai trabalhou a vida inteira e agora que ele precisa do Sistema Único de Saúde (SUS), é tratado igual a um bicho,” desabafou.

O secretário de Saúde disse que não existe um padrinho para uma situação como essa. “Todo usuário que necessitar de uma vaga, será atendido. A dificuldade que temos, em Juiz de Fora e região, é com leito de UTI. Quem os credencia é o Ministério da Saúde, mas ele não tem credenciado novos leitos na nossa região. Nós temos uma deficiência muito grande de leitos de UTI,” afirmou.

“O que nós temos feito é tentar que novos leitos sejam credenciados porque, de fato, alguns casos graves não podem esperar. Hoje, mesmo na rede conveniada, nós temos um quantitativo de leitos de UTI que não atende a toda a nossa população de referência,” ressaltou o secretário.

Sobre os novos projetos para a saúde em Juiz de Fora, José Laerte disse que a Central do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) será inaugurada no início deste ano e que as obras do Hospital Regional já foram retomadas.
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