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Ditadura militar foi um atraso na democracia, afirma o ex-preso político e deputado Gilney Viana

De Brasília - Vinícius Tavares

O coordenador do Grupo de Memória da Secretaria de Direitos Humanos da presidência da República, Gilney Viana, ex- deputado estadual pelo PT na Assembleia legislativa de Mato Grosso, na década de 90, classifica como um atraso na democracia o episódio do Golpe Militar deflagrado no dia 31 de março de 1964 e que completa 50 anos nesta segunda-feira. Segundo ele, a tomada pelo poder por parte dos militares foi um fato importante na história do país, mas do ponto de vista negativo.

“Foi um atraso na democracia brasileira. Do ponto de vista das conquistas imateriais, os valores para democracia, foi uma perda muito grande. O golpe cortou uma trajetória que estava em curso de mudanças sociais, políticas, de eleições. Tem gente que esquece isso”, afirmou em entrevista ao Olhar Direto.

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Para Gilney Viana, que integra a Comissão da Verdade, o resgate histórico é importante para mostrar às novas gerações fatos marcantes da nossa democracia.

“Tem uma geração que não viveu o golpe e não viveu a ditadura. Então é preciso a gente rememorar porque foram anos muito difíceis para a vida nacional. Restrições aos direitos e à liberdade civil. Eu diria que a gente está relembrando para não repetir”, acrescentou o ex-preso político.

Gilney Viana foi preso aos 18 no dia 30 de abril de 1964 após ficar quase um mês foragido da polícia em Belo Horizonte, onde vivia. Aos 68 anos, ele lembra detalhes do dia do golpe e do ambiente de tensão por causa do envolvimento das forças armadas contrárias ao governo do então presidente João Goulart, deposto pelo golpe.

“Tinha 18 anos, já era militante desde os 16 e trabalhava num banco. Eu morava perto do quartel chamado ID 4, que era o quartel do Exército lá. Eu já observava as manifestações antes do dia 30. No dia 30 eles já tinham fechado as ruas. Então existia uma expectativa de golpe. Então quando as tropas marchavam em direção ao Rio de Janeiro, eu já não fui ao colégio e nem ao trabalho, eu era bancário. Eu soube que o Exército tinha isso prender vários companheiros. Quando voltei ao trabalho fui preso e fiquei 16 dias preso, mais uns dias em prisão domiciliar”, revelou.

Questionado sobre torturas recebidas, disse que nesta época o que ocorreria eram torturas psicológicas, bem diferente do período iniciado na década de 1970, quando mortes e desaparecimentos ficaram mais comuns e a violência do Estado fez suas principais vítimas.

“Ameaçaram com fuzil. Em Belo Horizonte a tortura era seletiva. Nos pressionavam e nos intimidavam. Para um garoto de 18 anos, era uma pressão tremenda. Não era nem um pouco comparado com a tortura que passei quando fui preso em 1970, pelo Doi-Codi, pelo Exército e a tortura era sistemática, sofisticada. Passei 38 dias sob tortura”, recorda ao lembrar ter sido libertado em dezembro de 1979 após quase dez anos de cativeiro.

Memória viva
O Departamento de Memória da SDH coordenado por ele desenvolve uma série de atividades para resgatar e preservar a história do país. O grupo apoia organizações não governamentais que buscam preservar a história e recuperar do esquecimento o nome, a história e as lutas de brasileiros que lutaram contra a ditadura.

“Fizemos um bom trabalho de busca da verdade, como a exumação do presidente João Goulart, dos companheiros que foram violentamente mortos, fizemos um trabalho pela sua identificação, de buscas na Guerrilha do Araguaia. Temos uma série de trabalhos que contribuem para este processo e que a verdade se restabeleça”, esclareceu.
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