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Mulas são usadas para travessia em trilha que leva a ilha isolada no Havaí
G1
O Globo Repórter desembarcou no Havaí em pleno inverno. É quando o vento está mais forte, o mar mais agitado e as ondas, gigantes, perfeitas para os surfistas.
O surfe é o esporte mais popular do Havaí. E a praia de Pipeline, na costa norte da ilha de Oahu, a Meca para atletas do mundo todo.
No Havaí, a natureza construiu um parque de diversões ao ar livre. E o destino do programa agora é a ilha de Molokai.
Do alto da montanha, é possível avistar o Parque Nacional de Kalaupapa. A reserva protege a bela península e preserva uma das mais tristes histórias do Havaí, escrita com dor, segregação e morte.
É para lá que a equipe do programa vai e de uma maneira no mínimo inusitada: de mula. Descer o penhasco no lombo de mulas é uma das atrações turísticas mais disputadas em Molokai.
É preciso agendar com dias de antecedência. A trilha leva a uma comunidade que antigamente abrigava pessoas com Mal de Hansen, que antes era chamado popularmente de ‘lepra’. Hoje, ela ainda é mantida para passeios. Na comunidade ainda existem remanescente do período em que eles eram relegados a um total isolamento.
O passeio não exige grandes habilidades. A trilha é muito apertada. Espaço para uma mula de cada vez. De um lado, o rochedo. Do outro, um vertiginoso precipício que, no início da descida, passa dos 600 metros de altura.
Impossível não sentir um friozinho na barriga. A paisagem é maravilhosa, mas dá medo.
São 26 curvas, que vão sendo vencidas lentamente, os cascos buscando um ponto de apoio entre as pedras. Em alguns trechos, parece que as mulas vão empacar.
A cavalgada de cinco quilômetros dura menos de duas horas. Mais do que suficiente para causar desconforto em quem não está acostumado com montarias.
Dali em diante, a equipe segue de ônibus. A vila de Kalaupapa tem poucas construções. Tudo o que os moradores precisam - comida, material de construção, carros - chega pelo mar. E, tirando os alimentos, o desembarque só é feito uma vez por ano.
As águas agitadas e os rochedos dificultam a navegação. O que fez de Kalaupapa o lugar ideal para isolar os que tinham ‘Mal de Hansen’, em meados do século XIX.
Naquela época, não havia tratamento para a doença, que era contagiosa. Muitos doentes eram levados para lá. Iam em barcos e, quando chegavam lá, os que se recusavam a descer do barco eram jogados ao mar. Só sobrevivia quem conseguia nadar até a praia. Este passado trágico também tem episódios de heroísmo e de compaixão.
Duas pessoas foram fundamentais para os doentes que viviam em Kalaupapa: o padre Damien e a madre Mariane Cope. Os dois dedicaram parte da vida a fazer caridade no leprosário, onde morreram. E hoje são considerados santos pela Igreja Católica.
Hora de voltar novamente de mula, pela mesma trilha. Elas são tão bem treinadas que encontram o caminho sozinhas. Quem começou a treiná-las, 40 anos atrás, foi Buzzy Sproat. Ele parece um personagem do velho oeste americano.
E, como um bom cowboy, fez a primeira descida de mula porque foi desafiado. O dono de uma empresa que alugava mulas não acreditava que alguém pudesse descer a trilha do penhasco cavalgando.
Anos depois, Buzzy acabou virando dono do negócio. E seguiu treinando as mulas, como se fossem animais de estimação.