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Golpe seria em abril, mas 'afoiteza' de general precipitou, diz historiador

G1

 O início da movimentação das tropas do general Olímpio Mourão Filho em 31 de março precipitou e tornou irreversível o golpe militar de 1964, segundo Ronaldo Costa Couto, autor de "História Indiscreta da Ditadura e da Abertura – 1964-1985".

Além de historiador, jornalista, escritor e professor, Costa Couto conheceu o poder por dentro – no governo José Sarney, primeiro presidente civil após a era militar (1964-1985), foi ministro do Interior, do Trabalho e chefe do Gabinete Civil da Presidência.

Para Costa Couto, o golpe poderia até não ter ocorrido, não fosse a ação de Mourão Filho, inconformado com o discurso que o presidente João Goulart proferiu no dia anterior para sargentos no Automóvel Clube, no Rio de Janeiro, no qual defendeu as chamadas "reformas de base" e atacou adversários do governo.
Como reação ao discurso de Jango, Mourão Filho deu início ao golpe durante a madrugada ao colocar em movimento suas tropas de Juiz de Fora (MG) em direção ao Palácio das Laranjeiras, no Rio, onde estava o presidente.

"O golpe militar não estava previsto para 31 de março. Estava previsto, segundo as minhas pesquisas, para meados de abril. Na verdade, o açodamento do general Mourão, a afoiteza do general Mourão – que ia passar à reserva no dia 9 de abril – é que acendeu o estopim e tornou o golpe irreversível. Há quem diga até que, sem a pressa do general Mourão, as forças de conciliação teriam se mobilizado, os algodões teriam sido colocados entre os cristais e não teria havido golpe", afirmou Costa Couto.

O historiador relata que, no dia 31, quando as tropas de Mourão já se dirigiam ao Rio, o ex-presidente Juscelino Kubtscheck tentou insistentemente falar com João Goulart por telefone desde a manhã, mas não conseguia. À tarde, JK foi recebido por Jango no quarto do presidente, no Palácio das Laranjeiras.

"JK se senta em uma cama e Jango na outra. E JK faz um apelo a Jango: 'Jango, você tem de mudar seu posicionamento ou você vai cair'. Jango diz que não, que não pode voltar atrás. Juscelino diz: 'Você deve fazê-lo, você deve fazer um manifesto à Nação condenando o comunismo; deve anunciar um novo ministério, de perfil mais conservador que o atual; deve anunciar perdão prévio aos militares sublevados e deve também punir os marinheiros de desafiaram a autoridade do ministro da Marinha, Silvio Mota' – Silvio Mota havia saído porque sentiu sua autoridade ferida. O Jango disse: 'Eu não tenho condições de fazer isso'."

Lula
Costa Couto também conta a história de uma entrevista que fez com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 1997, para o livro "História Indiscreta da Ditadura e da Abertura". Segundo o historiador, Lula disse que, à época do golpe ele, então com 18 anos, e a família avaliavam que a presença dos militares no governo seria positiva. "Achávamos que o Exército ia arrumar o Brasil", afirmou Lula, segundo o relato de Costa Couto.

A leitura que o ex-presidente tinha na época era de um país em que a força da indústria automobilística abria muitas oportunidades de emprego para os metalúrgicos. Além disso, de acordo com o historiador, o ex-presidente ressalvou que na época o nível de consciência política era bem menor. Médici governou o país entre 1969 e 1974. Anos depois, Lula lideraria um dos braços da resistência política no país, com a organização sindical dos metalúrgicos do ABC.
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