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Pai de vítima: 'se não houver justiça, tem que fazer réus cheirarem cianeto'

Terra

 O presidente da Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM), Adherbal Alves Ferreira, afirmou na manhã deste sábado que espera que todos os responsáveis pelo incêndio na Boate Kiss sejam punidos dentro de sua culpabilidade. No primeiro dia do Congresso Internacional Novos Caminhos – A Vida em Transformação, que marca o primeiro aniversário do incêndio na boate, Ferreira exaltou-se a falar sobre a possibilidade de que os proprietários da Kiss e os entes públicos não respondam pelo crime, dizendo que ele mesmo tocaria fogo na espuma com os culpados dentro de uma sala.

"Se ficarem impunes, então pelo amor de Deus, tem que engambelar toda essa gente, botar em uma sala e ligar o cianeto para eles sentirem o que é que nosso filhos passaram. Eu seria o primeiro a tocar fogo em uma espuma dessas se não houver justiça, tem que ser feito isso, não para matar, mas para eles sentirem o que é, para terem um pouquinho de dor, para sentirem o que é um filho não poder respirar. Acho que esse é o momento de pegar toda essa gente e de botar em uma prensa, em um banheiro e fazer eles cheirarem o cianeto. Acho que é nisso que tem que ser dito", afirmou Ferreira em entrevista concedida no auditório do Centro Universitário Franciscano (Unifra), na região central de Santa Maria.


O presidente da associação contestou a versão da defesa dos proprietários da Boate Kiss, para quem não houve intenção dos réus em causar a tragédia. "Meu maior temor é que não haja punição de ninguém. Que seja plena, tanto dos bombeiros, como dos entes públicos e dos réus. Que seja feita a justiça e que todos paguem dentro da sua culpabilidade. São vários culpados. Os proprietários, esses sim, são dolo eventual, não se pode falar em culposo. Porque eles assumiram o risco. Ele botou aquela espuma (inflamável), estava proibida", disse.

Segundo Ferreira, o objetivo do congresso é garantir, a partir do exemplo da Boate Kiss, que tragédias semelhantes nunca se repitam no Brasil. "Sinceramente, eu espero que desse congresso nós consigamos criar uma cultura de prevenção. A prevenção e algo muito importante para salvar vidas, e todo evento deve ter um brigadista de incêndio para prevenção nos primeiros momentos, para que nada ocorra com os convidados, por exemplo", disse.

Ele falou também da dor que ainda persiste, mesmo um ano depois da tragédia, dizendo "nos domingos (dia em que aconteceu o incêndio) a gente chora", e lamentando que tenha ficado conhecido pela trágica perda da filha.

"Como pai, a minha vida mudou muito. Hoje, infelizmente, eu sou conhecido de uma forma que eu não gostaria de ser conhecido. É muito dolorido isto, ser conhecido desta maneira, não precisava. Eu só queria a minha filha de volta, só isso. Mas Deus permitiu que isso acontecesse por algum motivo que a gente não sabe, mas acho que agora já está ficando mais claro. Parece que já faz 10 anos. Ao mesmo tempo, parece que foi na semana passada."

Críticas
Ferreira falou ainda sobre críticas que o movimento tem recebido de setores da sociedade santa-mariense de que a tragédia deveria ser superada, o que ele classificou de "insensibilidade". "São pessoas insensíveis, sem coração, e que não perderam o seu filho. Nós não queremos em nenhum momento colocar goela abaixo o nosso luto em ninguém. Nós não fomos esquecidos ainda justamente pelas nossas lembranças. Nós não marcamos o nosso sofrimento, nós marcamos a nossa saudade. O domingo nosso não presta mais, nós choramos no nosso domingo. As pessoas insensíveis, elas não se colocam no lugar do outro. Elas são 'solidárias de aluguel'. São aquelas que são solidárias perante à mídia. Esse mesmo que nos alcançou um copo d’água e diz hoje 'chega', é o mesmo que pode perder o filho numa tragédia. A gente nunca sabe o amanhã", lamentou.
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