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Cineastas brasileiros propõem uma reflexão sobre a evasão e o ensino

Globo News

 O desinteresse é o principal motivo que leva os jovens a abandonarem a escola na América Latina. É o que aponta um levantamento feito pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Preocupado com o alto índice de evasão escolar nesses país, o BID lançou em 2012 o projeto ‘Graduate XXI’, no qual dez cineastas latino-americanos saíram pelo continente em busca de histórias que ajudem a entender o fenômeno. Os curtas vão ser reunidos em um longa-metragem, com lançamento prevista para esse ano.

A cineasta brasileira Flávia Castro construiu um roteiro onde os próprios jovens participam do elenco. Ela conta as histórias de Arthur, um menino da periferia que adora estudar, e de Ingrid, uma adolescente que engravidou e quer voltar aos estudos. “O desinteresse é um tema difícil nesse contexto de evasão escolar, porque ele significa repensar também a escola que a gente quer e imagina para o futuro”, diz Flávia.

Encenar a própria história, com elementos de ficção, foi o desafio proposto por Eryk Rocha ao estudante Igor Botelho, de 17 anos, morador do Morro dos Prazeres, no Rio, que abandonou a escola aos 15. “Quem perde não é ele só. Quem perde é a própria escola, somos nós, o Brasil. E a história dele é a de milhares de jovens”, avalia o cineasta. Filho de Glauber Rocha, considerado o pai do cinema brasileiro moderno, Eryk morou sete anos em países da América Latina, como Colômbia, Cuba e Venezuela.

Educação documentada nas telas
Dois documentários dirigidos pelo paulistano Toni Venturi ajudam a conhecer projetos pioneiros que foram extintos pelo regime militar. Um deles, criado em 2006 para o Unicef, traça um perfil de Paulo Freire, pernambucano que aprendeu a ler debaixo de uma árvore no Recife e se tornou referência mundial com ideias que transformaram a prática educativa. O educador e sua equipe romperam as paredes da sala de aula e mostraram que a compreensão crítica é mais importante do que a repetição.

Depois desta obra, Venturi levou aos cinemas a experiência transformadora vivida por ele na adolescência. O documentário ‘Vocacional – uma aventura humana’, de 2011, reúne depoimentos e imagens do projeto criado em São Paulo no início da década de 60. “Um dos segredos do Vocacional foi fazer com que todo aquele conteúdo nos fizesse nos interessar em aprender, em adquirir o conhecimento”, relembra o cineasta.

Segundo Venturi, as experiências não podem ser adotadas como um modelo, mas servem de referência para pensar a educação. “A gente não pode reproduzir, que foi o que fizemos com a ditadura, o modelo vertical, no sentido da especialização. Você ter grandes físicos, engenheiros, pedagogos, advogados, mas que não enxergam além do seu meio corporativo. Claro que a educação tem que ser especializada, mas ela tem que pensar a sociedade”, aponta.

Novas experiências

O que é preciso mudar na escola para que surjam novas formas de aprendizagem? Em 2012, essa pergunta motivou o estudante de jornalismo Raul Perez e o engenheiro Antonio Sagrado. Com uma pequena câmera, eles percorreram o país em busca de experiências democráticas de ensino. A eles se juntaram o cineasta Anderson Lima e a produtora Anielle Guedes. O quarteto registrou o trabalho de dez escolas em Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte e Bahia.

Atualmente, eles finalizam o documentário ‘Quando sinto que já sei’ com a ajuda de um financiamento coletivo feito pela internet, que recolheu R$ 45 mil. “A estrutura física da sala, aulas de 50 minutos e os alunos sentados um atrás do outro são as primeiras coisas que essas escolas tentam quebrar. Elas entendem que todo espaço é espaço de educação”, explica Perez.

Segundo ele, as instituições de ensino não têm que ser todas iguais e a variedade permite aos pais escolher aquela à qual os filhos se adaptam melhor. “Essas escolas são mais do que uma avaliação, do que o aluno fazer uma prova e provar que sabe. Ele tem que sentir que sabe primeiro, porque é assim que a educação acontece. Eu posso decorar e botar em uma prova, mas não vou ter aprendido. Quando eu sinto que já sei é que eu aprendo. É aí que a educação acontece”, afirma.
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