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Estudante faz cosplay para vender doces e pagar cursinho de R$ 3,5 mil

G1

 Uma receita de família aliada ao apreço por personagens de desenhos japoneses inspiraram a estudante Gabrielle Rosa Thomazi, de 17 anos, a criar um jeito inusitado de custear, até junho, um curso pré-vestibular avaliado em R$ 3,5 mil. Para atingir o sonho de ser aprovada no processo e cursar medicina veterinária pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), ela faz cosplay - representação de um personagem a caráter - durante três dias da semana e vende brigadeiros por ruas de Valinhos (SP), cidade do interior do estado de São Paulo.

O marketing criado pela garota dispensa inibições, mas também exige paciência até que a cesta decorada com flores e 50 doces seja esvaziada. O figurino inclui peruca cor de rosa, roupa inspirada no personagem "Suzumia Harushi" e salto alto, apesar da caminhada com tempo mínimo de duas horas por calçadas irregulares no período da tarde. "Sempre gostei da roupa e queria um jeito de vender rápido. Alguns acham bonito, engraçado, para outros é estranho. No começo, morria de vergonha", brinca a garota que já vai produzida de casa à rodoviária da cidade.

Ela já conseguiu R$ 1,5 mil ao emplacar a promoção "três por R$ 5" e negociar com um bar que faz revenda dos produtos. "Tem dias em que só uma pessoa em cada dez compra", diz a estudante. O tempo para obter a outra parte do dinheiro, explica Gabrielle, refere-se ao prazo final para a matrícula no cursinho intensivo, onde espera desconto. "Quero medicina veterinária desde os meus 6 anos, quando ganhei o primeiro cachorro", conta ao reativar lembranças da época.

A escolha pela universidade, que tem campus em Botucatu (SP), ocorreu porque uma irmã fez engenharia civil pela instituição e por causa da avaliação de professores. "Não teria como pagar uma faculdade particular e na USP [Universidade de São Paulo] é mais disputado", explica. A Unesp registrou, no vestibular 2014, concorrência de 28,9 candidatos por vaga - no total, há 60 oportunidades.
Independência e louça suja

A estudante Gabrielle Thomazi conta que o trabalho começou, de fato, em novembro do ano passado, quando decidiu ajudar uma amiga do ensino médio a pagar R$ 600 para a festa de formatura. A ideia de vender algo para faturar, segundo a jovem, surgiu a partir de vídeos disponíveis na internet, enquanto que a escolha do produto foi influenciada por experiências da infância. "A receita é da minha mãe, a mesma dos brigadeiros que levava para as festinhas na escola", explica. No início de 2014, ela conseguia o dobro de vendas com o auxílio de uma amiga.

A mãe da garota, Fernanda Regina Furtado, de 44 anos, admite que ficou preocupada no início, mas orgulha-se ao falar que a filha é independente e preocupa-se em ajudar a família. "Puxão de orelha", acompanhado de sorriso, ocorre ao falar sobre a travessura na cozinha.
"Além de brigadeiro, ela fez muito bem doces e bolo. Só a louça suja que fica, não tem jeito", reclama com graça enquanto olha para a filha, que responde tímida. "O trabalho precisa ser em conjunto", completa.
'Doce duas vezes'

Ao ser abordada pela oferta "Gostaria de comprar um brigadeiro hoje?" em frente ao Largo São Sebastião, a advogada Anna Maria Monteiro de Carvalho, de 70 anos, não titubeia em aceitar. Experimenta o doce que vai acompanhado de um lacinho e colher. "Eu gostei muito da ideia, achei original. Chama a atenção sem ser agressiva... Doce duas vezes", elogia em tom de admiração.

A gerente de loja Adriana Napoli, de 40 anos, admite em tom de brincadeira que passou a comprar após "provar" os doces comprados por funcionárias da loja. "É importante, está batalhando pelo estudo dela", ressaltou a cliente.
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