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Aumento na renda contribuiu para elevar consumo de cocaína no Brasil, afirmam especialistas

R7

 Em menos de dez anos, o consumo de cocaína mais que dobrou no Brasil e já é quatro vezes superior à média mundial. De acordo com dados divulgados nesta semana pela ONU (Organização das Nações Unidas), em 2005, a entidade apontava que 0,7% da população entre 12 e 65 anos consumia a droga no País. Ao fim de 2011, a taxa chegou a 1,75%. O consumo brasileiro é bem superior à média mundial, de 0,4% da população.

De acordo com a psiquiatra e pesquisadora da Unifesp, Clarice Madruga, a melhora socioeconômica de um país está “sempre associada ao aumento de uso de psicotrópicos, como o álcool e drogas ilícitas”. Para ela, a proximidade geográfica também colabora para o aumento do consumo, já que o Brasil está próximo a “grandes produtores”.

— As Nações Unidas já havia mencionado em relatórios anteriores que os países emergentes da América Latina são os únicos onde o uso de cocaína e crack está aumentando, enquanto nos países de desenvolvidos o consumo dessas drogas está baixando e elas estão sendo substituídas por novas drogas sintéticas. O Brasil tem a cocaína e crack mais baratos do mundo.

Além do baixo custo, o especialista em dependência química e diretor terapêutico da clínica Grand House, Sergio Castillo, afirma que houve uma “banalização da droga” com falta de políticas públicas que freassem o consumo.

— Vários fatores contribuem para o crescimento vertiginoso. Hoje, há mais permissividade, especialmente em relação aos adolescentes. O Estado e o município também muitas vezes têm pontos de vistas diferentes em relação à causa, não sabem como lidar com o assunto. A polícia também faz vistas grossas para quem consome. Não temos uma política de saúde que consiga suprir a nossa saúde básica, muito menos uma especificidade dessas.

Para a psiquiatra da Unesp Florence Kerr-Corrêa, o aumento no consumo se explica por causa do início do refinamento da cocaína.

— Agora há produtos como crack que têm 40% de cocaína e outras substâncias tóxicas. A cocaína é usada basicamente nas Américas. Ela também é consumida na Europa, mas lá há muitos problemas com heroína. Além disso, ela é plantada nos países andinos e usada inclusive com liberdade. É o caso típico de uma substância que quando usada em graduação fraca não causa problema nenhum, como é usada pela população indígena, do Peru, Bolívia, em folhas.

Dados do II Lenad (Levantamento Nacional de Álcool e Drogas) realizado pela Unifesp mostram que as drogas mais usadas são o álcool e o tabaco. Quanto às ilícitas, a maconha vem em primeiro lugar com cerca de 3 milhões de usuários, que equivalem a 3% da população adulta. Em segundo lugar está a cocaína aspirada, com 2,3 milhões de usuários (2% da população adulta), e a cocaína fumada (crack), com prevalência de uso de 1% da população adulta (cerca de 1 milhão de pessoas).

Poder de destruição

De acordo com Castilla, a cocaína tem o poder de viciar mais rapidamente, já que sua “meia-vida” (tempo de duração do efeito no corpo) é baixo.

— A meia-vida da cocaína é de 40 minutos. Quanto menor esse tempo, maior a dependência da pessoa. Ou seja, logo a pessoa necessita usar novamente para ter o mesmo prazer.

O especialista em dependentes químicos ainda explica que a droga é “altamente tóxica” com grande poder de destruição do corpo, especialmente do sistema cognitivo.

— A cocaína acelera os batimentos cardíacos. O normal é entre 140 e 160 batimentos [por minuto], quem usa a droga vai a 180 e pode ter parada cardíaca. A pessoa também perde a fome e emagrece muito rápido. Há também problemas cognitivos, ou seja, prejudica a capacidade de memorização e aprendizado. Pessoas muito viciadas ficam com instintos animais.

Prevenção

Para a pesquisadora da Unifesp, a prevenção sempre “será a estratégia mais eficaz, com melhorias na educação e oferecimento de alternativas de lazer para o público jovem (atividades culturais e esportivas)”.

— A inclusão de protocolos de identificação de uso abusivo no sistema básico de saúde também são eficazes.
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