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Jornalista policial lança livro com detalhes dos crimes mais conhecidos de Brasília, como 'Anões do Orçamento' e Pedrinho

R7

 Casos de polícia emblemáticos e que marcaram a história de Brasília, como o escândalo dos 'Anões do Orçamento', a fuga espetacular de Marcelo Bauher, condenado pela morte da namorada, o sequestro de Cleucizinha, filha do então senador Luiz Estevão, e o sequestro de Pedrinho, levado da maternidade de um hospital particular de Brasília em 1986 por Vilma Martins estão reunidos no livro Não existe crime perfeito, do jornalista policial Marcos Linhares.

A obra, que está na segunda edição, conta, ao todo, 14 casos emblemáticos, narrados com detalhes inéditos pelo ex-diretor geral da PCDF (Polícia Civil do DF), Laerte Bessa, delegados e agentes que participaram direta ou indiretamente de cada uma das investigações.

No livro, Linhares usa como "fio condutor" o caso dos Anões do Orçamento, que inicia e fecha as 320 páginas da obra literária.Em entrevista ao R7, Linhares contou que produziu uma obra com personagens e histórias reais, mas que de tão incríveis parecem ficção.

— São histórias independentes, que começam e terminam, mas no meio disso tudo retomo ao caso dos Anões do Orçamento em função de toda a complexidade e desdobramentos. Por isso, todo o livro faz sentido. Tentei ser o mais didático possível e escrevi como se fosse um roteiro de cinema para o leitor ter vontade e curiosidade de continuar lendo. Aliás, as histórias realmente parecem ser de cinema.

Com documentos, fotos e áudios inéditos ele começou o livro em 2008 e o revisou, por completo, 22 vezes, até ser lançado oficialmente em 2013. A ideia inicial era produzir uma biografia de Laerte Bessa, que esteve por trás de boa parte desses casos, mas os planos mudaram após uma conversa.

— Eu disse que queria contar as histórias que mais chocaram o Distrito Federal. Não queria o que estava nos inquéritos policiais, processos judiciais e nem o que foi publicado na imprensa. Queria detalhes inéditos, coisas que nunca foram mostradas. Acertos e erros, situações tristes e engraçadas. Queria mostrar os bastidores dos trabalhos investigativos e as estratégias adotadas pela polícia para cada caso ser elucidado.

No caso dos 'Anões do Orçamento', por exemplo, Linhares destacou que ao ser preso pela primeira vez por corrupção José Carlos chegou a assinar a liberação do orçamento do Senado de algemas e sob escolta policial porque, na época, era a "única pessoa a saber fazer isso". Além disso, de acordo com depoimentos dos próprios agentes envolvidos nas investigações, ele matou a mulher, Ana Elizabeth Lofrano, a sangue frio e enterrou o corpo dela para ficar com a amante.

— O que se sabe hoje é que ele matou a mulher com medo de que ela o denunciasse pelos crimes que cometia, mas a história não é bem essa. Ele a matou porque queria ficar com a amante, que inclusive o traiu, mas temia que Elizabeth não aceitasse o divórcio e isso fosse prejudicá-lo de alguma forma.

Todos esses situações, de acordo com o jornalista policial, fizeram parte do cotidiano de Laerte Bessa, que desarquivou todos os casos assim que assumiu a direção da Polícia Civil no fim da década de 90. Para ele, ficou claro com essa experiência que, de fato, "não há crime perfeito".

— Os bandidos são inteligentes e podem fazer de tudo para ficar impunes. Pode levar anos, talvez décadas, mas um dia a polícia acaba descobrindo tudo e punindo os responsáveis.

O livro já serviu de base para o roteiro de um dos capítulos da série "Até que a morte nos Separe”, do canal americano Arts & Entertainment. A primeira edição foi finalista do prêmio International Latino Book Awards 2013, em Nova Iorque, na categoria melhor livro de não-ficção em Língua Portuguesa, mas esgotou em pouco tempo. A segunda chega às livrarias em março de 2014 com atualização de alguns casos que tiveram novos desfechos, como a prisão do economista e ex-chefe da assessoria de orçamento do Senado Federal, José Carlos Alves dos Santos, delator do esquema que ficou conhecido nacionalmente como "Anões do Orçamento", em 1993.

Sucesso

O antropólogo, cientista político e especialista em segurança pública Luiz Eduardo Soares, co-autor dos best-sellers Elite da Tropa e Elite da Tropa 2, disse que as histórias policiais reais seduzem e aguçam a curiosidade das pessoas. Para ele, crimes e violência provocam sentimentos opostos, como repugnância e encantamento, que mobilizam as pessoas de alguma forma.

— O bem e o mal não estão separados em pólos opostos. Estão misturados e dentro de nós. As histórias policiais quando são reais nos seduzem e perturbam ainda mais. A leitura desse livro perturba algumas certezas apaziguadoras, emociona e desvenda os bastidores de investigações desafiadoras.
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