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Comparativo: Audi A3 Sedan x Mercedes-Benz CLA 200

Auto Esporte

 Audi A3 Sedan e Mercedes CLA são iguais em quase tudo: nascem de novas plataformas globais (MQB e NGCC, respectivamente), têm motor turbo e câmbio automatizado de dupla embreagem e sete marchas, cortejam o mesmo jovem rico que almeja um sedã e acha que as opções premium são caretas demais e, embora tenham ascendência alemã, são produzidos na Hungria. Até o desembarque no Brasil, neste mês, coincide. Do preço em diante, começam as diferenças.

O A3 Sedan parte de R$ 116,4 mil, mas por pouco tempo: o valor é promocional, sem o reajuste do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), e executivos que tratam de cifras na Audi acreditam que vão segurar a “oferta” até março. O CLA tem causado polêmica pela etiqueta de R$ 150,5 mil, que tem uma explicação razoável: a Mercedes decidiu trazer primeiro a versão topo de linha porque não poderia, agora, importar o CLA de entrada e desencadear uma demanda que a fábrica de Kecskemet, por ora a única a manufaturar o modelo, não tem condições de suprir.

De tudo que a montadora consegue produzir, maior volume segue para EUA e Europa, onde o CLA é bom de vendas e realmente acessível. Logo, se a fatia destinada ao Brasil é pequena – serão 1.400 unidades ao longo de 2014, que ainda serão divididas entre os iminentes CLA 200 mais barato e o poderoso CLA 45 AMG – melhor então priorizar nessa cota inicial a versão mais cara, que além de não estimular filas de espera não cria expectativa por mais equipamentos.

O conteúdo de cada carro também diverge em vários momentos. Há uma esperada similaridade em alguns itens – como os sete airbags, sendo o sétimo para os joelhos do motorista; bancos em couro, direção elétrica, sistema start-stop, teto solar panorâmico e faróis bi-xenônio –, mas a lista de equipamentos do Audi é ligeiramente mais vantajosa: bancos do motorista com ajuste elétrico e ar-condicionado digital são duas ausências quase inexplicáveis num Mercedes de R$ 150 mil. E é preciso dizer que o sistema multimídia do A3 Sedan, embora seja um opcional de quase R$ 10 mil, é mais completo e avançado do que o do CLA, permitindo inclusive que endereços sejam “escritos” com o dedo, por meio da tecla central.

Estranhamente, nenhum dos dois traz sensor de estacionamento. “Se instalamos o sensor na fábrica, o cliente paga não só o valor do item, como mais imposto sobre o valor total do carro. Preferimos priorizar elementos que dão mais status ao carro, como faróis bi-xenônio, e dar ao cliente a opção de instalar o sensor na concessionária”, justifica o gerente executivo de vendas da Audi, Thiago Lemes. Melhor treinar bem a baliza, porque o sensor, que é traseiro e dianteiro, custa R$ 4 mil.
Visual
A3 Sedan e CLA conseguem dar outro sentido ao termo “sedã” e são tão ou mais atraentes que seus hatches equivalentes. As diretrizes visuais de cada marca, no entanto, levaram a resultados naturalmente distintos: enquanto a Audi arrisca (e muda) pouco a cada novo carro, a Mercedes provou ter versatilidade: a longa experiência em desenhar automóveis clássicos para clientes tradicionais não a impediu de criar seu carro mais ousado até aqui. E encarnar o estilo sedã com ares de cupê não o converteu numa miniatura do CLS sem personalidade. Dos faróis às lanternas, passando pelos para-choques e pelo próprio perfil da carroceria, praticamente não há linhas retas – mais fartas no rival. E as portas sem arcos são um tapa na cara de quem vê a marca inexoravelmente associada a cabelos brancos. Destaque para o coeficiente aerodinâmico de 0,23 cx, recorde para a marca.

O revide do A3 Sedan está na cabine. Se a Audi é repetitiva por fora, a Mercedes copia e cola lá dentro. Nada contra o belo painel de fácil leitura, e o acabamento interno só merece elogios, tanto pelos materiais usados (que transpiram requinte) quanto pelo encaixe (perfeito) esperado de um Mercedes. Mas o ambiente é muito parecido com o que vemos em outros carros da marca (Classe C, SLK ou até mesmo Classe E) há pelo menos quatro ou cinco anos. Talvez nem seja tanto tempo assim, mas para os embaixadores da nova fase da marca (isso também vale para Classe A e Classe B) um ambiente totalmente renovado seria mais condizente.

No Mercedes, de novidade, apenas a transferência da alavanca de câmbio para a coluna – que não pede mais do que algumas horas até que o condutor se acostume e não a confunda com o limpador do para-brisa, que fica do lado esquerdo –, a tela da central multimídia (polêmica por não ser rebatível) e os bancos dianteiros inteiriços, esses sim o ponto alto cabine, mais estilosos e confortáveis que os do A3.


As duas cabines são ambientes agradáveis, mas o Audi novamente leva vantagem pela arquitetura que privilegia a ergonomia, com comandos mais à mão e intuitivos. Na frente, o espaço é ótimo nos dois sedãs; atrás, apenas razoável – quem tiver mais de 1,80 m se incomodará pouco tempo após a partida.
Impressões

Ao volante, o A3 Sedan confirma a superioridade. Além de ter 24 cv a mais, é 135 kg mais leve, o que se reflete em acelerações mais decididas e consumo menor. Ambos foram experimentados em trechos rodoviário e urbano, mostrando comportamento até certo ponto semelhante. O empurro quando se pisa forte no acelerador é parecido, assim como o peso da direção e o ajuste da suspensão – há boa estabilidade nos dois carros.


Mas numa tocada mais compromissada, que pede mais envolvimento entre homem e máquina, o A3 Sedan se sobressai. Acelera mais forte, contorna curvas com mais precisão e sua direção dá respostas mais claras do que está acontecendo com os pneus – além do mais, passa a sensação de ser mais leve e obediente, sem ser anestesiado. Por fim, o câmbio automatizado de dupla embreagem, que atende por S-Tronic no Audi e DCT no Mercedes, se mostrou mais preciso no alemão das argolas – no da estrela, sente-se uma embreagem desacoplar para entrar a marcha seguinte em acelerações até o limite de giro.

Andando melhor, entregando mais equipamentos e custando menos (mesmo com o sensor de estacionamento e o sistema multimídia elevando seu preço para R$ 130.400), o A3 Sedan resiste aos encantos visuais do CLA – que faz jus ao slogan de lançamento, “O Mercedes que o seu pai talvez não dirigiria”, mas pede, pelo menos na primeira leva, uma ajuda do papai para juntar os R$ 150,5 mil.
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