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'Ainda está muito presente todos os dias', diz sobrevivente da Kiss

G1

 Um ano após ter sobrevivido ao incêndio na boate Kiss, Juciane Bonella, de 22 anos, aproveita as férias da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), onde cursa medicina veterinária, para curtir a família em São Marcos, sua cidade natal. Ela também vai usar os dias de folga para se submeter a cirurgias para suavizar as cicatrizes das queimaduras que sofreu na madrugada do dia 27 de janeiro de 2013, como mostra reportagem da RBS TV.

“Os familiares e os sobreviventes não deixam esquecer o que aconteceu. Parece mentira que todo esse tempo já passou. Lá [em Santa Maria] tudo ainda está muito presente, todos os dias. O fato de eu não ter vivido aquele luto inicial por estar no hospital faz com que a presença das minhas amigas e dos meus amigos que faleceram esteja muito forte ainda".

Juciane ficou hospitalizada por 68 dias em função das queimaduras e de complicações respiratórias. Um ano depois, ela conta que a tragédia que deixou 242 vítimas ainda está muito viva na memória dos moradores de Santa Maria.
Cinco moradores da serra gaúcha perderam a vida na tragédia da boate Kiss. Uma passeata em homenagem às vítimas reuniu 50 pessoas no domingo (26), em Caxias do Sul. Nesta segunda-feira (27), outra caminhada será realizada em Farroupilha, a partir das 19h, com saída em frente ao prédio da prefeitura.

Entenda
O incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, na Região Central do Rio Grande do Sul, ocorreu na madrugada do dia 27 de janeiro de 2013. A tragédia matou 242 pessoas, sendo a maioria por asfixia, e deixou mais de 630 feridos.
O fogo teve início durante uma apresentação da banda Gurizada Fandangueira e se espalhou rapidamente pela casa noturna, localizada na Rua dos Andradas, 1.925.
O local tinha capacidade para 691 pessoas, mas a suspeita é que mais de 800 estivessem no interior do estabelecimento. Os principais fatores que contribuíram para a tragédia, segundo a polícia, são: o material empregado para isolamento acústico (espuma irregular), uso de sinalizador em ambiente fechado, saída única, indício de superlotação, falhas no extintor e exaustão de ar inadequada.
Ainda estão em andamento dois processos criminais contra oito réus, sendo quatro por homicídio doloso (quando há intenção de matar) e tentativa de homicídio, e os outros quatro por falso testemunho e fraude processual. Os trabalhos estão sendo conduzidos pelo juiz Ulysses Fonseca Louzada. Sete bombeiros também estão respondendo pelo incêndio na Justiça Militar. O número inicial era oito, mas um deles fez acordo e deixou de ser réu.
Entre as pessoas que respondem por homicídio doloso (com intenção), na modalidade de "dolo eventual", estão os sócios da boate Kiss, Elissandro Spohr (Kiko) e Mauro Hoffmann, além de dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira, o vocalista Marcelo de Jesus dos Santos e o funcionário Luciano Bonilha Leão. Os quatro chegaram a ser presos nos dias seguintes ao incêndio, mas a Justiça concedeu liberdade provisória aos quatro em maio do ano passado. Entre os bombeiros investigados, está Moisés da Silva Fuchs, que exerceu a função de comandante do 4° Comando Regional de Bombeiros (CRB) de Santa Maria.
Atualmente, a Justiça está em fase de recolher depoimentos dos sobreviventes da tragédia. O próximo passo será ouvir testemunhas. Os réus serão os últimos a falar sobre o incêndio ao juiz. Quando essa fase for finalizada, Louzada deverá fazer a pronúncia, que é considerada uma etapa intermediária do processo.
Se o magistrado "pronunciar" o réu, ele vai a júri (a pronúncia é a ordem para ir a júri). Outra possibilidade é a chamada desclassificação, quando o juiz não manda o réu para júri, mas reconhece que houve algum tipo de crime. Nesse caso, a causa será julgada sem júri. Também existe a chance de absolvição sumária dos réus. Em todas as hipóteses, cabe recurso.
No âmbito das investigações, três delas estão sendo conduzidas pela Polícia Civil. Além dos documentos sobre as licenças concedidas à boate Kiss, um inquérito apura as atividades da empresa Hidramix, responsável pela instalação de barras antipânico na boate, e outro analisa uma suposta fraude no documento de estudo de impacto na vizinhança do prédio onde ficava a casa noturna. O Ministério Público, por sua vez, investiga as responsabilidades de servidores municipais na tragédia.
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